Explicação breve
Das esquerdas não gosto, que me repugnam com a sua paixão mesquinha pelo sonho cinzento da igualdade, a sua compulsão crónica contra tudo o que se eleva, o refocilar permanente na inveja e no ressentimento.
Com as direitas tenho as maiores dificuldades.
Se aceitar o rótulo será certamente por uma direita outra, nacional e popular, moderna e tradicionalista, justicialista e identitária.
Não tenho paciência para a direita roncante, bem representada na conversa de taxista, a do todos mortos, fritos e esfolados.
Fui sempre alérgico à direita catita, a do ar condicionado, sempre atenta serventuária de todos os poderes, eterna embevecida por pastas e postos.
Aquela direita que se diz extrema só por ladrar mais grosso que as outras também não marchará ao meu lado.
A mera reacção nunca me atraiu, e a função de gladiador da burguesia também não.
Nada me une aos que medem o seu patriotismo pela sua propriedade, os que acham que tudo é negociável desde que se salvem as pratas, os que sentem que qualquer ordem é melhor do que a revolta, e não concebem o mundo sem um polícia à porta.
Com adoradores do sol, que caem de cu e se babam de gozo extasiados perante a exibição da força bruta, também não me sento à mesa. Os melhores dos nossos disseram que amavam a justiça que reina pela força. Mas era a Justiça o objecto que amavam, a força era só o instrumento para a servir.
Não, mil vezes não. Um homem pode viver só, não pode é viver sem alma.
Perguntarão o que me resta.
Resto eu, e aqueles todos, muitos ou poucos, daquela direita rebelde e insubmissa que preza mais os seus mártires que os seus ministros.
Aquela direita de homens livres, sempre desconfiada do poder, de todos os poderes. Daqueles homens altivos que são difíceis e frequentemente desalinhados, porque lhes custa acreditar, mas podem responder orgulhosamente que gato escaldado é céptico com todo o direito.
4 Comments:
que ganda prosa, Manel. Os meus parabéns e já sabes que não estás só; pelo menos comigo sabes que podes contar, na mesma comunhão de ideias, ideais e ideários.
Exactamente!
Um texto de antologia.
No livro recentemente publicado «Bocage, Meu Irmão», da Editorial Minerva, há um soneto dedicado a Antero de Quental e Almada Negreiros, denominado «MANIFESTO ANTI-DANTES» que está de mais. Merecia que o dono deste blogue o publicasse.
Aqui vai:
Hoje os Dantas e os Feliciano/
São de esquerda e, tal como antigamente,/Arrotam à mesa do Presidente,/Obesos de saber palaciano.//
Mas se o Zé quis o Nobel no seu ano,/Para além de inquisidor sem ser crente/ E comunista (evidentemente),/Teve de converter-se ao castelhano.//
São assim os nossos int’lectuais:/
Solidários com os “faminto e nu”,/
Sem nunca os olharem como iguais,//
Tratam o primeiro-ministro por tu,/
Frequentam a corte e os telejornais,/São gente de esquerda e levam no cu.
Enviar um comentário
<< Home