Fraudes intelectuais
Com frequência as teorias da história correspondem apenas a projectos políticos mal disfarçados. Apresentam-se como interpretações do real, mas não passam de expressões dos desejos dos seus autores.
Obviamente que, enquanto caucionadores de crenças, desempenham também um papel instrumental nada negligenciável no desempenho prático das ideologias que servem.
A fé na inevitável marcha da história rumo à sociedade sem classes, a confiança na inevitabilidade da sucessão das idades que nos levaria do capitalismo para o socialismo e deste para o paraíso terreno que seria o comunismo, confortou os sequazes do marxismo em todos os transes do século e meio que a utopia durou.
Hoje quase toda a gente olha com piedade para essas teorias pretensamente científicas, encontrando para elas tanto apoio da ciência positiva como para as profecias do Bandarra, o sistema joaquimita ou o mito do Quinto Império.
A marcha da História não obedece a quem julga descobrir-lhe os segredos.
O mesmo acontece com as construções contemporâneas.
A recente glória de famosas teorizações sobre “o fim da História”, apresentando como consumado o final da marcha da humanidade com o raiar da globalização do sistema hoje hegemónico (o que traria a eliminação das fontes de contradição e conflito, como prometia o marxismo oitocentista!) e a mais recente generalização interessada de teses sobre o “confronto de civilizações” (só na aparência expressando aspirações diferentes do exemplo anterior) servem também para corroborar as afirmações iniciais.
Espalhar a convicção da inevitabilidade de “choques de civilizações” contribui para reforçar as possibilidades de tais choques se agudizarem. Convém aos interessados em fomentar esses antagonismos, por reforçar a sua própria função liderante no bloco que querem ver solidificado. Ajuda a cortar pontes, a eliminar as vias de diálogo e comunicação, a calar os dissidentes e os moderados no campo que se pretende monopolizar.
Estamos perante criações intelectuais que visam dar um aval científico ao que no princípio e no fim não passa do desenvolvimento de estratégias políticas pensadas e deliberadas.
Obviamente que, enquanto caucionadores de crenças, desempenham também um papel instrumental nada negligenciável no desempenho prático das ideologias que servem.
A fé na inevitável marcha da história rumo à sociedade sem classes, a confiança na inevitabilidade da sucessão das idades que nos levaria do capitalismo para o socialismo e deste para o paraíso terreno que seria o comunismo, confortou os sequazes do marxismo em todos os transes do século e meio que a utopia durou.
Hoje quase toda a gente olha com piedade para essas teorias pretensamente científicas, encontrando para elas tanto apoio da ciência positiva como para as profecias do Bandarra, o sistema joaquimita ou o mito do Quinto Império.
A marcha da História não obedece a quem julga descobrir-lhe os segredos.
O mesmo acontece com as construções contemporâneas.
A recente glória de famosas teorizações sobre “o fim da História”, apresentando como consumado o final da marcha da humanidade com o raiar da globalização do sistema hoje hegemónico (o que traria a eliminação das fontes de contradição e conflito, como prometia o marxismo oitocentista!) e a mais recente generalização interessada de teses sobre o “confronto de civilizações” (só na aparência expressando aspirações diferentes do exemplo anterior) servem também para corroborar as afirmações iniciais.
Espalhar a convicção da inevitabilidade de “choques de civilizações” contribui para reforçar as possibilidades de tais choques se agudizarem. Convém aos interessados em fomentar esses antagonismos, por reforçar a sua própria função liderante no bloco que querem ver solidificado. Ajuda a cortar pontes, a eliminar as vias de diálogo e comunicação, a calar os dissidentes e os moderados no campo que se pretende monopolizar.
Estamos perante criações intelectuais que visam dar um aval científico ao que no princípio e no fim não passa do desenvolvimento de estratégias políticas pensadas e deliberadas.
3 Comments:
E que estratégias são então essas?
Notável texto.Diz com clareza aquilo que tenho tentado mostrar e que é uma estratégia de antagonização, em que os mestres (pouco subtis mas eficazes) são Bush e Putin. Extremistas alimentam extremistas e não podem viver uns sem os outros.
Brilhante
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