O poder cultural
Quando se procura caracterizar o debate político e ideológico que, neste momento, tem lugar nos países ocidentais, a palavra que mais espontaneamente nos vem à cabeça é a palavra «totalidade».
Estamos perante um debate total. Com isto pretendo significar não um debate de natureza ou pensamento totalitários, mas um debate que, cada vez mais, se remete indistintamente para campos directa e especificamente considerados como «políticos», assim como para campos considerados anteriormente «neutros». O facto é que, há alguns anos, as diferentes facções, os diferentes partidos, argumentavam essencialmente sobre tópicos directamente políticos, tais como as instituições, o tipo de governo, o sistema económico, considerados mais directamente relacionados com a moral ou possuindo um maior grau de predominância na condução das sociedades, etc. Entretanto existia um consenso tácito sobre as estruturas fundamentais e mais elementares: a instituição da família era então muito raramente questionada e não havia também discussão sobre a utilidade da educação, da medicina, da psiquiatria, etc. Finalmente era considerado que um acordo podia e devia ser facilmente atingido com base em factos científicos, ou seja, nas verdades dos factos obtida através da dedução lógica ou pela prática do método experimental.
Esta situação mudou, hoje, totalmente e as sociedades modernas encontram-se face a uma contestação, a qual, não só desafia este ou aquele tipo de poder ou governo, mas ataca as próprias estruturas da sociedade, o que denuncia a sua «evidência» como um «acordo», a qual sustenta sistematicamente, com sucesso, que não há diferenças entre o homem e a mulher, que não há justificação para a autoridade dos pais sobre os seus filhos, que os doentes mentais são pessoais normais e que, por outro lado, são as pessoas normais que estão loucas, que a prática da medicina torna as pessoas doentes mais vezes do que as cura e que a realidade dos factos científicos não deve ser avaliada mediante o seu grau de verdade mas pela sua concordância relativamente às ideologias em voga. Em tais condições, a própria noção de política encontra-se consideravelmente transformada. Diz-se muito que «a política invadiu tudo»; eu diria antes que os sectores de actividade humana, de natureza não directamente política, adquiriram uma nova dimensão, no sentido de terem perdido a «neutralidade» a eles atribuída no que se refere à vida política. E acrescentaria que isto é particularmente verdade nos sectores da actividade cultural e tentarei mostrar (ao longo deste breve trabalho) como se formou, além do poder político, um poder para o qual eu sugiro o nome de «poder metapolítico» ou «poder cultural».
Estamos perante um debate total. Com isto pretendo significar não um debate de natureza ou pensamento totalitários, mas um debate que, cada vez mais, se remete indistintamente para campos directa e especificamente considerados como «políticos», assim como para campos considerados anteriormente «neutros». O facto é que, há alguns anos, as diferentes facções, os diferentes partidos, argumentavam essencialmente sobre tópicos directamente políticos, tais como as instituições, o tipo de governo, o sistema económico, considerados mais directamente relacionados com a moral ou possuindo um maior grau de predominância na condução das sociedades, etc. Entretanto existia um consenso tácito sobre as estruturas fundamentais e mais elementares: a instituição da família era então muito raramente questionada e não havia também discussão sobre a utilidade da educação, da medicina, da psiquiatria, etc. Finalmente era considerado que um acordo podia e devia ser facilmente atingido com base em factos científicos, ou seja, nas verdades dos factos obtida através da dedução lógica ou pela prática do método experimental.
Esta situação mudou, hoje, totalmente e as sociedades modernas encontram-se face a uma contestação, a qual, não só desafia este ou aquele tipo de poder ou governo, mas ataca as próprias estruturas da sociedade, o que denuncia a sua «evidência» como um «acordo», a qual sustenta sistematicamente, com sucesso, que não há diferenças entre o homem e a mulher, que não há justificação para a autoridade dos pais sobre os seus filhos, que os doentes mentais são pessoais normais e que, por outro lado, são as pessoas normais que estão loucas, que a prática da medicina torna as pessoas doentes mais vezes do que as cura e que a realidade dos factos científicos não deve ser avaliada mediante o seu grau de verdade mas pela sua concordância relativamente às ideologias em voga. Em tais condições, a própria noção de política encontra-se consideravelmente transformada. Diz-se muito que «a política invadiu tudo»; eu diria antes que os sectores de actividade humana, de natureza não directamente política, adquiriram uma nova dimensão, no sentido de terem perdido a «neutralidade» a eles atribuída no que se refere à vida política. E acrescentaria que isto é particularmente verdade nos sectores da actividade cultural e tentarei mostrar (ao longo deste breve trabalho) como se formou, além do poder político, um poder para o qual eu sugiro o nome de «poder metapolítico» ou «poder cultural».
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