Curiosidades históricas
Para os mais curiosos, aqui vão em repetição alguns apontamentos que já publiquei em Setembro de 2003 e que podem ainda ajudar a entender o passado recente das forças políticas presentes no Médio Oriente árabe (pese embora a rápida e profunda transformação dessa realidade).
Baasismo e nacionalismo árabe
Baasismo e nacionalismo árabe
1- Explicação breve
Há algum tempo atrás deixei neste blogue uma sequência de artigos sobre os acontecimentos do Iraque. O decurso do tempo parece-me ter reforçado a pertinência de muito do que aí ficou escrito.
Numa das análises de então, como terá entendido o leitor, eu considerava que no mundo árabe há que contar com duas forças substancialmente diferentes e a prazo incompatíveis entre si, todavia agora a agitar-se e a confluir contra as intromissões ocidentais.
Uma delas é o nacionalismo árabe, de pendor modernizante e laico, mas com um projecto de unidade e independência árabe que se confronta com as divisões e o domínio que desde os tempos coloniais o Ocidente assegura nas terras dos árabes (aproveitando e incentivando muitas vezes as divisões já existentes).
Essa orientação é bem visível nos partidos governantes no Iraque, antes da actual guerra, e agora ainda na Síria, como também é visível na Organização de Libertação da Palestina. E atraiu sempre um escol notável de árabes cristãos: veja-se no caso da Síria Michel Aflaq, fundador do baasismo, no Iraque com Tarek Aziz, na Palestina Georges Habache, e a própria mulher de Arafat.
Esta tendência política está fatalmente destinada a chocar-se com o integrismo religioso (ou o contrário!), o qual assola as populações árabes como os demais países islâmicos no mundo. Melhor seria dito integrismos, no plural, já que pela sua natureza esse integrismo se traduz no acirrar de divisões internas, conforme as linhas de fractura dos particularismos religiosos da religião islâmica, onde sempre proliferaram escolas, correntes, seitas, orientações teológicas diversificadas.
Esta onda integrista assumiu clara visibilidade no Irão, no Afeganistão, na Palestina e no Líbano, com o Hamas, a Jihad, o Hezbollah, ultimamente no Iraque ou até na Indonésia. De imediato se constata, como consequência, por exemplo, a existência de um clima conflitual entre os dois grupos maiores, sunitas e xiitas, tal como há muitos séculos não se verificava. A esse respeito, veja-se a situação interna no Iraque ou no Paquistão.
Por se me afigurar que a compreensão desta problemática ganha com algum conhecimento histórico sobre o nacionalismo árabe no século XX, o qual necessariamente se prolongará no nosso século, ainda que sob outras roupagens e designações, resolvi reincidir, e publicar alguns apontamentos sobre a mais importante das forças históricas do nacionalismo árabe, o BAAS.
Há algum tempo atrás deixei neste blogue uma sequência de artigos sobre os acontecimentos do Iraque. O decurso do tempo parece-me ter reforçado a pertinência de muito do que aí ficou escrito.
Numa das análises de então, como terá entendido o leitor, eu considerava que no mundo árabe há que contar com duas forças substancialmente diferentes e a prazo incompatíveis entre si, todavia agora a agitar-se e a confluir contra as intromissões ocidentais.
Uma delas é o nacionalismo árabe, de pendor modernizante e laico, mas com um projecto de unidade e independência árabe que se confronta com as divisões e o domínio que desde os tempos coloniais o Ocidente assegura nas terras dos árabes (aproveitando e incentivando muitas vezes as divisões já existentes).
Essa orientação é bem visível nos partidos governantes no Iraque, antes da actual guerra, e agora ainda na Síria, como também é visível na Organização de Libertação da Palestina. E atraiu sempre um escol notável de árabes cristãos: veja-se no caso da Síria Michel Aflaq, fundador do baasismo, no Iraque com Tarek Aziz, na Palestina Georges Habache, e a própria mulher de Arafat.
Esta tendência política está fatalmente destinada a chocar-se com o integrismo religioso (ou o contrário!), o qual assola as populações árabes como os demais países islâmicos no mundo. Melhor seria dito integrismos, no plural, já que pela sua natureza esse integrismo se traduz no acirrar de divisões internas, conforme as linhas de fractura dos particularismos religiosos da religião islâmica, onde sempre proliferaram escolas, correntes, seitas, orientações teológicas diversificadas.
Esta onda integrista assumiu clara visibilidade no Irão, no Afeganistão, na Palestina e no Líbano, com o Hamas, a Jihad, o Hezbollah, ultimamente no Iraque ou até na Indonésia. De imediato se constata, como consequência, por exemplo, a existência de um clima conflitual entre os dois grupos maiores, sunitas e xiitas, tal como há muitos séculos não se verificava. A esse respeito, veja-se a situação interna no Iraque ou no Paquistão.
Por se me afigurar que a compreensão desta problemática ganha com algum conhecimento histórico sobre o nacionalismo árabe no século XX, o qual necessariamente se prolongará no nosso século, ainda que sob outras roupagens e designações, resolvi reincidir, e publicar alguns apontamentos sobre a mais importante das forças históricas do nacionalismo árabe, o BAAS.
2 - O partido.
O partido BAAS foi fundado por um grupo de intelectuais árabes, fundamentalmente de Damasco, destacando-se como teórico Michel Aflaq. De carácter nacionalista, socializante e panarabista, o partido BAAS (ressurgimento, ou renascimento, em árabe) organizou-se em quase todos os países árabes, e inclusivamente dentro da OLP, com Al Saiqa, alcançando o poder na Síria e no Iraque em 1963. Ao longo dos anos, tanto na Síria como no Iraque, sofre diversas vicissitudes, pelo que as cisões e enfrentamentos internos darão lugar à presença de numerosos partidos de inspiração baasista em diversos países árabes. Assim, por exemplo, no Líbano chegarão a coexistir três partidos baasistas confrontando-se entre si.
Os dois pilares doutrinais sobre que assenta, desde as origens, o partido BAAS, são o nacionalismo e o socialismo. Deste modo, cada país árabe formaria parte da grande nação árabe, pelo que a actual estrutura estatal, herdeira em parte do colonialismo europeu, deveria desaparecer progressivamente. O segundo pilar do edifício teórico do baasismo é o socialismo, pouco definido e, em qualquer caso, não marxista.
Ambos os conceitos estariam inseparavelmente unidos dentro de um projecto revolucionário e de transformação; nas palavras de Aflaq: "A identificação que efectuamos entre a unidade (árabe) e o socialismo consiste em dar corpo à ideia da unidade. O socialismo é o corpo e a unidade é a alma, se assim se pode dizer".
O partido BAAS foi fundado por um grupo de intelectuais árabes, fundamentalmente de Damasco, destacando-se como teórico Michel Aflaq. De carácter nacionalista, socializante e panarabista, o partido BAAS (ressurgimento, ou renascimento, em árabe) organizou-se em quase todos os países árabes, e inclusivamente dentro da OLP, com Al Saiqa, alcançando o poder na Síria e no Iraque em 1963. Ao longo dos anos, tanto na Síria como no Iraque, sofre diversas vicissitudes, pelo que as cisões e enfrentamentos internos darão lugar à presença de numerosos partidos de inspiração baasista em diversos países árabes. Assim, por exemplo, no Líbano chegarão a coexistir três partidos baasistas confrontando-se entre si.
Os dois pilares doutrinais sobre que assenta, desde as origens, o partido BAAS, são o nacionalismo e o socialismo. Deste modo, cada país árabe formaria parte da grande nação árabe, pelo que a actual estrutura estatal, herdeira em parte do colonialismo europeu, deveria desaparecer progressivamente. O segundo pilar do edifício teórico do baasismo é o socialismo, pouco definido e, em qualquer caso, não marxista.
Ambos os conceitos estariam inseparavelmente unidos dentro de um projecto revolucionário e de transformação; nas palavras de Aflaq: "A identificação que efectuamos entre a unidade (árabe) e o socialismo consiste em dar corpo à ideia da unidade. O socialismo é o corpo e a unidade é a alma, se assim se pode dizer".
3 - Os fundadores
Como ficou dito, o nascimento do moderno nacionalismo árabe, laico e socialista, tem na sua origem um cristão sírio: Michel Aflaq.
O partido BAAS, motor do nacionalismo árabe moderno, juntamente com o nasserismo, está inseparavelmente ligado, durante os seus primeiros vinte anos de existência, à personalidade de Michel Aflaq.
Na fundação do partido destacam-se dois personagens: o cristão sírio Michel Aflaq, nascido em 1910, como teórico do partido, e Salah Bitar, como o seu organizador. Ambos faziam parte da pequena burguesia de Damasco. Os dois estudaram na Sorbonne, onde contactaram com as ideologias que se confrontavam na Europa dos anos trinta: marxismo e fascismo.
Michel Aflaq regressará depois a Damasco, onde trabalhará como professor de história, ao mesmo tempo que se destaca como doutrinário das ideias nacionalistas árabes e anticolonialistas.
Conheceu a prisão em várias ocasiões. Em 1939 foi preso pela administração francesa. Participa na fundação de diversos círculos políticos que darão origem ao futuro partido BAAS. Em 1948 foi de novo encarcerado, sendo então chefe do governo Shukri el Quwatli. Em 1949 foi novamente encarcerado pelo governo de Husni El Zaim, autor do primeiro golpe de estado na Síria após a independência da potência colonial, a França. Sob o governo de Adib El Shishakli, Aflaq entra outra vez na prisão em 1952, e posteriormente, de novo, em 1954.
Como ficou dito, o nascimento do moderno nacionalismo árabe, laico e socialista, tem na sua origem um cristão sírio: Michel Aflaq.
O partido BAAS, motor do nacionalismo árabe moderno, juntamente com o nasserismo, está inseparavelmente ligado, durante os seus primeiros vinte anos de existência, à personalidade de Michel Aflaq.
Na fundação do partido destacam-se dois personagens: o cristão sírio Michel Aflaq, nascido em 1910, como teórico do partido, e Salah Bitar, como o seu organizador. Ambos faziam parte da pequena burguesia de Damasco. Os dois estudaram na Sorbonne, onde contactaram com as ideologias que se confrontavam na Europa dos anos trinta: marxismo e fascismo.
Michel Aflaq regressará depois a Damasco, onde trabalhará como professor de história, ao mesmo tempo que se destaca como doutrinário das ideias nacionalistas árabes e anticolonialistas.
Conheceu a prisão em várias ocasiões. Em 1939 foi preso pela administração francesa. Participa na fundação de diversos círculos políticos que darão origem ao futuro partido BAAS. Em 1948 foi de novo encarcerado, sendo então chefe do governo Shukri el Quwatli. Em 1949 foi novamente encarcerado pelo governo de Husni El Zaim, autor do primeiro golpe de estado na Síria após a independência da potência colonial, a França. Sob o governo de Adib El Shishakli, Aflaq entra outra vez na prisão em 1952, e posteriormente, de novo, em 1954.
4 - As origens
Existe alguma confusão quanto às origens e os primeiros anos da vida do partido.
As origens mais remotas do BAAS encontram-se em 1941, quando Michel Aflaq e Salah Bitar criam um comité sírio de apoio ao Iraque, para evitar a sua entrada na segunda guerra mundial.
Segundo Wahib al Ghanem, um dos primeiros dirigentes, o BAAS nasceu da fusão de dois pequenos grupos: “Ihya el Arabi” (o despertar árabe) de Michel Aflaq, e “Baas el Arabi” (a ressurreição árabe) de Takri Arzuzi.
Foi em 1947 que se celebrou o primeiro congresso, coincidindo neste ponto os diversos autores. A ele assistiram cerca de 250 intelectuais procedentes de diversos países árabes. Os assistentes tinham orientações ideológicas muito distintas, o que levou a um acordo programático final de compromisso, muito genérico. Essa aparente debilidade ideológica inicial permitiu, no futuro, uma ampla margem de flexibilidade táctica e doutrinal.
O congresso nomeou então Michel Aflaq presidente e Salah Bitar como secretário geral. O primeiro comité executivo será formado por Salah Bitar, Yalal As-Sayid e Wahib al Ghanem.
O BAAS, desde o seu nascimento, em parte pelo generalidade do seu programa em diversos aspectos, mostrou-se um partido realista e flexível nas suas alianças com outras forças políticas, pelo que pactuará depois com nasseristas e comunistas, por pura conveniência, de forma a alcançar o poder.
As suas principais ideias, nessa fase inicial, eram:
1 - Os povos árabes formam uma unidade política e económica, a que denominou de nação árabe, expressão que logrará grande aceitação.
2 - A nação árabe também forma uma unidade cultural.
3. Apenas os árabes, como habitantes da nação árabe, têm o direito a determinar o seu futuro. Daí o seu inicial posicionamento face ao colonialismo, e o seu neutralismo doutrinal.
O partido sofreu depois diversas transformações, incorporando-se no mesmo outros partidos socialistas e nacionalistas que alargariam a sua base sociológica, muito estreita nas suas origens (intelectuais, basicamente). Assim, em 1954, o BAAS funde-se com o Partido Árabe Socialista de Akram Hurani, pelo que desde então adoptará o socialismo como sinal de identidade, embora segundo alguns autores a sua denominação "socialista" figurasse já desde 1947.
O objectivo fundamental do BAAS era a unidade da nação árabe e o partido definir-se-à logo na sua constituição, por isso, como árabe, nacionalista, socialista, democrático e revolucionário.
Existe alguma confusão quanto às origens e os primeiros anos da vida do partido.
As origens mais remotas do BAAS encontram-se em 1941, quando Michel Aflaq e Salah Bitar criam um comité sírio de apoio ao Iraque, para evitar a sua entrada na segunda guerra mundial.
Segundo Wahib al Ghanem, um dos primeiros dirigentes, o BAAS nasceu da fusão de dois pequenos grupos: “Ihya el Arabi” (o despertar árabe) de Michel Aflaq, e “Baas el Arabi” (a ressurreição árabe) de Takri Arzuzi.
Foi em 1947 que se celebrou o primeiro congresso, coincidindo neste ponto os diversos autores. A ele assistiram cerca de 250 intelectuais procedentes de diversos países árabes. Os assistentes tinham orientações ideológicas muito distintas, o que levou a um acordo programático final de compromisso, muito genérico. Essa aparente debilidade ideológica inicial permitiu, no futuro, uma ampla margem de flexibilidade táctica e doutrinal.
O congresso nomeou então Michel Aflaq presidente e Salah Bitar como secretário geral. O primeiro comité executivo será formado por Salah Bitar, Yalal As-Sayid e Wahib al Ghanem.
O BAAS, desde o seu nascimento, em parte pelo generalidade do seu programa em diversos aspectos, mostrou-se um partido realista e flexível nas suas alianças com outras forças políticas, pelo que pactuará depois com nasseristas e comunistas, por pura conveniência, de forma a alcançar o poder.
As suas principais ideias, nessa fase inicial, eram:
1 - Os povos árabes formam uma unidade política e económica, a que denominou de nação árabe, expressão que logrará grande aceitação.
2 - A nação árabe também forma uma unidade cultural.
3. Apenas os árabes, como habitantes da nação árabe, têm o direito a determinar o seu futuro. Daí o seu inicial posicionamento face ao colonialismo, e o seu neutralismo doutrinal.
O partido sofreu depois diversas transformações, incorporando-se no mesmo outros partidos socialistas e nacionalistas que alargariam a sua base sociológica, muito estreita nas suas origens (intelectuais, basicamente). Assim, em 1954, o BAAS funde-se com o Partido Árabe Socialista de Akram Hurani, pelo que desde então adoptará o socialismo como sinal de identidade, embora segundo alguns autores a sua denominação "socialista" figurasse já desde 1947.
O objectivo fundamental do BAAS era a unidade da nação árabe e o partido definir-se-à logo na sua constituição, por isso, como árabe, nacionalista, socialista, democrático e revolucionário.
5- A ideologia
Durante a sua permanência em Paris, inicialmente ambos os fundadores simpatizaram com o nacional-socialismo alemão, por haver conseguido, a seu ver, uma síntese entre ambos os conceitos, nacionalismo e socialismo, que eles queriam aplicar ao mundo árabe.
Como causa da debilidade deste diagnosticaram a fragmentação territorial e de poder que atingia os árabes. Em concreto, alguns autores referem o teórico alemão Alfred Rosenberg como inspirador de ambos.
Nacionalismo e socialismo são as colunas fundamentais sobre que se apoia a ideologia de Aflaq e que se transmitirá ao BAAS.
Dada a sua confissão cristã, concretamente greco-ortodoxa, vejamos a sua posição perante o islamismo. Alguns autores, egípcios especialmente, consideraram que nacionalismo e Islão eram incompatíveis. Tal pretensão logo foi tentada desmentir desde as altas instâncias do partido. Logicamente, Michel Aflaq, como principal teórico do partido, já em 1943, assinalará que:
"O Islão representa a imagem mais brilhante da sua língua e da sua literatura (árabes), e a parte mais importante da sua história nacional é indissociável dele, porque o Islão na sua essência e na sua verdade é um movimento árabe que representa a renovação e o apogeu dessa realidade, porque nasceu no seu solo e da sua língua, porque o apóstolo (Maomé) é árabe e os primeiros heróis que lutaram pelo Islão e o fizeram triunfar foram árabes, porque a sua visão da realidade se identificava com o espírito árabe, as virtudes que fomentou eram virtudes árabes, implícitas ou explícitas, e os defeitos que fustigou eram defeitos árabes em vias de desaparecer".
Para Michel Aflaq o Islão tinha-se regenerado na época moderna no nacionalismo árabe.
Em qualquer caso, apesar de tais afirmações, o BAAS sempre foi suspeito de laicismo para os movimentos islâmicos, confrontando-se com estes em numerosas ocasiões.
A busca de um nacionalismo socialista levou-o a uma neutralidade teórica em política exterior, não alinhando nas correntes europeias.
Durante a sua permanência em Paris, inicialmente ambos os fundadores simpatizaram com o nacional-socialismo alemão, por haver conseguido, a seu ver, uma síntese entre ambos os conceitos, nacionalismo e socialismo, que eles queriam aplicar ao mundo árabe.
Como causa da debilidade deste diagnosticaram a fragmentação territorial e de poder que atingia os árabes. Em concreto, alguns autores referem o teórico alemão Alfred Rosenberg como inspirador de ambos.
Nacionalismo e socialismo são as colunas fundamentais sobre que se apoia a ideologia de Aflaq e que se transmitirá ao BAAS.
Dada a sua confissão cristã, concretamente greco-ortodoxa, vejamos a sua posição perante o islamismo. Alguns autores, egípcios especialmente, consideraram que nacionalismo e Islão eram incompatíveis. Tal pretensão logo foi tentada desmentir desde as altas instâncias do partido. Logicamente, Michel Aflaq, como principal teórico do partido, já em 1943, assinalará que:
"O Islão representa a imagem mais brilhante da sua língua e da sua literatura (árabes), e a parte mais importante da sua história nacional é indissociável dele, porque o Islão na sua essência e na sua verdade é um movimento árabe que representa a renovação e o apogeu dessa realidade, porque nasceu no seu solo e da sua língua, porque o apóstolo (Maomé) é árabe e os primeiros heróis que lutaram pelo Islão e o fizeram triunfar foram árabes, porque a sua visão da realidade se identificava com o espírito árabe, as virtudes que fomentou eram virtudes árabes, implícitas ou explícitas, e os defeitos que fustigou eram defeitos árabes em vias de desaparecer".
Para Michel Aflaq o Islão tinha-se regenerado na época moderna no nacionalismo árabe.
Em qualquer caso, apesar de tais afirmações, o BAAS sempre foi suspeito de laicismo para os movimentos islâmicos, confrontando-se com estes em numerosas ocasiões.
A busca de um nacionalismo socialista levou-o a uma neutralidade teórica em política exterior, não alinhando nas correntes europeias.
6 – Ocidente e comunismo
Perante o ocidente, Michel Aflaq assume uma oposição resoluta, por entender estar face às potências coloniais que um dia exploraram os árabes, e impediram a sua unidade.
Mas tampouco se identificará com os países comunistas, pois o marxismo, na sua base ideológica, é contrário aos nacionalismos, e, portanto, antiárabe.
Perante o comunismo, Aflaq mostra um absoluto desacordo que concretizará em três aspectos:
1 - Contra o determinismo marxista, considera a revolução como um acto explosivo de liberdade.
2 - Contra o internacionalismo proletário, afirma o nacionalismo árabe.
3.Quanto ao papel da religião, Aflaq, contra o afirmado pelo marxismo, considera que moral e religião são valores fundamentais e eternos.
Isto levará a que o partido BAAS nos anos 40 e 50 seja profundamente anticomunista. Posteriormente, já no poder, estabelecerá algumas alianças temporárias com partidos comunistas, seguindo a política de Frente Nacional.
Mas, dado que o Ocidente apoia tradicionalmente Israel, em particular os Estados Unidos, Aflaq considerara já em 1956 como lógica a convergência com a União Soviética, por esta convergir na sua luta contra o Estado de Israel, e precisar de apoios exteriores neste sentido.
Na sequência disso, já em 1971, Salah Bitar analisará a situação do partido de forma muito crítica, afirmando que os jovens tinham passado a estudar o marxismo-leninismo, não por convicção comunista, mas por necessidade de uma formação ideológica que o partido não havia sido capaz de proporcionar.
Com o decurso do tempo, o poder baasista na Síria e no Iraque, onde governavam os dois ramos principais, e rivais, do Baas, viria a ser transformado por dentro em estrutura de suporte às ditaduras pessoais de Hafez Al Assad e Saddam Hussein.
Mas isto já é história conhecida.
Perante o ocidente, Michel Aflaq assume uma oposição resoluta, por entender estar face às potências coloniais que um dia exploraram os árabes, e impediram a sua unidade.
Mas tampouco se identificará com os países comunistas, pois o marxismo, na sua base ideológica, é contrário aos nacionalismos, e, portanto, antiárabe.
Perante o comunismo, Aflaq mostra um absoluto desacordo que concretizará em três aspectos:
1 - Contra o determinismo marxista, considera a revolução como um acto explosivo de liberdade.
2 - Contra o internacionalismo proletário, afirma o nacionalismo árabe.
3.Quanto ao papel da religião, Aflaq, contra o afirmado pelo marxismo, considera que moral e religião são valores fundamentais e eternos.
Isto levará a que o partido BAAS nos anos 40 e 50 seja profundamente anticomunista. Posteriormente, já no poder, estabelecerá algumas alianças temporárias com partidos comunistas, seguindo a política de Frente Nacional.
Mas, dado que o Ocidente apoia tradicionalmente Israel, em particular os Estados Unidos, Aflaq considerara já em 1956 como lógica a convergência com a União Soviética, por esta convergir na sua luta contra o Estado de Israel, e precisar de apoios exteriores neste sentido.
Na sequência disso, já em 1971, Salah Bitar analisará a situação do partido de forma muito crítica, afirmando que os jovens tinham passado a estudar o marxismo-leninismo, não por convicção comunista, mas por necessidade de uma formação ideológica que o partido não havia sido capaz de proporcionar.
Com o decurso do tempo, o poder baasista na Síria e no Iraque, onde governavam os dois ramos principais, e rivais, do Baas, viria a ser transformado por dentro em estrutura de suporte às ditaduras pessoais de Hafez Al Assad e Saddam Hussein.
Mas isto já é história conhecida.
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