O concentracionarismo
Em 1972 ou 1973, e considerando apenas a imprensa escrita que diariamente se publicava só em Lisboa, a opinião publicada abrangia um leque notoriamente mais vasto e diversificado do que acontece hoje no universo da imprensa escrita de expansão nacional.
Não é uma impressão subjectiva: basta agarrar nuns quantos exemplares dos jornais de então ("Diário de Notícias", "O Século", "Diário de Lisboa", Diário Popular", "República") e verificar.
A comparação com os órgãos de referência de hoje ("Expresso", "O Sol", "Público", "Diário de Notícias") é assustadora.
O grau de cinzentismo, de oficialismo, de uniformidade, que se atingiu a nível de produção de opinião é aterrador. Os grandes jornais nacionais disputam os mesmos comentaristas, os mesmos títulos, as mesmas opiniões, invariavelmente institucionalistas no pior sentido do termo. Note-se que se o estudo se alargar às publicações não diárias nacionais e locais de há 35 anos a comparação ainda resulta mais desequilibrada. Saíam então a "Política", o "Observador", a "Seara Nova", "O Tempo e o Modo", e mais uma mão cheia de periódicos de expansão mais larga ou mais limitada, que podiam ir dos maoístas do "Comércio do Funchal" até aos católicos conservadores da "Resistência" ou aos monárquicos da "Gil Vicente".
O leque fechou-se drasticamente. Os jornalistas agora quando se encontram não discutem ideias e opiniões, discutem marketing e mercado. As variações de tom ou de cor são só as que resultam das preocupações com as tiragens: no resto, tudo é monótono e monocromático.
A concentração da opinião, bem patente na imprensa, acompanha a concentração do poder, político e económico. Que em nada se altera com a titularidade, pública ou privada, do capital accionista.
O que é certo é que o pluralismo autêntico, em todos os campos, se apresenta mais e mais diminuído à medida que observamos o passar das décadas.
Não é uma impressão subjectiva: basta agarrar nuns quantos exemplares dos jornais de então ("Diário de Notícias", "O Século", "Diário de Lisboa", Diário Popular", "República") e verificar.
A comparação com os órgãos de referência de hoje ("Expresso", "O Sol", "Público", "Diário de Notícias") é assustadora.
O grau de cinzentismo, de oficialismo, de uniformidade, que se atingiu a nível de produção de opinião é aterrador. Os grandes jornais nacionais disputam os mesmos comentaristas, os mesmos títulos, as mesmas opiniões, invariavelmente institucionalistas no pior sentido do termo. Note-se que se o estudo se alargar às publicações não diárias nacionais e locais de há 35 anos a comparação ainda resulta mais desequilibrada. Saíam então a "Política", o "Observador", a "Seara Nova", "O Tempo e o Modo", e mais uma mão cheia de periódicos de expansão mais larga ou mais limitada, que podiam ir dos maoístas do "Comércio do Funchal" até aos católicos conservadores da "Resistência" ou aos monárquicos da "Gil Vicente".
O leque fechou-se drasticamente. Os jornalistas agora quando se encontram não discutem ideias e opiniões, discutem marketing e mercado. As variações de tom ou de cor são só as que resultam das preocupações com as tiragens: no resto, tudo é monótono e monocromático.
A concentração da opinião, bem patente na imprensa, acompanha a concentração do poder, político e económico. Que em nada se altera com a titularidade, pública ou privada, do capital accionista.
O que é certo é que o pluralismo autêntico, em todos os campos, se apresenta mais e mais diminuído à medida que observamos o passar das décadas.
2 Comments:
Excelente análise.
Mas, ...
O cinzentismo também chegou, para ficar, a certas revistas de ou à direita, ditas de referência.
Não só escrevem sempre os mesmos, como os temas são, também, sempre os mesmos.
E, por aqui ficamos.
Excelente comentário, Caro Manuel.
A «uniformização» tendente a um «pensamento único» reduccionista ao extremo, estupidificante mesmo, vai mais longe: não é de estranhar que muitos «artigos» dos ditos «jornais de referência» tenham exactamente o mesmo texto, só mudando uma vírgula por possível erro de digitação, tão apegados estão à «voz do dono».
É triste, na verdade, assistirmos a tanta sabujice, a tanta cobardia, a tanta estupidez em pessoas que deveriam ter um pouco mais de coluna vertebral, de educação, para não falar de patriotismo (que isso é coisa que desconhecem há muito).
E depois queixam-se de que os jornais apresentam acentuadas quebras de vendas. Pois que de «referência» só se for para sabermos a opinião dos «powers that be». Mas, para isso, bastava um pasquim governamental.
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