sexta-feira, março 24, 2006

Alentejanos em Marte

Como é público e notório, circulam na alta roda dos mais importantes conselhos de administração e sentam-se na primeira fila dos protagonistas da nossa economia alguns proeminentes patrícios.
Costumando olhá-los com interesse, e com simpatia de conterrâneo humilde para quem o bom sucesso dos rapazes aqui das brenhas também ajuda a aquecer a alma e alimenta o amor próprio (assim como as vitórias do Paulo Guerra ou os versos de Florbela Espanca) apercebi-me há muito que podem catalogar-se essencialmente em dois grupos, muito distintos entre eles.
Um é constituído pelos herdeiros (v. g. António Mexia, António Borges), o outro é constituído pelos trepadores (v. g. Henrique Granadeiro, Murteira Nabo). Entre uns e outros há pouco em comum, para além do aludido acidente geográfico. Nos modos, no pedigree e no percurso de vida tudo os distingue, numa demonstração exuberante de que ainda existem classe sociais.
Para além dessa diferença, porém, parece-me a mim que em todos eles se detecta um fenómeno semelhante: é que já têm muito pouco de alentejanos. E afigura-se até que quanto mais sobem menos alentejanos parecem (por isso é que nos ricos antigos, como Mexia e Borges, a distância ainda se apresenta muito maior).
A questão dava pano para muitas mangas: repare-se como só por si destrói as crenças deterministas do materialismo biológico corrente. Apesar da pureza do sangue (que julgo que subsistirá, salvo alguma eventual transfusão) não se nota nos personagens nenhuma especial ligação à terra e à gente das suas origens.

1 Comments:

At 5:35 da tarde, Blogger Mendo Ramires said...

Brilhante análise, como de costume. Nunca tinha pensado nisto...

 

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