Sobre a blogosfera
Embora infinitamente menos atento e arguto que Pacheco Pereira, também dedico algum do meu tempo a observar a blogosfera portuguesa e a tentar entendê-la.
Desde há três anos para cá creio que tenho acompanhado o fenómeno, obviamente sem ter pretensões a especialista, ou sequer a conhecedor profundo. Conclusões, por isso, são apenas as resultantes desse olhar próprio, condicionadas pelo empirismo e pelas deformações do ponto de visão.
Dito isto, confesso que alguns dados que tenho retirado da minha experiência deixam-me intrigado. Leia-se: sem explicações satisfatórias. Algo importante me está a escapar.
Como sabem os leitores mais antigos, eu sempre acreditei, e disse-o repetidamente, nas potencialidades do meio. Sem qualquer originalidade, sublinhei (também) como me parecia crucial o papel da blogosfera na informação e na formação de opinião num futuro próximo. Como se afigurava previsível o seu crescimento em termos quantitativos e qualitativos, em influência e penetração.
Na verdade, assistiu-se durante este período a uma explosão do número de blogues, talvez como um fenómeno de moda (que a certa altura terá sido e entretanto passou).
O que me parece certo neste momento é que o número de leitores já desde há bastante tempo não parece ter obedecido à trajectória ascensional que estava prevista.
E essa constatação é intrigante, sobretudo se atendermos e acreditarmos nas estatísticas que falam de um grande aumento da difusão da internet em Portugal no mesmo período.
Poderão retorquir-me que isso são queixas minhas, uma vez que este blogue não interessa manifestamente a ninguém. Aceito a tese, e confesso que o número de visitantes deste blogue parece ter estabilizado nos últimos meses (aliás com uma notável regularidade) num número diário que é pouco superior a metade do que já foi.
Porém, não devemos distrair-nos com casos particulares.
Examinando o Blogómetro, que é o que estava a fazer, temos que retirar algumas ilacções que relativizam notoriamente a importância actual do meio.
Saliento que o Blogómetro é um instrumento utilíssimo e inestimável, que devemos agradecer, ainda que por opção própria não se queira alinhar nesses campeonatos (eu sou de opinião oposta, penso que é bom que todos se inscrevam).
Ora o que se constata é que na blogosfera portuguesa basta alcançar uma média de visitantes por dia que pouco excede 250 para entrar directamente no top dos "cem mais".
Duas centenas e meia, mesmo num país com as nossas dimensões e hábitos, é francamente pouco, muito pouco. É preciso ter a humildade de o reconhecer.
Verifica-se aliás que na lista referida surgem incluídos, e destacados, bastantes sítios que não são propriamente blogues, seja qual for o critério em que se assente (refiro-me por exemplo aos mostruários das "gajas nuas").
E aparecem alguns cuja notoriedade não nasce da blogosfera: o número elevado de visitantes dos blogues de Pacheco Pereira ou Vasco Pulido Valente não são uma demonstração da força da blogosfera, são a transposição para a blogosfera de uma popularidade já existente.
Acrescento ainda uma observação final, mas que me parece relevante. Como já salientou Pacheco Pereira, e bem, uma das leis da blogosfera é o tribalismo. Eu desde o início que reconheço o facto, e até gostaria que a realidade fosse diferente, mas é realmente assim: o internauta cria uma rede própria de referências, e a partir da estabilização desta a sua navegação raramente se afasta dessas coordenadas.
Quer dizer, formam-se círculos relativamente fechados, grupos que se visitam reciprocamente e falam entre si, até por links, citações, recomendações. Dentro desses círculos, os blogues que integram esse anel têm mais ou menos os mesmos visitantes. São as mesmas pessoas, que fazem a ronda pelos blogues da sua área pré-definida.
Nestes termos, compreende-se o que quero dizer. É preciso interiorizar a constatação: somos realmente poucos, a falar uns com os outros.
Desde há três anos para cá creio que tenho acompanhado o fenómeno, obviamente sem ter pretensões a especialista, ou sequer a conhecedor profundo. Conclusões, por isso, são apenas as resultantes desse olhar próprio, condicionadas pelo empirismo e pelas deformações do ponto de visão.
Dito isto, confesso que alguns dados que tenho retirado da minha experiência deixam-me intrigado. Leia-se: sem explicações satisfatórias. Algo importante me está a escapar.
Como sabem os leitores mais antigos, eu sempre acreditei, e disse-o repetidamente, nas potencialidades do meio. Sem qualquer originalidade, sublinhei (também) como me parecia crucial o papel da blogosfera na informação e na formação de opinião num futuro próximo. Como se afigurava previsível o seu crescimento em termos quantitativos e qualitativos, em influência e penetração.
Na verdade, assistiu-se durante este período a uma explosão do número de blogues, talvez como um fenómeno de moda (que a certa altura terá sido e entretanto passou).
O que me parece certo neste momento é que o número de leitores já desde há bastante tempo não parece ter obedecido à trajectória ascensional que estava prevista.
E essa constatação é intrigante, sobretudo se atendermos e acreditarmos nas estatísticas que falam de um grande aumento da difusão da internet em Portugal no mesmo período.
Poderão retorquir-me que isso são queixas minhas, uma vez que este blogue não interessa manifestamente a ninguém. Aceito a tese, e confesso que o número de visitantes deste blogue parece ter estabilizado nos últimos meses (aliás com uma notável regularidade) num número diário que é pouco superior a metade do que já foi.
Porém, não devemos distrair-nos com casos particulares.
Examinando o Blogómetro, que é o que estava a fazer, temos que retirar algumas ilacções que relativizam notoriamente a importância actual do meio.
Saliento que o Blogómetro é um instrumento utilíssimo e inestimável, que devemos agradecer, ainda que por opção própria não se queira alinhar nesses campeonatos (eu sou de opinião oposta, penso que é bom que todos se inscrevam).
Ora o que se constata é que na blogosfera portuguesa basta alcançar uma média de visitantes por dia que pouco excede 250 para entrar directamente no top dos "cem mais".
Duas centenas e meia, mesmo num país com as nossas dimensões e hábitos, é francamente pouco, muito pouco. É preciso ter a humildade de o reconhecer.
Verifica-se aliás que na lista referida surgem incluídos, e destacados, bastantes sítios que não são propriamente blogues, seja qual for o critério em que se assente (refiro-me por exemplo aos mostruários das "gajas nuas").
E aparecem alguns cuja notoriedade não nasce da blogosfera: o número elevado de visitantes dos blogues de Pacheco Pereira ou Vasco Pulido Valente não são uma demonstração da força da blogosfera, são a transposição para a blogosfera de uma popularidade já existente.
Acrescento ainda uma observação final, mas que me parece relevante. Como já salientou Pacheco Pereira, e bem, uma das leis da blogosfera é o tribalismo. Eu desde o início que reconheço o facto, e até gostaria que a realidade fosse diferente, mas é realmente assim: o internauta cria uma rede própria de referências, e a partir da estabilização desta a sua navegação raramente se afasta dessas coordenadas.
Quer dizer, formam-se círculos relativamente fechados, grupos que se visitam reciprocamente e falam entre si, até por links, citações, recomendações. Dentro desses círculos, os blogues que integram esse anel têm mais ou menos os mesmos visitantes. São as mesmas pessoas, que fazem a ronda pelos blogues da sua área pré-definida.
Nestes termos, compreende-se o que quero dizer. É preciso interiorizar a constatação: somos realmente poucos, a falar uns com os outros.
Por vezes estamos aqui a escarnecer do país e não nos lembramos que o país nem sabe da nossa existência.
21 Comments:
Tudo o que aqui escreve é verdadeiro, infelizmente. Não sei é se o problema é totalmente de quem faz os blogues e funciona em circuito fechado, pois "o país" não parece é interessar-se por perder mais de meia hora por dia a estimular a massa cinzenta. E sem isso, sem essa inquietação da informação, do conhecimento, do acesso a opiniões divergentes ou complementares, não há blogosfera ou qualquer outra empresa intelectual que vingue.
O que me intrigou foi verificar que mesmo os blogues com maior número de visitantes têm agora um número muito inferior ao que já tiveram. E isso parece harmonizar-se pouco com o crescimento da net em Portugal.
Quanto às causas da pequenez, provavelmente não são diferentes das que se podem encontrar para as tiragens dos nossos melhores jornais.
Não se trata de distribuir culpas, mas de apontar factos: somos poucos, os que escrevem e os que lêem.
Poderá o Manuel aqui explicar como se faz a inscrição no Blogómetro? Andei por lá - consultando as listas - mas não dei com a 'porta de entrada'...
Hoje, na última página do Público vem uma possível explicação para este fenómeno. Ao que parece há já gente que vive profissionalmente dos seus blogues temáticos, o que não sendo o que me levou a aderir à Blogosfera, também não me parece que seja grave.
A questão dos comentários é mais ou manenos irrelevante, pois na minha opinião, um blogue é o sucedâneo electrónico de um "jornal de parede": Quem passa lê ou não lê e quem quiser rabiscar, pode rabiscar, pois no fundo o prazer é de quem escreve.
Cumprimentos.
"Por vezes estamos aqui a escarnecer do país e não nos lembramos que o país nem sabe da nossa existência."
É deprimente, mas é verdade ='(
Prezado Manuel Azinhal,
Para quem não teve oportunidade de assistir à conferência do Prof. Vasconcelos de Saldanha, sobre a diplomacia cultural portuguesa no Oriente, incumbi-me na missão de fazer o "relatório" da sessão, bem como registei ainda uma pequena pequena conversa.
Está tudo "on-line" no "Portas do Cerco"- www.passaleao.blogspot.com
Saudações,
Caro Mendo, antes de mais tens de ter o Sitemeter no teu blogue (creio que já é o caso). Depois, vais a www.Weblog.com.pt, na coluna da esquerda escolhes "Serviços / Blogómetro", neste, no fundo da lista, está escrito "Quer acrescentar o seu blog? Clique aqui" e é seguir as instruções.
Caro FG Santos, agradeço-te a pronta resposta. Lá irei fazer serão, a tentar pôr o aparelhómetro a funcionar...
Verdade, tudo o que dizes. Mas penso que é seguir a blogar, que o futuro está aqui.
(Últimos 3 parágrafos). Mas não será esse também um dos objectivos e confortos da bloguística?
Não devemos correr pelo "share", como lembrei ontem com um post-relatório exibindo a magreza das minhas 120 visitas diárias. Pode crer que, por vezes, 100 são mais representativos que 1000. Há por aí blogues de frivolidade pura que atingem 500-600 ou 700 visitas. O seu, por exemplo, diz-me muito mais que o Abrupto, que soa a prolongamento de crónica de tv.
Li com atenção, consultei a minha classificação relativa e disse: vou desistir.
Depois lembrei-me de reler o meu post inicial, e disse: vou continuar.
Afinal, a monarquia ainda não está restaurada! E os apóstolos eram só doze!
De qualquer modo a coisa funciona realmente em círculos, mais ou menos 'familiares', e esse aspecto também pode ter virtualidades inesperadas. Se podem aceitar as observações de quem não tem sequer um ano de actividade.
Um abraço.
Vide o apelo de Daniel Estulin no meu blog, pelo menos este jornalista acha que os blogs podem fazer a diferença.
«Por vezes estamos aqui a escarnecer do país e não nos lembramos que o país nem sabe da nossa existência.»
O país não saberá, mas também não nos interessa que todo o país saiba, basta-nos que os descontentes que pensam como nós saibam que não estão sozinhos, que saibam que há outros que lutam e a quem se podem juntar. Afinal de contas, são as minorias que fazem a história (o resto é rebanho que fica à espera de ver quem vai ganhar e só depois toma o partido de uma das partes).
Caro FG Santos: a coisa está feita - bem-hajas!
Agora, sobre o assunto do 'post':
O 1º passo será conseguir que toda a "nossa gente" tenha um blogue (de qualidade, claro está); e, depois, que o mantenha actualizado.
Calculo que, para já, haja 300 "dos nossos" a ler blogues, mas menos de 50 a fazê-los...
Pensamento quase profundo!!!
Os homens serão aquilo que escrevem e o que dizem?
Ou serão antes – "a maneira" como o dizem na presença dos outros...?
Esta interrogação surge-me na sequência, e através, da "bloguisse" ter vindo a conhecer pessoalmente algumas pessoas. Lembro-me quando conheci o Buiça pessoalmente, depois de acesas discussões na net...- Dois encontros simpáticos e alegres "em meu território".
Sem ir mais longe – A vida tem destas coisas, por vezes conseguimos uma aproximação muito maior com gente que ideologicamente pouco ou nada tem a ver connosco... o que não é o caso do FG Santos e do Nonas!
Não sei bem porquê mas apeteceu-me dizer isto!
Legionário
É porque não te apeteceu dizer que vais abrir um blogue! ;-)
Caro Legionário:
Cá para mim, os Amigos não têm de ser Camaradas (os meus Amigos são - na maior parte - conservadores, liberais ou de esquerda); e, os Camaradas também não precisam de ser Amigos. Separando as águas, fomenta-se a Amizade e a Camaradagem.
Saudações!
Realmente, há muito bom camarada por aí que estranha eu ter amigos comunistas e anarquistas, e monárquicos até...
Camaradas que considere também bons amigos nem são muitos.
É o meu modo estar, e como sou conflituoso até convém ter amigos comunistas e anarquistas, posso discutir livremente com eles em ambiente minimamente controlado =)
Ainda me lembro (oh se lembro) do ar de profundo alívio do Legionário quando constatou que eu não sou pequenino, não sou verde e não tenho antenas.
E que não mordo!
:)
E qual foi o alívio do Buiça quando conheceu o Legionário?...
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