De Mário Beirão, poeta da Pátria
"(...)
- Oh Pátria! Terra eleita da Beleza!
Não mais a turbação dessa tristeza,
Não mais essa miséria denegrida,
Esse cerrar de pálpebras à Vida,
Não mais a Cruz, o lívido cansaço,
Os Espinhos, o Fel, a noite do Horto,
Esse ar de quem se aparta, esse ar absorto,
Essa agonia a escurecer o Espaço!
Pátria, volve a ti mesma, à tua essência:
O sol, que surge, a claridade apura;
Findou a penitência...
E, entre o alvoroço de celestes hinos,
Tanger de liras e tanger de sinos,
Canta, na mística embriaguez da altura!
Canta, liberta flor, a tua graça,
Num timbre alegre de cristal sem jaça,
No incendido fervor
Desse coro de preces que se enlaça
Ao trono do Senhor!"
"(...)
Quis Deus que eu fosse o eleito que anunciasse
Ao lusitano Povo uma outra aurora!
(Clarões de assombro batem-me na face;
Liberta, brilha esta alma pecadora!)
E o perfume da Pátria me inebria;
Evola-se não sei de que roseira...
Seja o pregão da minha altanaria
O verbo novo,
Que, sobre a terra inteira,
Celebre a luz da redenção dum povo!"
(in Novas Estrelas, 1940).
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