O nascer do Sol
Ao que entendi de diversas leituras na imprensa de fim de semana, aliás convergentes com alguns zunzuns que vão chegando aqui às brenhas, a batalha mais importante da rentrée política, aquela que está a concentrar todas as atenções do pequeno universo político-mediático, não está este ano em nenhum acontecimento da vida partidária ou da agenda directamente política.
O que está a ocupar e a criar suspense, em crescendo, entre a classe política e os seus apêndices jornalístico-empresariais, é o aparecimento do novo semanário "O Sol".
Recordo que os políticos formam uma corporação, cada vez mais fechada, com tendência a dedicar-se sistematicamente a assuntos que não são aqueles que a generalidade dos seus concidadãos deles esperaria.
Diga-se porém a esse propósito que essa corporação é a única que nunca é atacada, nem mencionada, pelo anticorporativismo da moda, que até promove blogues expressamente destinados a combater o corporativismo (dos outros). Estranho esquecimento, se pensarmos que se trata da única corporação que decide sobre nós todos; facilmente compreensível, se pensarmos que para decidir sobre nós todos com a liberdade que pretende precisa de quebrar todas as resistências que se lhe possam opôr.
Pois o meio político, dizia eu, anda agitado e preocupado com a próxima aparição do "Sol".
A questão merece ser observada, sem displicências ingénuas.
Na sociedade em que vivemos um grande órgão de informação é um instrumento de poder essencial. Quem deseja ter poder não pode prescindir de, mais tarde ou mais cedo, impôr-se nessa área.
Por isso se observa, entre nós ou nas restantes sociedades com que gostamos de comparar-nos, que os grandes grupos económicos têm as suas televisões, os seus jornais nacionais, os seus "grupos de comunicação social", para usar o vocabulário em uso. Os que não têm querem ter, como acontece com as armas nucleares entre as potências.
Ora aqui é que bate o ponto: em Portugal não existe uma correspondência entre os principais grupos económico-financeiros e os principais "grupos de comunicação social". Existem algumas distorções importantes, uns têm e outros não têm. Não é normal que se domine parcela maior da economia nacional e não se tenha o correspondente peso na comunicação social, e a influência política daí resultante.
Este é o busílis do falado "Sol", que ao contrário do que anunciarão os publicitários mais imediatistas não vai certamente nascer para todos.
Tenho como certo que a relevância da batalha que se anuncia vai justificar extrema rudeza no combate. Não estranharia se viessemos a assistir mesmo a um desencadear de golpes baixos.
O que ninguém discutirá é que desde 1973 para cá o órgão de informação mais importante e mais influente na história política portuguesa tem sido o "Expresso". Esse facto fez nascer em diversos momentos projectos destinados, de forma declarada ou velada, a substitui-lo nessa posição. Para tal objectivo reuniram então os meios que os seus promotores julgaram necessários. Lembro, como exemplos mais próximos e mais evidentes, os casos do "Semanário" e do "Independente", cujos restos ainda sobrevivem.
Até ao presente, todas as experiências que visavam destronar o "Expresso" falharam as suas metas, ainda que tenham vivido alguns instantes de efémero triunfalismo. E não falharam por falta de meios financeiros... não foi esse, manifestamente, o problema decisivo.
Será que o "Sol" vai ser capaz de criar para si melhor sorte? Não vai ter a vida de um meteoro?
A aposta parece ser muito alta, da parte de gente que não pode jogar para perder. Aguardemos, portanto, para ver.
Mas não duvidem que o que está tem muita força.
3 Comments:
Penso que o "Sol" terá que construir e depois trilhar o seu próprio caminho. Se cair em imitações, não terá futuro.
Cumprimentos
Para já, tem um grafismo semelhante ao do «Expresso» e algumas excentricidades típicas do inenarrável «arquitecto», caso da cor do jornal mudar com as estações do ano. Depois, já tem a redacção cheia de jornalistas de esquerda, apesar do dinheiro que o paga ser mais «conservador». Pessoalmente, tanto se me faz como se me fez, porque não leio o «Expresso» nem certamente lerei o «Sol», que nascerá tanto do «sietema» como o seu rival já o é há muito tempo. Felizmente, não preciso da imprensa portuguesa para nada para estar informado.
Cá começam logo por ter uma policia que dá pelo nome de ASAE.O resto virá...
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