O novo Procurador-Geral da República
Creio que o Dr. Pinto Monteiro, que num primeiro momento só viu a passadeira vermelha, já deve estar a olhar apreensivo para o que o espera a seguir.
Alguns comentadores pouco perspicazes estranharam o aparente unanimismo das reacções positivas à nomeação de Pinto Monteiro. Por mim, só observei vénias de circunstância e cumprimentos que não disfarçavam a reserva mental.
Na verdade o novo PGR só por ingenuidade estará a contar com algum apoio de entre aqueles que lhe têm sido apontados.
Entre os juízes, que o conhecem, não haverá certamente vozes que o defendam quando as hostilidades começarem. Recorde-se que o homem andava por aí aos saltinhos a oferecer-se para um cargo à medida da avaliação que faz de si mesmo, achando-se mal empregado como simples Conselheiro. Apesar da efusiva autopromoção, não conseguia reunir mais do que três ou quatro votos, incluindo o seu.
Para Presidente do Supremo Tribunal de Justiça não iria de certeza.
Porém, a agitação tornou-se notada, até pelo frenesim (era agora ou nunca, tinha feito 64 anos e sentia-se como uma donzela trintona em desespero de causa) e acabou por encontrar-se com as conveniências dos decisores políticos que procuravam a solução para o caso. Foi nomeado PGR.
Talvez o próprio não tenha notado, mas para isso também contribuiu o sentimento generalizado entre o topo da hierarquia do MP: a sensação que reinava era a de que quem fosse agora era para levar pancada. Como ninguém gosta desta perspectiva, o cargo foi muito menos cobiçado do que seria normalmente.
Todavia, permanece um facto insofismável: para o MP o novo PGR será sempre um estranho. Se ele está a contar com alguma solidariedade desse lado, quando precisar dela, bem pode esperar sentado.
E quanto aos políticos que pactaram a nomeação, e aos jornalistas que formaram a fanfarra e o coro?
Esses estão aí para cobrar. Se o novo PGR se iludiu, muito cedo verá desfeitas tão fagueiras ilusões – que só mesmo a vaidade pode explicar.
As múltiplas entrevistas, desde o “Público” a “O Diabo”, ainda irão ser-lhe lembradas. Há-de ter saudades desse tempo em que era tão fácil arrancar uns títulos simpáticos com umas frases inconsequentes e bem sonantes.
As suas responsabilidades no mundo do futebol (que agora vi surpreendentemente apresentadas como “breve passagem") hão-de ser exploradas a seu tempo.
A experiência, de nomeação política, na Alta Autoridade Contra a Corrupção, agora usada para um pomposo e fantasista arranjo na biografia, há-de ser mencionada como o fiasco que efectivamente foi, atentos os resultados (a tal Alta Autoridade era tão inútil tão inútil que conseguiu ser reconhecida oficialmente como tal e foi extinta por esse motivo).
O envelope 9, o “apito dourado”, o Pinto da Costa, a Casa Pia, a Fátima Felgueiras, tudo permanece prontinho para dar a lenha para a fogueira.
As facturas não vão faltar. E a sua incapacidade, ou a impossibilidade, de satisfazer as expectativas daqueles que o atiraram para o cargo, vão fazer com que o céu lhe caia em cima da cabeça. Só não sei é quando.
De algo tenho a certeza: a Souto Moura o que mais custou foi a solidão em que se encontrou algumas vezes em que precisava de sentir-se acompanhado; a Pinto Monteiro, ou a solidão lhe é indiferente, ou vai doer-lhe muito mais.
P.S. – Vi na televisão Souto Moura a declarar que há momentos para não dizer nada. Vi depois em diversos sítios Jorge Sampaio a desdobrar-se em comentários que me parece justificarem apenas este: anda a pedi-las. Espero e desejo que Souto Moura, quando entender oportuno, liberto das grilhetas institucionais, diga em voz alta o que a seu tempo calou - e lhe dê aquilo que ele merece.
Alguns comentadores pouco perspicazes estranharam o aparente unanimismo das reacções positivas à nomeação de Pinto Monteiro. Por mim, só observei vénias de circunstância e cumprimentos que não disfarçavam a reserva mental.
Na verdade o novo PGR só por ingenuidade estará a contar com algum apoio de entre aqueles que lhe têm sido apontados.
Entre os juízes, que o conhecem, não haverá certamente vozes que o defendam quando as hostilidades começarem. Recorde-se que o homem andava por aí aos saltinhos a oferecer-se para um cargo à medida da avaliação que faz de si mesmo, achando-se mal empregado como simples Conselheiro. Apesar da efusiva autopromoção, não conseguia reunir mais do que três ou quatro votos, incluindo o seu.
Para Presidente do Supremo Tribunal de Justiça não iria de certeza.
Porém, a agitação tornou-se notada, até pelo frenesim (era agora ou nunca, tinha feito 64 anos e sentia-se como uma donzela trintona em desespero de causa) e acabou por encontrar-se com as conveniências dos decisores políticos que procuravam a solução para o caso. Foi nomeado PGR.
Talvez o próprio não tenha notado, mas para isso também contribuiu o sentimento generalizado entre o topo da hierarquia do MP: a sensação que reinava era a de que quem fosse agora era para levar pancada. Como ninguém gosta desta perspectiva, o cargo foi muito menos cobiçado do que seria normalmente.
Todavia, permanece um facto insofismável: para o MP o novo PGR será sempre um estranho. Se ele está a contar com alguma solidariedade desse lado, quando precisar dela, bem pode esperar sentado.
E quanto aos políticos que pactaram a nomeação, e aos jornalistas que formaram a fanfarra e o coro?
Esses estão aí para cobrar. Se o novo PGR se iludiu, muito cedo verá desfeitas tão fagueiras ilusões – que só mesmo a vaidade pode explicar.
As múltiplas entrevistas, desde o “Público” a “O Diabo”, ainda irão ser-lhe lembradas. Há-de ter saudades desse tempo em que era tão fácil arrancar uns títulos simpáticos com umas frases inconsequentes e bem sonantes.
As suas responsabilidades no mundo do futebol (que agora vi surpreendentemente apresentadas como “breve passagem") hão-de ser exploradas a seu tempo.
A experiência, de nomeação política, na Alta Autoridade Contra a Corrupção, agora usada para um pomposo e fantasista arranjo na biografia, há-de ser mencionada como o fiasco que efectivamente foi, atentos os resultados (a tal Alta Autoridade era tão inútil tão inútil que conseguiu ser reconhecida oficialmente como tal e foi extinta por esse motivo).
O envelope 9, o “apito dourado”, o Pinto da Costa, a Casa Pia, a Fátima Felgueiras, tudo permanece prontinho para dar a lenha para a fogueira.
As facturas não vão faltar. E a sua incapacidade, ou a impossibilidade, de satisfazer as expectativas daqueles que o atiraram para o cargo, vão fazer com que o céu lhe caia em cima da cabeça. Só não sei é quando.
De algo tenho a certeza: a Souto Moura o que mais custou foi a solidão em que se encontrou algumas vezes em que precisava de sentir-se acompanhado; a Pinto Monteiro, ou a solidão lhe é indiferente, ou vai doer-lhe muito mais.
P.S. – Vi na televisão Souto Moura a declarar que há momentos para não dizer nada. Vi depois em diversos sítios Jorge Sampaio a desdobrar-se em comentários que me parece justificarem apenas este: anda a pedi-las. Espero e desejo que Souto Moura, quando entender oportuno, liberto das grilhetas institucionais, diga em voz alta o que a seu tempo calou - e lhe dê aquilo que ele merece.
2 Comments:
Ainda bem que tudo isto disse. Fala quem sabe.
Associo-me à esperança da franqueza futura de Souto Moura. O Dr. Jorge Sampaio já gozou de benevolência suficiente com o outro silêncio auto-imposto, o do ex-Governador de Macau Vasco Rocha Vieira.
Excelente clareza e franqueza da análise plasmada no post agudo.
Ainda para mais quando volta a perseguição de van Krieken e outros. Veja-se o caso do Verbo Jurídico: http://verbojuridico.blogspot.com/2006/10/os-parasitarium-jornalistfilus.html
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