sexta-feira, março 24, 2006

Adenda sobre os alentejanos do outro planeta

Observando os exemplares que arrumei nas categorias taxonómicas dos herdeiros e dos trepadores, ocorre-me uma importante especificação.
Os que chamei trepadores não se podem confundir com o que habitualmente se chama de self-made-men, com o sentido rigoroso que se atribui a essa expressão.
Na verdade eles subiram imenso, desde a origem de pé descalço até ao Olimpo que alcançaram. Todavia, não foi por um esforço isolado e continuado, à custa do suor e do engenho individuais. Em geral, e sem desmerecer dos méritos que nisso pode haver, tratou-se mais de apanhar os elevadores certos nas horas certas.
Na primeira divisão dos ricos portugueses só detecto um a quem o essencial do conceito de self-made-man se ajusta: é o Sr. Nabeiro. Mas este, curiosamente, permaneceu sempre desconfiado e distante perante as solicitações e as miragens do circo lisboeta. Preferiu manter-se longe, tratando apenas do que é dele, no entendimento prudente, e bem alentejano, este sim, que mais vale ser rei em Campo Maior do que barão de fancaria na praça de Lisboa. Nisto se distingue singularmente Rui Nabeiro: parece nunca ter sentido atracção pela hipótese de administrar o que é dos outros, bem ao contrário da vertigem generalizada nas hostes do esfuziante capitalismo doméstico.
Como resultado, consolidou uma situação original: no que é dele só ele é que manda, e ele por sua vez não se mete no que não lhe pertence.

1 Comments:

At 9:21 da tarde, Blogger Mendo Ramires said...

Esta adenda é um remate de Mestre.

 

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