segunda-feira, setembro 04, 2006

Durezas, ou divagações sobre a “direita mole”

Temos então devidamente esclarecido o figurino da direita proposto pelos atlânticos.
O modelo propugnado é a “direita mole”, formalmente catalogada e caracterizada por Rui Ramos, deste modo assumido como o Lenine do agrupamento.
E o paradigma do “direitista mole” está no Professor Freitas do Amaral, apontado como exemplo vivo do ideal defendido.
Não se estranha a clarificação e pode mesmo dizer-se que ela exprime um consenso notório, que abrange críticos e entusiastas do movimento.
Desde o começo que uns e outros vinham convergindo na observação de que se trata de uma direita acidental, isto é, uma escolha táctica e momentânea em que o determinante é apenas o não querer ser de esquerda.
Assim mesmo a define o teórico: “a direita liberal está à direita porque não quer ser de esquerda”.
Como se verifica, o elemento de distinção não é ser de direita, é estar à direita. E está à direita... porque não quer ser de esquerda, ignorando-se porque razão ou fundamento não o quer.
Podia pensar-se que é por ser de direita; mas por aí não vai o definidor.
De feito, o que se afirma é apenas uma vontade: não quer ser de esquerda. Pode legitimamente suspeitar-se que até é realmente de esquerda e por qualquer motivo obscuro ou circunstancial não aceita a condição. A não ser que seja questão de moda. Ou exclusivamente por birra.
A mesma escolha semântica já se tinha notado a propósito das “noites à direita”, que me fizeram logo perguntar pelos dias – se eram à esquerda, ou talvez ao centro.
Desoladoramente, constata-se a voluntária renúncia a qualquer tentativa de afirmação que vá além da localização acidental. Nada de substancial, de essencial ou permanente tem lugar entre as congeminações do grupo.
Ao contrário: rejeita-se esse caminho. Segundo se pode entender pela apresentação da dicotomia, por aí caminha-se para a “direita dura” – que é precisamente aquela que a boa, a virtuosa, a mole, rejeita vigorosamente.
Fica portanto o vazio de ideias, onde a “direita mole” se sente à vontade.
Não é de esperar que a classificação de Rui Ramos venha a ultrapassar em glória a divulgada em tempos por Crane Brinton, mas parece-me ainda assim que não é totalmente desprovida de utilidade prática (a elevação teórica é duvidosa). Permite conhecer e fixar com suficiente nitidez os traços identificadores dos indivíduos (eles repudiariam a ideia de uma identidade colectiva) agora reunidos sob essa bandeira. O clube de fans do Professor Ciclóstomo.

1 Comments:

At 9:34 da tarde, Blogger Rodrigo N.P. said...

Não está on-line esse texto, pois não? De qualquer forma não consigo perceber por que há quem compre essa revista.É péssima... E o que significa estar à direita por não querer ser de esquerda? Que parvoice é essa? Aquilo que hoje está à direita da actual esquerda pode ser outra esquerda, porque o eixo político tem sido constantemente deslocado no sentido do progressivismo.Não li o artigo mas já imagino o género de mediocridades que ali forma debitadas.

 

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