A Nação instrumental
Apresenta-se como evidente que nacionalismo só pode chamar-se a uma doutrina que proclame o primado da Nação.
Esta entendida como um ente moral que não se confunde com os seus componentes. As partes não são o todo, e muito menos uma das partes se confunde com o todo.
Posições em que o primado seja atribuído aos nacionais e não à Nação, esquecendo que o elemento humano que em dado momento integra a Nação é tão só um dos constituintes desta, e aliás circunstancial e passageiro, significa contrariar todas as doutrinas conhecidas do nacionalismo.
Os portugueses de hoje não são os portugueses de ontem, nem se confundem com os de amanhã. As vontades individuais ou somadas dos portugueses numa certa hora não coincidirão certamente com as existentes noutra hora dada. Nem os interesses.
E afigura-se desnecessário entrar em considerações sobre outros componentes necessários da entidade nacional; uma história comum, um destino comum, uma unidade de destino no universal, um território, uma organização política… Tudo está discutido, estudado e analisado à saciedade, não interessando agora rememorar convergências e divergências.
O que não é possível encontrar é uma doutrina nacionalista em que os termos se invertam, isto é em que o primado pertença aos nacionais e não à Nação, em que esta exista para servir e não para ser servida.
Como poderia à Nação prestar-se homenagem, e esta reclamar serviço e sacrifício, se a realidade nacional fosse vista como uma utilidade momentânea dos nacionais?
Uma tal inversão conduz inevitavelmente a uma concepção que se poderia caracterizar como de “nação de conveniência”, ou seja esta só teria valor na medida da sua utilidade (para os nacionais), seria uma realidade instrumental, segunda e não primeira como é próprio das doutrinas nacionalistas.
Por seu lado, os nacionais teriam com a Nação uma relação de interesse. Entende-se, logicamente, que cessando o interesse cessa a Nação.
Ora uma Nação nunca foi entendida como um clube social, que os membros de um dia podem a seu bel prazer dissolver porque lhes apraz, e em que naturalmente dispõem de um poder de veto quanto a novas admissões: bola branca ou bola preta, entra sócio não entra sócio.
As confusões ideológicas do género “Portugal é dos portugueses”, traduzindo uma horripilante coisificação de Portugal, assim reduzido a objecto de propriedade, em vez de valor supremo na ordem temporal, arrastam consequências gravíssimas no domínio do pensamento e das propostas políticas concretas. Inevitavelmente deixa de pensar-se como prioritário o que melhor servirá Portugal para em cada minuto incessantemente se procurar o que melhor sirva “os portugueses”, e logo depois estes ou aqueles portugueses – terreno movediço em que ninguém se pode entender, pois o que agora serve logo já não serve, e o que a este grupo serviria a outro é de todo inconveniente.
Cai-se no instável e no acidental, na dissolução e na desordem no plano das ideias e da existência social, que é precisamente o que o nacionalismo, procurando firmar-se na solidez do permanente, intentava evitar.
Esta entendida como um ente moral que não se confunde com os seus componentes. As partes não são o todo, e muito menos uma das partes se confunde com o todo.
Posições em que o primado seja atribuído aos nacionais e não à Nação, esquecendo que o elemento humano que em dado momento integra a Nação é tão só um dos constituintes desta, e aliás circunstancial e passageiro, significa contrariar todas as doutrinas conhecidas do nacionalismo.
Os portugueses de hoje não são os portugueses de ontem, nem se confundem com os de amanhã. As vontades individuais ou somadas dos portugueses numa certa hora não coincidirão certamente com as existentes noutra hora dada. Nem os interesses.
E afigura-se desnecessário entrar em considerações sobre outros componentes necessários da entidade nacional; uma história comum, um destino comum, uma unidade de destino no universal, um território, uma organização política… Tudo está discutido, estudado e analisado à saciedade, não interessando agora rememorar convergências e divergências.
O que não é possível encontrar é uma doutrina nacionalista em que os termos se invertam, isto é em que o primado pertença aos nacionais e não à Nação, em que esta exista para servir e não para ser servida.
Como poderia à Nação prestar-se homenagem, e esta reclamar serviço e sacrifício, se a realidade nacional fosse vista como uma utilidade momentânea dos nacionais?
Uma tal inversão conduz inevitavelmente a uma concepção que se poderia caracterizar como de “nação de conveniência”, ou seja esta só teria valor na medida da sua utilidade (para os nacionais), seria uma realidade instrumental, segunda e não primeira como é próprio das doutrinas nacionalistas.
Por seu lado, os nacionais teriam com a Nação uma relação de interesse. Entende-se, logicamente, que cessando o interesse cessa a Nação.
Ora uma Nação nunca foi entendida como um clube social, que os membros de um dia podem a seu bel prazer dissolver porque lhes apraz, e em que naturalmente dispõem de um poder de veto quanto a novas admissões: bola branca ou bola preta, entra sócio não entra sócio.
As confusões ideológicas do género “Portugal é dos portugueses”, traduzindo uma horripilante coisificação de Portugal, assim reduzido a objecto de propriedade, em vez de valor supremo na ordem temporal, arrastam consequências gravíssimas no domínio do pensamento e das propostas políticas concretas. Inevitavelmente deixa de pensar-se como prioritário o que melhor servirá Portugal para em cada minuto incessantemente se procurar o que melhor sirva “os portugueses”, e logo depois estes ou aqueles portugueses – terreno movediço em que ninguém se pode entender, pois o que agora serve logo já não serve, e o que a este grupo serviria a outro é de todo inconveniente.
Cai-se no instável e no acidental, na dissolução e na desordem no plano das ideias e da existência social, que é precisamente o que o nacionalismo, procurando firmar-se na solidez do permanente, intentava evitar.
Reponham-se as ideias no lugar: Portugal não é dos portugueses, os portugueses é que são de Portugal.
Veio este arrazoado a propósito de um escrito do Corcunda, que na verdade às vezes parte de intuições fulgurantes para arrancar observações de igual fulgor.
Leia–se sem demora.
“Proclamando que Portugal pertence aos portugueses, ideia que é a antítese do nacionalismo (se a Pátria fosse propriedade de alguém o proprietário seria livre de a dissolver segundo seus desejos), o nacionalismo "agrupado" assume a sua rendição ao espírito moderno do nacionalismo democrático.”
Veio este arrazoado a propósito de um escrito do Corcunda, que na verdade às vezes parte de intuições fulgurantes para arrancar observações de igual fulgor.
Leia–se sem demora.
“Proclamando que Portugal pertence aos portugueses, ideia que é a antítese do nacionalismo (se a Pátria fosse propriedade de alguém o proprietário seria livre de a dissolver segundo seus desejos), o nacionalismo "agrupado" assume a sua rendição ao espírito moderno do nacionalismo democrático.”
10 Comments:
Os Portugueses são de Portugal, sim, está certo. O Povo pertence ao Génio da Estirpe, como diriam os Romanos...
Agora a questão é esta - quem dirige Portugal?
Terão de ser os Portugueses, certo?...
Ou será porventura alguma outra entidade, em contacto directo com as altas instâncias do Poder Maior que criou o projecto Portugal?
O projecto Portugal, como diz certo patriota que queria poder falar em nome dos nacionalistas - como se Portugal fosse uma empresa criada por homens em vez de constituir uma Nação, logo, um dado da Natureza e da História independente de quaisquer projectos...
Este senhor é um parodiante! Portugal é um dado da Natureza...
Arranja-se um burro maior que este?
LVT
Da natureza e da história, é o que lá diz. Essas citações truncadas
ficam mal a quem se considera tão superior.
O que eu acho incrível é defender-se ao mesmo tempo que a "Nação nunca foi entendida como um clube social, que os membros de um dia podem a seu bel prazer dissolver porque lhes apraz" e ao mesmo tempo dizer que a Nação é resultado da vontade de permanecer juntos, com citações de Renan à mistura e tudo.
Ah!, e já me esquecia: os slogans não são para ser tão levados a sério.
NC
Se os slogans não são para serem levados a sério para quê os usam?
Será o mesmo intento de certos candidatos a posar de patriotas?
Há de se pensar no bem da Nação e não nas figuras passageiras que são seus habitantes.
Porto Editora, dicionário:
NAÇÃO - substantivo feminino
1. conjunto de indivíduos ligados pela mesma língua e por tradições, interesses e aspirações comuns; povo;
2. POLÍTICA conjunto de indivíduos que constituem uma sociedade política autónoma, fixada num determinado território, regida por leis próprias e subordinada a um poder central;
3. POLÍTICA território definido onde habita esse conjunto de indivíduos;
4. país onde alguém nasceu e é cidadão; pátria; naturalidade;
5. casta; raça;
(Do lat. natióne-, «id.»)
Pergunta: Arranja-se um burro maior que este?
Resposta: LVT
Boa resposta...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Quanto ao NC, fez muitíssimo bem em notar mais essa incoerência dos Minho-Timorenses:
O que eu acho incrível é defender-se ao mesmo tempo que a "Nação nunca foi entendida como um clube social, que os membros de um dia podem a seu bel prazer dissolver porque lhes apraz" e ao mesmo tempo dizer que a Nação é resultado da vontade de permanecer juntos, com citações de Renan à mistura e tudo.
A respeito do slogan, trata-se duma forma de fazer política que se enquadra na presente forma de viver democrática. Aliás, nunca passou pela cabeça, nem dos que o dizem, nem da esmagadora maioria dos que o ouvem, a triste ideia de dar ao Povo a possibilidade de dissolver a Nação.
Quando se diz que Portugal é dos Portugueses, fala-se evidentemente em sentido figurado, querendo dizer que Portugal não é dos estrangeiros ou dos aspirantes-a-portugueses.
Mas ai que esta última parte desagrada aos patrioteiros... desagrada sim, porque, quando criticam o slogan em questão, aquilo em que realmente querem bater é na consciência étnica e no direito de exclusividade dos Portugueses relativamente a Portugal...
Aliás, foi mesmo aqui neste blogue que um dia o seu autor se pôs a dizer que a Nacionalidade não se herda:
http://viriatos.blogspot.com/2005/07/nacionalidade-herda-se.html
O intuito é o mesmo que agora - a tentativa de desvalorizar a legitimidade étnica substituindo-a pelo direito «pátrio», ou seja, por um sistema no qual uma elite de patriotas decide quem é português e quem não é português consoante as suas conveniências ideológicas. Assim, é português quem essa elite quiser, nem que seja um nigeriano que aprenda a falar Português em três meses e vá à missa todos os dias... e, quem disso não gostar, não é português a sério...
Topa-se à distância.
O BOS rematou esta questão com chave de ouro, no seu Nova Frente. Passai todos por lá.
Confirmação do que eu disse:
Corcunda escreveu Este governo de facção, seja ele dos muitos (democrática ou socialista) ou dos poucos (oligárquico ou burguês), é a antítese de um governo justo (recto e natural).
Ou seja, o governo justo («recto e natural»), para os patrioteiros de sacristia, é o governo no qual uma elite diz ao Povo o que fazer e o que pensar. A respeito disto, é de notar que o próprio Corcunda já falou directamente contra a liberdade de pensamento ao criticar a teoria de Locke:
http://lusavoz.blogspot.com/2006/02/da-tolerncia-moderna-com-pena-que-vejo.html
Porque se for a maioria a mandar, é muito injusto... o que é mesmo justo é que uma oligarquia de iluminados beatos possa reger a maioria a seu bel-prazer... olá se é...
Isto porque um governo da maioria leva, como diz o Corcunda,
à identificação completa da Nação com a satisfação de necessidades, num primeiro momento, e de caprichos e interesses privados,
Ah pois... a minoria iluminada não tem interesses privados. A minoria iluminada é pura. O Estado tem pois de pertencer a essa minoria iluminada, não pode pertencer à maioria do «povinho-que-horror».
Como antes disso, topa-se à distância o intuito dos patrioteiros. Pau que nasce torto tarde ou nunca se endireita e os patrioteiros serão sempre inimigos do Nacionalismo e da Liberdade.
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