A direita, as direitas e os partidos
Maria José Nogueira Pinto voltou mal humorada das férias e quem apanhou foi Manuel Monteiro.
Leia-se este artigo no DN:
Chego da Tunísia e verifico que, a propósito de quase nada, a silly season conseguiu produzir um aparente facto político.
Trata-se do famigerado congresso da direita portuguesa, depois tratado como "Estados Gerais". Aos iludidos promotores parece bastar a ocorrência do evento. A substância da questão está manifestamente fora das suas intenções e preocupações.
A convocatória seria do presidente do PND, mas, como ele próprio afirma, a título individual, visto que o seu partido ainda não decidiu se está à direita ou se está à esquerda.
A substância da questão é, contudo, muito diferente. E por isso o tal congresso da direita portuguesa não acontecerá certamente e uns "Estados Gerais", se acontecerem, o presidente do PND será certamente o último a saber.
A organização partidária do espaço da direita no post-25 de Abril sofreu uma evidente má formação genética explicável pelas circunstâncias históricas, o PREC, o pacto MFA-partidos e tudo o mais que se conhece, o que levou ao assentamento de uma direita "consentida". Nesse mesmo tempo, embora noutros espaços, uma parte significativa e representativa da direita portuguesa não viu nesses partidos nem poder de convocatória nem legitimidade representativa (releiam-se os programas então apresentados pelo PPD ou CDS) e optou por se manter à margem deles, resistindo quando foi preciso, votando útil quando e em quem considerou um mal menor.
A matriz partidária da direita sofreu esta perversão fundacional, o que explica que as respectivas bases estejam, em regra, mais à direita que os seus dirigentes e o facto de serem estes, e não os partidos organicamente considerados que, recorrentemente, mudam pelo discurso ou pela prática, os respectivos fundamentos doutrinários, com as consequências da deslocalização do eleitorado, a multiplicação das crises internas, a confusão do discurso e a mudança sucessiva de prioridades e programas.
Se é certo que a crise político-partidária é generalizada, atingindo do mesmo modo a esquerda, a ruptura histórica de 74/75, à direita, constituiu um ónus, ainda não ultrapassado.
A oportunidade da refundação da direita não decorre, contudo, do mau estado partidário, mas antes, por exemplo, da necessidade de fornecer enquadramento ideológico e doutrinário a modos concretos de ver Portugal, de rever conceitos face às grandes transformações das sociedades, de dar forma a aspirações e reivindicações quanto ao fundo e ao modo de governação.
Neste sentido - o único que realmente interessa - esta refundação parte de um exercício intelectual, cultural e político ocorrendo por definição fora do território partidário, caracterizado hoje por separar mais do que junta e partir mais do que une, ciclicamente desgastado por discórdias e cizânias internas.
Para este exercício são indispensáveis os que, para além dos partidos, reflectem estas questões, constroem pensamento, estudam, se informam e debatem com uma liberdade e rasgo que a cultura dominante subtrai aos que exercem actividades partidárias, em regra limitados a uma agenda mediatizada e medíocre.
É neste universo muito mais vasto - hoje curiosamente visível, por exemplo, na blogoesfera - que as direitas (e as suas novas gerações) se manifestam e se arrumam numa organicidade inorgânica, muito mais produtiva no plano das ideias e muito mais estimulante no plano interventivo. É assim que exercem a sua influência com um alcance transversal, suprapartidário, e comprovada eficácia.
Esta refundação só pode ocorrer por uma conjugação de vontades, na sua esmagadora maioria exógena aos partidos. Ou seja, a refundação da direita a partir de uma reflexão cruzada das direitas não é uma intenção ou iniciativa partidária. Ela ocorrerá se e quando estas vontades se conjugarem e nunca porque conjugadas.
Entende-se quanto a refundação da direita a partir das direitas - a que prosaicamente os partidos chamam "Estados Gerais" - seria útil para dar à intervenção partidária um rumo e um vigor que parecem perdidos.
Mas, neste caso, não basta wishfull thinking...
Fui sempre uma mulher de direita. Sou também, por livre e consciente opção, militante do CDS/PP.
Nesta dupla condição não quero ver precipitadamente queimadas estas ideias que noutras condições poderão ter valor substantivo e pernas para andar. Estou certa de que o partido saberá, sempre, qual é o seu lugar.
Leia-se este artigo no DN:
Chego da Tunísia e verifico que, a propósito de quase nada, a silly season conseguiu produzir um aparente facto político.
Trata-se do famigerado congresso da direita portuguesa, depois tratado como "Estados Gerais". Aos iludidos promotores parece bastar a ocorrência do evento. A substância da questão está manifestamente fora das suas intenções e preocupações.
A convocatória seria do presidente do PND, mas, como ele próprio afirma, a título individual, visto que o seu partido ainda não decidiu se está à direita ou se está à esquerda.
A substância da questão é, contudo, muito diferente. E por isso o tal congresso da direita portuguesa não acontecerá certamente e uns "Estados Gerais", se acontecerem, o presidente do PND será certamente o último a saber.
A organização partidária do espaço da direita no post-25 de Abril sofreu uma evidente má formação genética explicável pelas circunstâncias históricas, o PREC, o pacto MFA-partidos e tudo o mais que se conhece, o que levou ao assentamento de uma direita "consentida". Nesse mesmo tempo, embora noutros espaços, uma parte significativa e representativa da direita portuguesa não viu nesses partidos nem poder de convocatória nem legitimidade representativa (releiam-se os programas então apresentados pelo PPD ou CDS) e optou por se manter à margem deles, resistindo quando foi preciso, votando útil quando e em quem considerou um mal menor.
A matriz partidária da direita sofreu esta perversão fundacional, o que explica que as respectivas bases estejam, em regra, mais à direita que os seus dirigentes e o facto de serem estes, e não os partidos organicamente considerados que, recorrentemente, mudam pelo discurso ou pela prática, os respectivos fundamentos doutrinários, com as consequências da deslocalização do eleitorado, a multiplicação das crises internas, a confusão do discurso e a mudança sucessiva de prioridades e programas.
Se é certo que a crise político-partidária é generalizada, atingindo do mesmo modo a esquerda, a ruptura histórica de 74/75, à direita, constituiu um ónus, ainda não ultrapassado.
A oportunidade da refundação da direita não decorre, contudo, do mau estado partidário, mas antes, por exemplo, da necessidade de fornecer enquadramento ideológico e doutrinário a modos concretos de ver Portugal, de rever conceitos face às grandes transformações das sociedades, de dar forma a aspirações e reivindicações quanto ao fundo e ao modo de governação.
Neste sentido - o único que realmente interessa - esta refundação parte de um exercício intelectual, cultural e político ocorrendo por definição fora do território partidário, caracterizado hoje por separar mais do que junta e partir mais do que une, ciclicamente desgastado por discórdias e cizânias internas.
Para este exercício são indispensáveis os que, para além dos partidos, reflectem estas questões, constroem pensamento, estudam, se informam e debatem com uma liberdade e rasgo que a cultura dominante subtrai aos que exercem actividades partidárias, em regra limitados a uma agenda mediatizada e medíocre.
É neste universo muito mais vasto - hoje curiosamente visível, por exemplo, na blogoesfera - que as direitas (e as suas novas gerações) se manifestam e se arrumam numa organicidade inorgânica, muito mais produtiva no plano das ideias e muito mais estimulante no plano interventivo. É assim que exercem a sua influência com um alcance transversal, suprapartidário, e comprovada eficácia.
Esta refundação só pode ocorrer por uma conjugação de vontades, na sua esmagadora maioria exógena aos partidos. Ou seja, a refundação da direita a partir de uma reflexão cruzada das direitas não é uma intenção ou iniciativa partidária. Ela ocorrerá se e quando estas vontades se conjugarem e nunca porque conjugadas.
Entende-se quanto a refundação da direita a partir das direitas - a que prosaicamente os partidos chamam "Estados Gerais" - seria útil para dar à intervenção partidária um rumo e um vigor que parecem perdidos.
Mas, neste caso, não basta wishfull thinking...
Fui sempre uma mulher de direita. Sou também, por livre e consciente opção, militante do CDS/PP.
Nesta dupla condição não quero ver precipitadamente queimadas estas ideias que noutras condições poderão ter valor substantivo e pernas para andar. Estou certa de que o partido saberá, sempre, qual é o seu lugar.
6 Comments:
"Esta refundação só pode ocorrer por uma conjugação de vontades, na sua esmagadora maioria exógena aos partidos. Ou seja, a refundação da direita a partir de uma reflexão cruzada das direitas não é uma intenção ou iniciativa partidária. Ela ocorrerá se e quando estas vontades se conjugarem e nunca porque conjugadas."
Quase que se poderia passar esta reflexão para dentro do PNR!
Não é fácil gerir um "albergue"
Não. sr. Manel!?
Se bem me lembro o sr. já disse o mesmo por outras palavras!?
Legionário
A minha querida Zezinha anda mal informada (o PND já se afirmou de Direita, explicando-a), e depois anda com o travo a arrogância que não lhe conhecia...
Não foi esta senhora(?) que à uns tempos quando lhe foi posto o problema da presença e da "naturalização" de centenas de milhar de imigrantes africanos em portugal, a "sra" manifestou a sua total concordância dizendo que o problema se resolvia se esses se misturassem com os portugueses?
E será que é esta "sra." de direita? Ou será antes mais uma diretinha tachista e de "cu tremido" arauta da "igreja católica dos últimos dias"?
O prec,o be ou o ps não teriam vergonha em ter uma tal espécime nas suas fileiras! Afinal eles não são assim tão diferentes!
Mas cuidado: isto não é uma defesa das teses do manelinho "enjeitado" monteiro! Os "estados gerais da direita" só iam servir para lhe dar a importância que ele não tem!
Quanto ao pnr, deve aprender algo com isto, que é esquecer alguns dos "chavões" da direita e concentrar-se num verdadeiro nacionalismo activo e vivivel (eu sei que é dificil)! Quererá o pnr seguir o exemplo destes dois "ilustres" direitinhas do sistema?
"visivel" em vez de "vivivel"
Esta senhora anda com a memória muito curta... mesmo muita.
Nunca imaginei que a Dra. Nogueira Pinto, que conheci como, e julguei que ainda fosse, Monteirista agora se converteu em cds/nãoseibemoquê???
Fico triste =(
O Dr. Manuel Monteiro parece-me a última esperança da direita nacional, da direita dos valores isso é!
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