quinta-feira, agosto 03, 2006

Lembrando Manuel Maria

Na passagem dos 78 anos sobre o nascimento de Manuel Maria Múrias, recordamos o discurso por ele proferido num memorável comício no Pavilhão dos Desportos, na terça-feira 27 de Setembro de 1979. Alguns dos que se encontram aqui no "Sexo dos Anjos" também se encontraram lá!


VIMOS OCUPAR O ESPAÇO QUE NOS PERTENCE
Pela primeira vez desde o 25 de Abril a Direita apresenta-se ao eleitorado sem se disfarçar de centrista. Presos, exilados, saneados, espoliados, perseguidos, como que renascemos todos os dias. Desde há cinco anos os vexames não páram, mas nós resistimos; os insultos não cessam, mas nós nem os escutamos; os saneamentos mantêm-se, mas nós sobrevivemos. Reaparecendo, consideramo-nos muito mais do que a Esperança - consideramo-nos a Vitória.
Marginalizados até pelos bem pensantes, nós fomos considerados pela maior parte das forças conservadoras como carne para canhão: - dávamos a honra, a liberdade e a vida: sacrificávamos tudo - eles ganhavam os votos e os lugares de ministros. Chegou o solene momento de nos erguermos como um só homem - e gritarmos:

- BASTA!
Portugal não é uma quinta, nem nós somos só os seus seareiros. Portugal somos nós todos, intelectuais e cavadores de enxada, patrões e operários, os que morreram e os que estão para vir, homens e mulheres na sucessão dos séculos, caminho do futuro! Sendo Direita, assumimo-nos frontalmente como força destinada à Vitória. Somos mais e somos melhores! Nem aqui, nem além-mar em Africa, pactuámos com o inimigo. Continuamos a guerra começada em 1961. Perdemos muitas batalhas, mas enquanto um de nós for vivo e puder falar, manteremos na alma, marcada a fogo e sangue, a certeza inabalável de que vamos salvar Portugal!
Todos os partidos do Sistema concorrentes às próximas eleições têm responsabilidades na miséria que nos assola à porta. Desde a Revolução dos Cravos, directa ou indirectamente, foram eles que nos governaram! Para fechar o leque dos governativos só faltava em 1978 que o CDS se instalasse em S. Bento. Aliando-se ao Partido Socialista para organizar a chamada "coligação envergonhada", também o CDS assumiu as suas responsabilidades de desgoverno. Situamo-nos quase à cabeça das mais miseráveis nações da Europa, graças aos partidos senhorios do Sistema. Chega a Direita à liça eleitoral com as mãos claramente limpas - e com a certeza de ser a única alternativa ainda não experimentada depois do 25 de Abril que se opõe radicalmente a quase tudo quanto contribuiu para a perdição da Pátria.
Que se passou para atingirmos semelhante estado de degradação moral e material, de desonestidade, de ineficácia e de estupidez?
Até 1976 fomos atacados pelas costas por quem tinha jurado defender-nos a gloriosa bandeira da Pátria. Foi a ditadura do MFA.

QUISERAM-NOS CARNE PARA CANHÃO
Dando o braço aos partidos as duas centenas de militares que na madrugada do 25 de Abril ocuparam o País pela rádio, em menos de dois anos estoiraram alegremente com as centenas de milhões de contos-oiro que Salazar, pedindo-as aos portugueses, arrecadara prudentemente nos cofres do Banco de Portugal. Enquanto nos distraíam assim, metendo mão-cheias de notas de banco pela boca dos trabalhadores que não trabalham - o MFA e os partidos iam-nos destruindo territorialmente, abandonando todo o Ultramar, Portugal há mais de cinco séculos.
Aí cometeram os partidos do Sistema um crime de lesa-pátria. Aí fomos nós todos traídos pelos capitães de Abril - e traído o próprio Programa do MFA, que gravemente prometia que nenhuma decisão sobre a questão ultramarina, nenhuma decisão fundamental para o destino dos Portugueses, seria tomada sem o seu consentimento.
A Direita, em 1974, na Europa, na África e na Oceânia, tentou desesperadamente impedir a catástrofe. À nossa razão patriótica responderam-nos com os canos das espingardas. O 7 de Setembro em Lourenço Marques foi o primeiro sinal da revolta; o 28 de Setembro em Lisboa foi a maior prova da nossa ingenuidade. Tínhamos acreditado na força, no prestígio, e na valentia de António de Spínola e, enquanto a maior parte de nós era presa ou se exilava, Spínola recusava-se ao combate, resignando à chefia do Estado, enquanto o dr. Freitas do Amaral em Londres, e o eng.o Amaro da Costa em Madrid, aclamavam entusiasticamente as nossas prisões, a emigração forçada e o desfazer das nossas organizações políticas. Dias antes da "inventona" do 28 de Setembro, Barreirinhas Cunhal tinha exigido que se partissem os dentes à reacção. Com a ajuda dos partidos agora componentes da Aliança Democrática fizeram-nos saltar as dentaduras - é certo; repostos os dentes, cá estamos nós outra vez, dispostos ao combate e à vitória, determinados a salvar Portugal.
Veio depois o 11 de Março. Por essa altura, estava eu aboletado por conta do Orçamento-Geral do Estado na Prisão-Forte de Caxias. Com verdadeiro impacte, o Partido da Democracia Cristã lançara quase sozinho mais uma tentativa de resistência. Muitos de vós devem lembrar-se do dramático comício aqui mesmo efectuado e a que presidiu o maj. Sanches Osório. Íamos vencer de novo. Logo a seguir, embarcando tontamente numa armadilha, Spínola fugia - e atrás dele fugia também o heróico Sanches Osório, abandonando-vos à vosssa triste sorte, como é próprio dum oficial do MFA.
Não permitiram então que o Partido da Democracia Cristã concorresse às eleições - para não as ganhar. Aproveitando-se do espaço vazio assim criado, ressuscitou o CDS - podendo dizer-se agora que o centrismo é o refúgio de quantos, ainda amedrontados, não têm a coragem moral e física de se assumirem como homens da Direita.
Chegamos aqui como protesto vivo. Contestamos globalmente o Sistema. Contestamos a ineficácia, a desonestidade, e a estupidez. Contestamos principalmente a cobardia dos que nos tendo utilizado como se utilizam coisas, voltam a resguardar-se prudentemente no comodismo das ambiguidades que não significam coisa alguma, e na altissonância das promessas que se não podem cumprir.
Mais prisões e mais exílios se sucederam ao 11 de Março. Apressadamente o MFA (os Otelos os Meio Antunes, os Gonçalves e os Eanes) distribuíram ao desbarato o que restava da grandeza de Portugal. Depois de terem dado à União Soviética o último bocado da nossa terra ultramarina, e de terem deixado ocupar o Alentejo pela quinta-coluna sovietista, resolveram-se a desenhar caricaturalmente uma nova espécie de ordem democrática. Foi o 25 de Novembro:- à revolta popular respondeu o MFA com a desordem actual, com a subserviência ao Partido Comunista, com o domínio real de Melo Antunes no aparelho de Estado, a manipular Ramalho Eanes.

TEMOS UMA DOUTRINA E SOMOS UMA FORÇA
Outra vez a Direita se bateu com valentia e tenacidade. Outra vez foi miseravelmente ludibriada.Quiseram-nos como carne para canhão e nós demos-lhes a vitória; embrulhada em muitos discursos para salvar a democracia, o MFA e os partidos agarraram nela e entregaram-na solicitamente ao Partido Comunista.
Votámos CDS e votámos Eanes nas eleições de 1976. O CDS enganou-nos com o PS. Eanes enganou-nos com o PC. NAO VOLTAREMOS A SER LUDIBRIADOS!
Vimos, portanto, a ocupar o lugar que nos pertence, que está a ser ilegitimamente ocupado pelo civilizadismo da Aliança Democrática, que não nos quis com ela porque somos a Direita. Vimos, fundamentalmente, contestar o domínio dos comunistas que se instalou prepotentemente em Portugal, graças à timidez, à falta de coragem, à ambiguidade e à inabilidade política dos partidos ditos democráticos.
Só nós somos capazes de vencer a "maioria de esquerda", porque só nós somos suficientemente intransigentes nos princípios para não ficarmos imobilizados de terror pela truculência do adversário, pela sua falsa organização - pelo seu manobrismo tortuoso e sinistro. Em 74 e em 75, quem os comunistas e os socialistas quiseram abater definitivamente não foi nem o CDS, nem o PSD, nem o PPM: - foi a nós, porque só nós tínhamos demonstrado capacidade de os enfrentar de cara descoberta, e de os vencer na rua e nas ideias.
Temos uma doutrina - e somos uma força. O neo-capitalismo intervencionista da social-democracia é uma forma bem educada de dizer que tudo vai ficar na mesma. Ser centrista é procurar o equilíbrio pelo equilíbrio, é andar permanentemente na corda bamba para catrapiscar uns bocadinhos de poder, é não fazer coisa alguma e não deixar fazer os outros. E, essencialmente, pedir-nos os votos em nome dos interesses comuns - e, contados os papelinhos, marimbar-se na vontade explícita dos eleitores e ir à pressa aliar-se ao Partido Socialista para o ajudar na sua obra de ruína.
Governou a Direita Portugal ao longo de meio século.
Reivindicamos para nós essa herança gloriosa. Fomos nós quem, amorosamente, a partir de 1926,pegámos no corpo exangue da Nação e lhe sarámos as feridas. Não temos de nos envergonhar de coisa alguma:- sem descanso trabalhámos durante quase meio século para salvar Portugal meio destruído pela partidocracia - e para o defender, aqui e no Ultramar, da cobiça dos estrangeiros.
Nós somos os que se não renderam no 25 de Abril.
Nós somos os que acusámos o MFA e os partidos do Sistema de terem traído a Pátria. Nós somos o povo em revolta para redimir Portugal - e pronto a julgar não apenas os traidores, mas também os seus encobridores.
Enquanto o dr. Sá Carneiro se sentava à mesa do Conselho de Ministros e cedia a todas as exigências do Barreirinhas Cunhal - nós lutávamos desesperadamente em Angola e Moçambique para as salvar do despotismo comunista., Enquanto o dr. Freitas do Amaral ia em pessoa cumprimentar respeitosamente o chefe da quinta-coluna soviética - nós começávamos a ser presos. Enquanto o PSD e o CDS se curvavam diante do MFA, criando o Conselho da Revolução e a tutela militar que sofremos - nós continuávamos a resistir. Enquanto o avanço das forças esquerdistas parecia imparável fomos nós com o povo em armas, mas sem Forças Armadas, que criámos as condições necessárias para o 25 de Novembro.
Aí (mais uma vez) fomos traídos pelo MFA na pessoa de Ramalho Eanes, e pelos partidos na figura das suas oligarquias mandantes. Chegámos aqui, erguendo bem alto a nossa voz, porque não desistimos, porque não parámos de resistir, porque somos o presente e o futuro da Pátria, porque (uma vez por todas) nos determinános a vencer.

SOMOS A DIREITA
Somos a Direita. Vimos a ocupar o espaço que nos pertence e a mobilizar a nossa gente. A Aliança Democrática não pode representar-nos: - os seus homens foram cúmplices, com os comunistas e com os socialistas, da ruína actual. Foram governo. Se tivessem vergonha nem sequer se apresentavam ao eleitorado. A mudança que anunciam é uma espécie de marcar-passo. Uma forma de mudar para que tudo fique na mesma.
Não aprovaram eles a Constituição que renegam agora? Não aceitaram eles o Conselho da Revolução que tanto atacam agora? Não assinou o dr. Freitas do Amaral, como membro do Conselho de Estado de Spínola, a legislação de que resultou a "descolonização exemplar"? Não esteve no governo com Mário Soares?
Porque haveremos nós agora de votar neles se desde sempre têm faltado a todas as promessas? Quem nos garante que não voltará a anavalhar-nos pelas costas, como Sá Carneiro traíu Marcelo Caetano?
Deixámos de confiar neles porque eles não mudam. Já o provaram. A partir de agora, assumiremos nós próprios as nossas responsabilidade e a chefia do combate - e começaremos a reconstruir Portugal. Sem eles. Orgulhosamente sós.
Amparados no pensamento de Salazar, podemos repetir palavras suas de 1933:
Nós queremos para nós a missão de fazer com que um elevado critério de justiça e de equilíbrio humano presida à vida económica nacional. Nós queremos que o trabalho seja dignificado e a propriedade harmonizada com a sociedade. Nós queremos caminhar para uma economia nova, trabalhando em uníssono com a natureza humana, sob a autoridade dum Estado forte que defenda os interesses superiores da Nação, tanto dos excessos capitalistas como do comunismo destruidor. Nós queremos ir na satisfação das reivindicações operárias, dentro da ordem, da justiça e do equilíbrio nacional.
Nós queremos, simplesmente salvar Portugal para os portugueses.

À JUVENTUDE
Que as minhas últimas palavras sejam para vocês, jovens que me escutam.
Sobre vocês recai a tarefa imensa de assegurar o futuro. Sobre vocês recai a concreta responsabilidade da vitória. Desta vitória e das que virão depois. Viverei o bastante para vos ver vencer - e, pelo que sofreram todos os homens da minha geração, tenho o direito de vos exigir a vitória.
Portugal é vosso. Não viverá muito quem não vos aclamar no poder. Assim como recebi o testemunho das mãos de meu pai, assim ele vos será entregue já, para caminharmos juntos. Sereis vós quem irá à frente, iluminando~nos a inteligência e a vontade, e instilando-nos a vossa valentia. Portugal pertence-vos. Nós somos apenas os mais velhos - o que não é virtude. Se quiserdes, voltaremos a ser o que fomos, archote da civilização, anunciadores de Cristo no Mundo, dilatando a Fé e o Império.
Não vos peço que me sigam: exijo-vos que me empurrem! Por vós seguirei em frente, pelos novos caminhos que ireis descqbrir na luta de todos os dias.
Lembrai-vos que o que há para defender não é apenas a memória gloriosa dos que fizeram a Naçao. Lembrai-vos que o que há para defender é o futuro, o povo miúdo que não desarma, esta Terra e esta Gente que nos deu o ser e nos fez o que somos.
Vós sereis a nossa decisão - esta vontade inabalável de reencontrar Portugal e o entregar intacto e estuante de grandeza ao povo admirável que o moldou com o barro da terra, com as lágrimas dos olhos, com o sangue de quantos, aqui e além-mar, mereceram morrer por ele.
Rapazes!
Iluminai-nos o caminho! Erguei bem alto a chama da Pátria eterna! Nós precisamos do vosso alento, da vossa coragem - da vossa própria vida! Caminhai para a vitória! Portugal é vosso! Devolvei-o aos Portugueses!

VIVA PORTUGAL!

3 Comments:

At 6:35 da tarde, Anonymous Anónimo said...

"em menos de dois anos estoiraram alegremente com as centenas de milhões de contos-oiro que Salazar, pedindo-as aos portugueses, arrecadara"

é mentiroso!

 
At 6:36 da tarde, Anonymous Anónimo said...

"Fidel Castro foi um farol da Humanidade."

in Revsita n. 752, pagina 133

 
At 5:35 da tarde, Anonymous Anónimo said...

direita ou odiosa?

 

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