De Fernando Tavares Rodrigues
Confissão
Entre números
e cifrões transfigurado
Como se também fosse o que fingia.
E o amor por amar que me doía
Neste corpo de amor desocupado.
Assim vestia, dia a dia, o meu ofício
Dessa cor que não serve os namorados:
A gravata, o colarinho de silício
E os gestos tão iguais, tão estudados
Para ganhar um pão que nunca quis
Virei os meus sonhos do avesso
Em vez de continuar a ser feliz.
E hoje só sei que o não mereço,
Que a imagem que criei já não condiz
Com aquele que, mesmo assim, ainda pareço.
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