domingo, agosto 27, 2006

Nova Direita

Enquanto Manuel Monteiro anuncia o "Manifesto da Direita", coube a Manuel Brás o esforço de explicitar a ideia.
Ora aqui têm o artigo de Manuel Brás no jornal do PND.
Está bem feito. Será Manuel Brás o António Ferro de Manuel Monteiro?

O dia de hoje pode ficar para a história das ideias políticas em Portugal. Que nos últimos 30 ou 40 anos não tiveram qualquer história, a não ser a esquerda – o marxismo e seus derivados – a exercer a sua hegemonia ideológica sobre a “Direita” partidária – entenda-se CDS e PSD – conforme exigido pelo pacto “MFA-Partidos”. Essa direita partidária, que pensa rigorosamente o mesmo que a esquerda, vive satisfeita consigo própria, convencida que faz imenso com os lugares que dispõe na AR, quando na verdade, nas últimas 4 décadas não teve um único ideólogo ou doutrinador político que se visse, embora tenha tido um ou outro orador de peso, como Sá Carneiro ou Amaro da Costa. Mas, nada mais. É o vazio de ideias.
Ao fim de 30 ou 40 anos a esquerda continua, cada vez mais, a ter a direita que criou e a direita continua a ter a esquerda que merece.
O comício de Vila Praia de Âncora poderá ser a ruptura com a ditadura política e cultural da esquerda, devidamente suportada pela direita sonolenta e partidária.
Desde já surge uma necessidade premente: a NovaDemocracia, ao assumir a marca da Nova Direita, através da proclamação de um Manifesto, tem que se demarcar da direita não pensante. Mais, não chega demarcar-se, tem que fazer com que o eleitorado sinta e entenda a diferença, o que é um desafio e um risco.
Mas, que diferença?
Desde logo a identificação com o ideário do conservadorismo liberal. O “liberal” seria aqui escusado, se por conservador se entendesse, como é devido, um “liberal imerso pela realidade”, parafraseando Irving Kristol.
Neste ideário, é central e radical o realismo da condição humana, por contraste com as utopias da esquerda e, por arrastamento, da direita. A Nova Direita assume, assim, o realismo antropológico, por contraste com a ingenuidade antropológica.
A Nova Direita sabe que nem o mundo, nem os homens são perfeitos e recusa as utopias, sejam elas a sociedade sem classes ou o “paraíso na Terra”. A Nova Direita é anti-utópica.
A Nova Direita recusa o igualitarismo radical que se tenta impor por decreto. Não é tudo igual, não é tudo a mesma coisa.
A Nova Direita tem no Homem comum, real e concreto, um dos seus pilares, a par da Nação e do Estado, e anterior a uma e ao outro.
A Nova Direita reconhece a liberdade pessoal como uma capacidade intrínseca de que todo o ser humano é dotado e, consequentemente, encontra na responsabilidade pessoal um critério para o discernimento e a fundamentação de escolhas.
A Nova Direita consigna responsabilidades e protagonismo às estruturas históricas da sociedade civil: família, associações profissionais e culturais, municípios e Nação.
A Nova Direita concebe o Estado como uma emanação da Nação, como instrumento e organização para o serviço desta, e não o contrário. Por isso mesmo, deverá combater, em nome da tão apregoada liberdade, o monopólio estatal da educação, promovendo o cheque-ensino e considerando público o serviço que todas as escolas prestam, independentemente de serem estatais ou privadas.
A Nova Direita é soberanista e independentista, pugna por uma Europa de Nações e “vê” Portugal no Eixo Atlântico.
A Nova Direita recusa o ambientalismo malthusiano e catastrofista, que considera o homem como mais uma forma de vida igual às demais, quando não mesmo o grande mal da natureza. A Nova Direita reconhece a singularidade, a primazia e a centralidade do homem na natureza e preconiza o respeito pelo ambiente baseado nesse pressuposto.
A Nova Direita introduz no conservadorismo a dimensão intelectual e a base argumentativa.
A Nova Direita abre um novo paradigma político, na medida em que recentra as batalhas civilizacionais, não nos velhos dualismos direita-esquerda ou conservador-liberal, mas sim no confronto da utopia com a realidade e da anti-História com a História.

3 Comments:

At 3:10 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Apoio tudo o que li. Como ambientalista que sou, defendi há mais de 6 anos a tese que aqui se apresenta, do fundamental antropocentrismo da relação Homem/natuireza, e da impossibilidade do contrato natural, pelo menos tal como alguns ecologistas e racionalistas jacobinos no-lo apresentaram e apresentam. O que me fustiga aqui, a mim que até sou do PND e fui secretário geral adjunto por Leiria, é o seguinte: como vê o partido a sua relaçãocom o povo? Necessita dele para quê? O que tem para oferecer que possa ser-lhe mais útil do que os empregos, subsídios e contratos generosos que PS e PSD hoje oferecem? É um partido liberal deontológico ou utilitarista e, nesse sentido, teleológico? Se for deontológico, como pensa um dia chegar ao poder com as coisas como estão? Não é afinal o caldo nutritivo em que estamos mergulhados um caldo esquerdista, estatista, racionalista e jacobino, possivelmente até gramsciano? E se for utilitarista, como pensa manter a sua coerência ao mesmo tempo que conquista os votos populares? Em síntese, penso que o PND, e contra mim falo, não é um partido ajustável às "democracias" actuais, e por isso terá grandes dificuldades em se implantar. Sem acreditar demasiado no que vaticinou o padre António Vieira, surpreende-me não ver claramente qual a filiação política do PND na Europa ou no mundo. Aflige-me por vezes o silêncio em relação aos grandes temas da política internacional, em relação à igreja e ao seu arcebispado com sede no Vaticano. Ter-se-á descoberto a pólvora em Portugal? Estaremos a trilhar a História do Futuro, essa alameda do Quinto Império de que falava com brilho o mestre Agostinho da Silva? Sinceramente não sei. Ficaria mais seguro se conhecesse algumas coisas. Por exemplo: o que pensa o PND das ideias dos jesuítas da escola de Barcelona, tão glorificados pelo economista espanhol Jesús Huerta de Soto. E de um tal Hans Herman Hoppe, por exemplo. Numa palavra, que utilidade vê o (até agora) meu partido no povo?

 
At 7:52 da tarde, Blogger Francisco Múrias said...

Eu também concordo com este texto mas o que me preocupa é a total insensibilidade perante o direito que alguns dos dirigentes da ND têm:
-Quando esteve para sair a lei das rendas do Santana Lopes tive uma reunião com dois dirigentes do PND um era um advogado de gravata encarnada e outro era um «especialista» de imobiliario chamado se não me engano Pacheco Amorim. Expliquei-lhes todas as razões pela qual a lei era injusta . Eu explicava mas eles riam-se . Até que eu lhes expliquei de outra forma:
-Os senhores não estão a perceber bem o assunto - eu se perder a minha empresa, se perder a minha casa, se perder tudo o que tenho por causa de uma lei ... vou para terrorista
Aí, encostaram-se para trás na mesa,ficaram sem ar, deixaram de se rir mas penso que perceberam o meu ponto de vista

 
At 1:23 da manhã, Blogger VR said...

Mais uma razão para exigirmos uma melhor definição ao PND. O Francisco Múrias tem toda a razão e é sobre isto (o ataque à propriedade privada em curso pelos estados jacobinos ocidentais) que deveríamos questionar o PND, e não sobre qual a percentagem de votos que pensa "roubar" ao CDS nas próximas eleições legislativas ou sobre a sua definição teórica de "direita", naturalmente em face da maçonaria e das seitas emergentes da carbonária. Numa palavra: qual a posição do partido em relação ao Estado, tal como o conhecemos, e se tal posição é conciliável com o regime democrático vigente. Se não for, o PND deve obrigatoriamente mudar de estratégia. O reformismo só funciona quando acreditamos nas instituições existentes.

 

Enviar um comentário

<< Home