quarta-feira, fevereiro 08, 2006

Poder cultural e sociedade civil

Pelo contrário, nas sociedades em que cada membro participa mais ou menos da ideologia implícita que uma concepção do mundo espontâneo pressupõe, nas socie­dades onde reina uma atmosfera cultural própria, torna-se impossível apoderar-se do poder político sem previamente se ter apoderado do poder cultural.
A revolução Francesa de 1789, por exemplo, é disso um bom exemplo. Foi possível na medida em que foi preparada por uma «revolução das mentalidades», ou seja, pela difusão das ideias da «filosofia das Luzes» no seio da aris­tocracia e da burguesia. Como Helène Vedrine diz (no seu ensaio “Les philosophies de l'histoire”, Payot, 1975) «a con­quista do poder não é apenas realizada por uma insurreição política que toma para si o estado, mas por uma longa acção ideológica na sociedade civil, que ajudará a abrir o caminho».
Do ponto de vista de Gramsci, numa sociedade avan­çada, a «transição para o socialismo» não é efectuada nem por um “Putsch” nem por um assalto directo mas, de facto, pela transformação das ideias comuns, equivalente a uma lenta subversão das mentalidades. O pelourinho desta Guerra Estática é a cultura, considerada como centro e depósito de valores e ideias.
Apercebemo-nos, então, de que Gramsci recusa simul­taneamente o leninismo clássico, isto é, a teoria da luta revolucionária, o revisionismo stalinista dos anos 30, ou seja a estratégia da política de frentes populares, e a tese de Kautsky, a ideia de uma «vasta assembleia de trabalhadores».