O papel dos intelectuais
Paralelamente à «obra do partido», que é uma obra concretamente política, Gramsci propõe a realização de uma «obra cultural», para substituir por uma «hegemonia cultural proletária» a «hegemonia burguesa». Tal tarefa é essencial para se obter a mentalidade da época (isto é, um resumo da sua razão e da sua sensibilidade) em harmonia com a mensagem política que se quer inserir nela.
Por outras palavras, para obter a maioria política a longo prazo, tem que se obter primeiro a maioria ideológica, porque será apenas no momento em que valores diferentes dos existentes ganharem a sociedade activa, que a sociedade começará a vacilar nos seus fundamentos e o seu poder efectivo começar-se-á a desintegrar. Será possível, então, tirar politicamente proveito da situação: a acção histórica ou o sufrágio popular confirmarão - ao nível das instituições e do sistema de governo - uma evolução já adquirida nas mentalidades.
Deste modo, Gramsci concebe uma função precisa aos intelectuais, induzindo-os a «ganhar a guerra cultural»; aqui, o intelectual é definido pelo modo como reage em relação a um dado tipo de sociedade e de produção. Gramsci escreve: «cada grupo social, nascido no terreno específico de uma função essencial, no mundo da produção económica, cria em simultâneo, organicamente, um ou vários estratos de intelectuais que lhe dão a homogeneidade e consciência da sua própria função, não só no campo económico, mas também nos campos social e político» (“Os Intelectuais e a Organização da Cultura”). Desta maneira, Gramsci estabelece outra distinção entre os intelectuais orgânicos, que asseguram a coesão ideológica de um sistema ou de um grupo social, e os intelectuais tradicionais que representam o antigo estrato social que sobreviveu às transformações dos modos de produção. É ao nível do que ele chama «intelectuais orgânicos» que Gramsci recria o sujeito da história e da política - «o Nós organizador dos outros grupos sociais» (para usar as palavras de Henri Lefèbvre - «La Fin de I'Histoire», Minuit, 1970). Isto significa que o sujeito da história não é já o Príncipe, nem o Estado, nem sequer o Partido, mas sim a vanguarda intelectual ligada à classe trabalhadora (ou, pelo menos, suposta de estar ligada a ela). Gramsci defende que o seu dever é cumprir uma «função de classe», sendo o porta-voz dos grupos representados nas forças de produção, fazendo um lento «trabalho de formiga branca» (o qual evoca a revolucionária «velha bruxa» de Marx).
Finalmente deve dar ao “proletariado” a «homogeneidade ideológica» e a «auto-consciência» necessárias para assumir a sua hegemonia - um conceito que, em Gramsci, supõe e prolonga o conceito de «Ditadura do Proletariado» tanto quanto ele ultrapassa a Política para incluir a matéria cultural.
Assim, Gramsci detalha todos os meios que considera significativos na «persuasão permanente»: o apelo à sensibilidade popular, a inversão dos valores normativos, a criação de «heróis socialistas», o teatro, o folclore, a promoção de canções e por aí adiante. Para a definição destes meios, inspira-se na experiência inicial do Fascismo italiano e dos seus primeiros sucessos. O Comunismo, diz, deve, de facto, ter em conta a experiência soviética, sem contudo tentar seguir o seu exemplo passivamente; pelo contrário, deve ter em conta, para a definição de um contra-poder cultural, a especificidade das problemáticas nacionais e caracteres populares específicos. A acção histórica e popular não deve negligenciar a diversidade das sociedades nem deixar de ter em conta o temperamento, mentalidades, herança histórica, cultura, tradições, ou relações de classe - o que inclui também, obviamente, os seus aspectos ideológicos.
Gramsci - e lembremo-nos que ele escrevia nos anos 30 - sabe perfeitamente que o «Post-fascismo» não será socialista, mas crê que esse período, quando o liberalismo reinar (outra vez), será uma excelente ocasião para praticar a subversão cultural, pois os partidários do Socialismo e Marxismo encontrar-se-ão então numa óptima posição de comando moral. Desta «viragem democrática», Gramsci é de opinião que se erguerá um bloco histórico, sob a supervisão da «classe trabalhadora», enquanto os «intelectuais tradicionais», pouco a pouco marginalizados, serão finalmente ou integrados ou derrubados. (Por "bloco histórico», noção baseada no estudo da situação no Mezzogiorno, entende Gramsci um sistema de alianças políticas associando infraestruturas e superestruturas centradas à volta do proletariado, mas sem se identificarem com ele e baseado na «História » no sentido marxista, isto é, nas relações de classe e lutas no interior da sociedade.
Por outras palavras, para obter a maioria política a longo prazo, tem que se obter primeiro a maioria ideológica, porque será apenas no momento em que valores diferentes dos existentes ganharem a sociedade activa, que a sociedade começará a vacilar nos seus fundamentos e o seu poder efectivo começar-se-á a desintegrar. Será possível, então, tirar politicamente proveito da situação: a acção histórica ou o sufrágio popular confirmarão - ao nível das instituições e do sistema de governo - uma evolução já adquirida nas mentalidades.
Deste modo, Gramsci concebe uma função precisa aos intelectuais, induzindo-os a «ganhar a guerra cultural»; aqui, o intelectual é definido pelo modo como reage em relação a um dado tipo de sociedade e de produção. Gramsci escreve: «cada grupo social, nascido no terreno específico de uma função essencial, no mundo da produção económica, cria em simultâneo, organicamente, um ou vários estratos de intelectuais que lhe dão a homogeneidade e consciência da sua própria função, não só no campo económico, mas também nos campos social e político» (“Os Intelectuais e a Organização da Cultura”). Desta maneira, Gramsci estabelece outra distinção entre os intelectuais orgânicos, que asseguram a coesão ideológica de um sistema ou de um grupo social, e os intelectuais tradicionais que representam o antigo estrato social que sobreviveu às transformações dos modos de produção. É ao nível do que ele chama «intelectuais orgânicos» que Gramsci recria o sujeito da história e da política - «o Nós organizador dos outros grupos sociais» (para usar as palavras de Henri Lefèbvre - «La Fin de I'Histoire», Minuit, 1970). Isto significa que o sujeito da história não é já o Príncipe, nem o Estado, nem sequer o Partido, mas sim a vanguarda intelectual ligada à classe trabalhadora (ou, pelo menos, suposta de estar ligada a ela). Gramsci defende que o seu dever é cumprir uma «função de classe», sendo o porta-voz dos grupos representados nas forças de produção, fazendo um lento «trabalho de formiga branca» (o qual evoca a revolucionária «velha bruxa» de Marx).
Finalmente deve dar ao “proletariado” a «homogeneidade ideológica» e a «auto-consciência» necessárias para assumir a sua hegemonia - um conceito que, em Gramsci, supõe e prolonga o conceito de «Ditadura do Proletariado» tanto quanto ele ultrapassa a Política para incluir a matéria cultural.
Assim, Gramsci detalha todos os meios que considera significativos na «persuasão permanente»: o apelo à sensibilidade popular, a inversão dos valores normativos, a criação de «heróis socialistas», o teatro, o folclore, a promoção de canções e por aí adiante. Para a definição destes meios, inspira-se na experiência inicial do Fascismo italiano e dos seus primeiros sucessos. O Comunismo, diz, deve, de facto, ter em conta a experiência soviética, sem contudo tentar seguir o seu exemplo passivamente; pelo contrário, deve ter em conta, para a definição de um contra-poder cultural, a especificidade das problemáticas nacionais e caracteres populares específicos. A acção histórica e popular não deve negligenciar a diversidade das sociedades nem deixar de ter em conta o temperamento, mentalidades, herança histórica, cultura, tradições, ou relações de classe - o que inclui também, obviamente, os seus aspectos ideológicos.
Gramsci - e lembremo-nos que ele escrevia nos anos 30 - sabe perfeitamente que o «Post-fascismo» não será socialista, mas crê que esse período, quando o liberalismo reinar (outra vez), será uma excelente ocasião para praticar a subversão cultural, pois os partidários do Socialismo e Marxismo encontrar-se-ão então numa óptima posição de comando moral. Desta «viragem democrática», Gramsci é de opinião que se erguerá um bloco histórico, sob a supervisão da «classe trabalhadora», enquanto os «intelectuais tradicionais», pouco a pouco marginalizados, serão finalmente ou integrados ou derrubados. (Por "bloco histórico», noção baseada no estudo da situação no Mezzogiorno, entende Gramsci um sistema de alianças políticas associando infraestruturas e superestruturas centradas à volta do proletariado, mas sem se identificarem com ele e baseado na «História » no sentido marxista, isto é, nas relações de classe e lutas no interior da sociedade.
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