segunda-feira, setembro 04, 2006

Em jeito de prefácio para um balanço

Engano-me muitas vezes e vivo quase sempre enredado em dúvidas, não sou como o outro que é agora rainha de Inglaterra onde uns por receios vãos e outros por esperança interessada o queriam ver rei absoluto.
Mas nisso não me enganei, pareceu-me sempre que o sonho dele era esse mesmo.
Falando deste blogue, por exemplo, logo surge uma prova viva das hesitações. Em Julho tinha pensado dar por finda a viagem mesmo no fim desse mês, quando se completassem os três anos da partida. Mas a decisão foi sempre digamos que indecisa, a verdade é que a vontade de continuar era pouca e a vontade de acabar também não era muita.
A continuação aborrecia-me e a conclusão fazia-me pena.
Ocorreu então o que temia. Um razoável número de opinantes falaram-me à vaidade, disseram-me que era lido, que lhes fazia falta, que não os abandonasse, etc. e tal. Como não tinha razões para desconfiar da sinceridade das declarações e elas me faziam bem ao ego, caí para esse lado. E o “Sexo dos Anjos” prosseguiu, sem grande convicção, au plaisir de Dieu.
Passado um pouco mais de um mês, continuo sem certezas.
Por um lado, sei da singularidade deste espaço. Sou um fulano sem amigos, que não é candidato a nada, longe de tudo e marginal a quase tudo. Posso perfeitamente dizer o que penso, e não preciso de calar o que em consciência julgo ser a verdade.
Poucos podem fazer o mesmo.
Por outro lado, se tenho as vantagens desse estatuto de marginalidade também carrego o fardo que ele acarreta. Como não sei de conveniências, posso bem ser inconveniente. Mas sei que estarei sozinho, que não terei o apoio do grupo ou do clan, que serei sempre um estranho para todas as mafias, negras, vermelhas ou brancas, que por aí pululam. Fui aprendendo que a blogosfera reproduz em muito o mundo de que emana, mesmo nos vícios. Quem não faça parte de algo identificável, não possa apresentar certificado de inclusão nos conformes, não conta na nossa pobre terra. Sofre a mais negra exclusão, na vida ou na tela. Mentiria se dissesse que tudo isso me é indiferente.
A blogosfera trouxe também para a rede, a par dos desalinhados como eu que nunca poderiam aspirar a exprimir-se fora dela (e por isso lhe estou grato), os hábitos enraízados das cooperativas de elogio recíproco, do fulanismo institucionalizado, do amiguismo mais mesquinho. O reconhecimento não decorre do mérito, mas de outras habilitações que o antecedem e o dispensam.
Generalizadamente as ideias não são consideradas por elas mesmas mas por quem as subscreve, e quem as subscreve não é avaliado por elas mas pela classificação que já tinha antes delas. Também entre os bloguistas domina o princípio antes de ser já o era.
Alguma frustração, algum azedume, sim senhor. Não deixei de ver na blogosfera as virtualidades e as potencialidades que de modo insistente lhe exaltei. Mas reconheço que ao menos por ora ela ainda é em grande medida um mundo virtual que espelha o mundo real, até nas deformações.

9 Comments:

At 9:19 da tarde, Blogger Nuno Adão said...

O meu amigo, parece logo no princípio do texto, Pirro, aquele grego que duvidava de tudo.
Sozinho, não está, o problema dos diferentes, dos não-alinhados, é não compartilham o que têm de melhor...
Enquanto houver uma luz, haverá sempre chama!

Cumprimentos de quem normalmente o lê...

 
At 9:43 da tarde, Anonymous Anónimo said...

No meu blog não são permitidos comentários anónimos.
Porém, lendo o Texto que o Manuel Azinhal escreveu, sinto-me obrigado a fazê-lo.
Se tivesse mail, enviaria este comentário, mas, aí, devidamente assinado.

Não me reconheço no Texto que escreveu, daí não me identificar, mas reconheço a Verdade que ele encerra.
Entrei na blogosfera muito recentemente, e rapidamente dei conta desta autêntica Feira de Vaidades.
Talvez por isso, cada vez mais escrevo para mim, mas sempre com o maior respeito por quem me venha a ler, como sei que é o seu caso.
Nos tempos que correm, não sei se é melhor conhecer os inimigos, do que ter amigos, é que aqueles não traem.
É notório o elogio circular, a par de maior falta de ideias, e cultura….
Mérito, é coisa que falta a muita gente.

Continue, O Sexo dos Anjos, é um Porto de Abrigo.
Precisamos dele, e do Manuel Azinhal.
A sua Seriedade, a sua Frontalidade encoraja-nos.
Continue!

Anónimo

 
At 9:50 da tarde, Blogger Francisco Múrias said...

Ainda antes de saber o que era um blog já ia parar ao «Sexo dos Anjos».Sem querer, através do Yhaoo.

Isto é cansativo e faz mal à vista e permite a pessoas como eu que mal sabem escrever português amandar bitaques mas o Sexo dos Anjos é fundamental. É um ponto de reunião. Lembro-me , ainda do tempo em que não sabia o que era um blog ,ter vindo parar ao seu, através de um motor de busca e lido umas histórias em que o Sr contava como A Rua servia de ponto de encontro das mais diversas pessoas da Direita.Hoje o Sexo dos Anjos cumpre essa função

Eu não estou aqui para lhe dar graxa e penso que não o conheço, mas custa-me vê-lo desanimado porque eu gosto das suas ideias e daquilo que o Sr. escreve.

 
At 12:20 da manhã, Blogger Miguel Vaz said...

"os hábitos enraízados das cooperativas de elogio recíproco, do fulanismo institucionalizado, do amiguismo mais mesquinho. O reconhecimento não decorre do mérito, mas de outras habilitações que o antecedem e o dispensam."

Genial!
Continue. O Sexo dos Anjos é o guardião da blogosfera "nacional".

 
At 3:41 da manhã, Blogger Mendo Ramires said...

Haja o que houver: sempre em frente, Manuel Azinhal!

 
At 11:41 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Oh Thoth, disse que o problema dos "diferentes", como diria Evola - dos Diferenciados, é por vezes não partilharem (ou terem dificuldades em faze-lo) aquilo que tem de melhor! Conheço gente "do melhor" que não consegue ultrapassar o seu "anacoretismo" felizmente que esta máquina permite que essas personagens se manifestem!
Eu para lhe ser sincero gosto mais da sua outra personagem, pois esta aqui parece-me demasiado real para ser verdadeira.O próprio "tom" (antes de ser já o era) em que escreveu é disso comprovativo. Como sabe não nos conhecemos pessoalmente nem nos viremos a conhecer (!?), não interessa. Tem sido e sei que é para muitos uma referência...
Olhe, faça o que lhe der na real gana

P.S. – Eu avisei-o par ir de férias e descansar um pouco! (eh!eh!eh!)

Legionário

 
At 2:45 da tarde, Blogger Vítor Ramalho said...

Não se deixe abater, a Pátria o exige.

 
At 3:05 da tarde, Blogger A minha verdade said...

Acredito que a partir de certo ponto a "singularidade" deste tipo de espaços se converta num dilema pessoal: Para quê prosseguir quando se está farto? Visando o quê?

Todos nós gostamos de ser reconhecidos e apoiados, mas ainda assim, há que ver obra feita, resultados práticos da nossa passagem. Ora, para um ilustre anónimo como o Manel, o seu blog deixa tanto a desejar quanto o sucesso que alcance. É que a certa altura sente-se que se poderia fazer mais com esse reconhecimento, algo que as limitações de um blog não permitem...

O Manel parece cansado de actuar na "singularidade deste espaço", cansado de estar "longe de tudo e marginal a quase tudo"... Mas há sempre alternativas!

Estarei certo?

 
At 5:19 da tarde, Blogger takitali said...

Caro amigo às vezes também rezo assim!
Mas o denominador comum de todos os visitantes que me precederam, parece-me ser o reconhecimento de que este espaço É uma "Casa Portuguesa" onde também gosto de aportar, onde encontro a generosidade de quem dá de si o que melhor tem, gratuitamente. A incerteza comanda a vida, “ como uma bola colorida nas mãos de uma criança”. (evocando o prof. Rómulo de Carvalho)
Um grande abraço.

 

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