O escândalo de Setúbal
Todos estamos lembrados do episódio em que Durão guloso fugiu para Bruxelas lambendo os beiços, abandonando o cargo de Primeiro-Ministro em vista de um tacho mais apetitoso.
Nessa altura ergueu-se um coro de protestos indignados perante a eventual nomeação para o cargo do sucessor indigitado, Santana Lopes. Observava-se, justamente, que ninguém tinha votado no tal Santana. Como se propunha, a substituição era imoral e politicamente ilegítima - ainda que legalmente permitida.
Ainda assim, a cooptação consumou-se. Não porque alguém duvidasse da perversidade do processo, mas tão só porque outro raciocínio ainda mais perverso se sobrepôs.
Foi ele o caso de o Presidente Sampaio, sabidão, ter reflectido que a dissolver de imediato a Assembleia e convocar novas eleições teria pela frente um PSD vitimizado e refrescado e um Santana Lopes fogoso e virgem de responsabilidades, muito difícil de enfrentar. Era muito de recear então a derrota do PS e o fiasco presidencial.
Ao contrário, engolir o sapo, fazer um ar de legalismo compungido e empossar o governo Santana/Portas era jogada certa e segura. Uns meses de trapalhadas e forrobodó e o povinho estaria ansiando pelas urnas. Meu dito meu feito: rigorosamente como previsto por qualquer que conhecesse os sujeitinhos, de todo incapazes de gerir em condições nem que fosse o bar da esquina, o governo afundou-se, Sampaio dissolveu com largos aplausos e Sócrates alcançou a sua maioria absoluta.
O enredo veio-me à lembrança por causa dos acontecimentos recentes na Câmara de Setúbal.
É pacífica a convicção geral de que o resultado das eleições foi determinado por um lado pela imagem desastrosa do executivo PS/Mata Cáceres e por outro lado pela prestígio pessoal de Carlos Sousa. O certo é que o PCP ganhou; e ninguém sabe se ganharia sem Carlos Sousa.
Agora, num repente, o directório partidário resolveu romper com Carlos Sousa e o vereador Figueiredo e accionar as respectivas substituições. Também aqui o procedimento se afigura conforme ao que a lei permite, mas de legitimidade mais que duvidosa.
O que surge deste processo não é um executivo municipal inteiramente diferente do que resultou das eleições? Alguém pode seriamente dizer que os setubalenses votaram ou votariam na D. Maria das Dores Meira?
Outros já dissertaram sobre o que isto significa enquanto situação de autêntico confisco, ou esbulho, dos votos populares por parte das nomenklaturas partidárias.
Por mim limito-me a anotar a vergonha que constituem tanto a manobra como as cumplicidades que a permitem. E se a atitude do PCP ainda se percebe (se pode ter tudo sem riscos para quê arriscar eleições de resultado incerto?) e se a estratégia do PS também se compreende (a altura é má, só o peso da coincineração ameaça levar ainda mais para o fundo os resultados eleitorais) não posso deixar de comentar que as tergiversações do PSD me parecem indesculpáveis. O que pretendem obter com o arrastar de pés, o discurso enrolado e o hesitantismo cobarde?
Dos outros nem falo, já que se resignam à inexistência (não sei de mais nenhuma força política que se tenha pronunciado sobre os acontecimentos de Setúbal).
O que me importa são os cidadãos do Município de Setúbal. Exijam eleições, porra! Digam a esses gajos que não os conhecem nem os reconhecem! Somos gente ou somos gado, que eles pastoreiem como lhes apraz?
Nessa altura ergueu-se um coro de protestos indignados perante a eventual nomeação para o cargo do sucessor indigitado, Santana Lopes. Observava-se, justamente, que ninguém tinha votado no tal Santana. Como se propunha, a substituição era imoral e politicamente ilegítima - ainda que legalmente permitida.
Ainda assim, a cooptação consumou-se. Não porque alguém duvidasse da perversidade do processo, mas tão só porque outro raciocínio ainda mais perverso se sobrepôs.
Foi ele o caso de o Presidente Sampaio, sabidão, ter reflectido que a dissolver de imediato a Assembleia e convocar novas eleições teria pela frente um PSD vitimizado e refrescado e um Santana Lopes fogoso e virgem de responsabilidades, muito difícil de enfrentar. Era muito de recear então a derrota do PS e o fiasco presidencial.
Ao contrário, engolir o sapo, fazer um ar de legalismo compungido e empossar o governo Santana/Portas era jogada certa e segura. Uns meses de trapalhadas e forrobodó e o povinho estaria ansiando pelas urnas. Meu dito meu feito: rigorosamente como previsto por qualquer que conhecesse os sujeitinhos, de todo incapazes de gerir em condições nem que fosse o bar da esquina, o governo afundou-se, Sampaio dissolveu com largos aplausos e Sócrates alcançou a sua maioria absoluta.
O enredo veio-me à lembrança por causa dos acontecimentos recentes na Câmara de Setúbal.
É pacífica a convicção geral de que o resultado das eleições foi determinado por um lado pela imagem desastrosa do executivo PS/Mata Cáceres e por outro lado pela prestígio pessoal de Carlos Sousa. O certo é que o PCP ganhou; e ninguém sabe se ganharia sem Carlos Sousa.
Agora, num repente, o directório partidário resolveu romper com Carlos Sousa e o vereador Figueiredo e accionar as respectivas substituições. Também aqui o procedimento se afigura conforme ao que a lei permite, mas de legitimidade mais que duvidosa.
O que surge deste processo não é um executivo municipal inteiramente diferente do que resultou das eleições? Alguém pode seriamente dizer que os setubalenses votaram ou votariam na D. Maria das Dores Meira?
Outros já dissertaram sobre o que isto significa enquanto situação de autêntico confisco, ou esbulho, dos votos populares por parte das nomenklaturas partidárias.
Por mim limito-me a anotar a vergonha que constituem tanto a manobra como as cumplicidades que a permitem. E se a atitude do PCP ainda se percebe (se pode ter tudo sem riscos para quê arriscar eleições de resultado incerto?) e se a estratégia do PS também se compreende (a altura é má, só o peso da coincineração ameaça levar ainda mais para o fundo os resultados eleitorais) não posso deixar de comentar que as tergiversações do PSD me parecem indesculpáveis. O que pretendem obter com o arrastar de pés, o discurso enrolado e o hesitantismo cobarde?
Dos outros nem falo, já que se resignam à inexistência (não sei de mais nenhuma força política que se tenha pronunciado sobre os acontecimentos de Setúbal).
O que me importa são os cidadãos do Município de Setúbal. Exijam eleições, porra! Digam a esses gajos que não os conhecem nem os reconhecem! Somos gente ou somos gado, que eles pastoreiem como lhes apraz?
1 Comments:
Bem observado. É o velho PCP, no seu melhor, como o conhecemos há muitos anos. Mas que dizer, de facto, do comportamento dos outros partidos, na trapaça engendrada ?
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