Notas e variações
Hoje foi dia grande: o ansiado reconhecimento do genial Professor João Espada, há muito aguardado entre adereços e ademanes oxfordianos, aconteceu finalmente, com entrada directa para o Palácio de Belém. Glória ao Harry Potter do liberalismo lusitano! Agora é que irá jorrar o leite e o mel - sempre ao preço do mercado e segundo todas as regras da livre concorrência.
Ao fim da tarde, por acidente (estava na sala de espera de um consultório), vi alguns minutos de "Morangos com Açúcar", o que basta e sobeja para me deixar mal disposto... e agoniado, descobri de repente porquê, aquilo fez-me sentir o mesmo que o livro da Mena Mónica, é a mesma coisa sem tirar nem pôr. Aqueles são os filhos, e os netos, mas é aquela gente do livro. Nunca cheguei a explicar o meu sentimento de repulsa quando confessei a leitura (foi a curiosidade levantada pelo Jansenista, mais a frustração de não ter partilhado nenhum dos prazeres gozados por ele) mas agora lembrei-me disso outra vez. Efectivamente trata-se de "Morangos com Açúcar" umas décadas atrás, uma atroz exibição de vulgaridade, de banalidade, de futilidade. Até quando querem ter ideais são pequeninos, e ditados por aquela ansiedade muito peculiar de parecer bem, de estar a la page, que domina uma certa burguesia lisboeta.
O que dói, dói mesmo, é que aquela gente ditou as leis e fez a história, dominou e domina ainda em grande parte o poder cultural e político na terra que despreza.
Não resisti a apontar a identidade entre o livro de Mónica e a abundante literatura de tias para cabeleireiras que gostavam de ser tias, as Mafaldas, Margarida, Ritas, porque me pareceu evidente a comunhão de raízes, de sentimentos, de valores (desculpem a impropriedade da expressão). Mas fiquei por aí: não cheguei a declarar o meu horror.
Todavia, tudo visto, o livro vale a pena. Está lá retratada e escarrapachada uma geração e uma classe (que até podia ser dirigente, se ao menos soubesse dirigir-se) nefasta como poucas na nossa história. Um marco do fracasso, do cabotinismo, da superficialidade de uma época que nunca soube encontrar um sentido.
Ao fim da tarde, por acidente (estava na sala de espera de um consultório), vi alguns minutos de "Morangos com Açúcar", o que basta e sobeja para me deixar mal disposto... e agoniado, descobri de repente porquê, aquilo fez-me sentir o mesmo que o livro da Mena Mónica, é a mesma coisa sem tirar nem pôr. Aqueles são os filhos, e os netos, mas é aquela gente do livro. Nunca cheguei a explicar o meu sentimento de repulsa quando confessei a leitura (foi a curiosidade levantada pelo Jansenista, mais a frustração de não ter partilhado nenhum dos prazeres gozados por ele) mas agora lembrei-me disso outra vez. Efectivamente trata-se de "Morangos com Açúcar" umas décadas atrás, uma atroz exibição de vulgaridade, de banalidade, de futilidade. Até quando querem ter ideais são pequeninos, e ditados por aquela ansiedade muito peculiar de parecer bem, de estar a la page, que domina uma certa burguesia lisboeta.
O que dói, dói mesmo, é que aquela gente ditou as leis e fez a história, dominou e domina ainda em grande parte o poder cultural e político na terra que despreza.
Não resisti a apontar a identidade entre o livro de Mónica e a abundante literatura de tias para cabeleireiras que gostavam de ser tias, as Mafaldas, Margarida, Ritas, porque me pareceu evidente a comunhão de raízes, de sentimentos, de valores (desculpem a impropriedade da expressão). Mas fiquei por aí: não cheguei a declarar o meu horror.
Todavia, tudo visto, o livro vale a pena. Está lá retratada e escarrapachada uma geração e uma classe (que até podia ser dirigente, se ao menos soubesse dirigir-se) nefasta como poucas na nossa história. Um marco do fracasso, do cabotinismo, da superficialidade de uma época que nunca soube encontrar um sentido.
1 Comments:
Não entendo a sua prevenção contra o liberalismo ECONÓMICO. Acha que a gente de ideais, ainda que sinceros e pensados, é mais capaz de estabelecer o preço das coisas do que o é o simples mercado, justo, entre oferta (o que custa) e procura (o que vale)?
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