quarta-feira, fevereiro 08, 2006

A escola e a política

Penso que, aquela corrente a que geralmente chamamos Esquerda ou Extrema-Esquerda, teve o mérito de ter sido a primeira a tomar consciência da realidade estrutural da inter-conexão de todos os sectores da mente e da activi­dade e, consequentemente, da realidade da impregnação ideológica destes sectores. A chamada Direita, pelo con­trário, conservou-se durante bastante tempo, prisioneira da ideia ilusória de que havia sectores «neutros» - ou (de um modo ligeiramente diferente) de que era possível voltar à situação anterior, na qual um consenso implícito era alcan­çável nestes sectores. Temos em França um bom exemplo dessa diferença de atitudes no campo da educação. Enquanto a extrema-esquerda se vai apossando de um importante número de posições-chave na educação secun­dária e universitária, a direita nada mais faz do que lastimar a «politização da escola», que aparece de facto como irreversível (e que está hoje especialmente aberta ao criti­cismo porque é unilateral).
Aquilo que, no debate intelectual, fez a superioridade metodológica do esquerdista, foi ele ter sabido (e continuar a saber) o que cada um tem que pensar, do seu ponto de vista, em tópicos que são, à primeira vista, tão diferentes como as relações de produção na Idade Média, a pintura abstracta, a invenção do cinema, o «Design» de «Mass Housing», a genética molecular ou a teoria «Quantum» (ou pelo menos ele sabia que neste, como em qualquer outro tópico, a doutrina que ele tinha como sua, tinha uma pala­vra a dizer). A Direita pelo contrário não entendeu que não havia «verdades da ala direita» e «verdades da ala esquerda», mas sim, caminhos de direita e de esquerda (para mais uma vez utilizar expressões convencionais) com o fim de calcular os factos admitidos, adquiridos pela mudança de conheci­mento, organizando-os, colocando-os numa perspectiva particular que lhes dará igualmente um significado par­ticular.
E é provavelmente a razão porque a esquerda e extrema­-esquerda acertaram sempre, mais sistematicamente na teorização, na formalização do seu «Approach» epistemo­lógico e doutrinário, na criação de um corpus ideológico, útil para ser usado como referência em discussões posteriores.
Quer isto dizer que não há «ideologia da ala direita»?
Claro que não. Mas em muitos casos, poderíamos afirmar que esta ideologia apenas existe por dentro, de uma maneira implícita. A direita ignora muitas vezes as suas potencia­lidades; muito raramente teve noção de todas as implicações das suas próprias aspirações. A sua «mensagem» está pre­sente mas não explícita. Todo o trabalho, agora, consiste em trazê-la à superfície. Neste ponto, chamar um doutor Freud ... é tentador.
Considerando estes diferentes «Data» (dados), como se esclarece e desenvolve a noção de poder cultural? Penso que a melhor resposta para esta questão é referirmo-nos à obra do homem que, nos nossos dias, foi o seu primeiro teorizador: o italiano marxista e comunista António Gramsci.