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Nos tempos que correm um indivíduo que chacinou a mãe ou violou a filha tem fortes probabilidades de surgir em grande vedeta num qualquer programa televisivo de grande audiência.
Ao serão, em horário nobre, o país inteiro, guiado pelo olhar compreensivo e meigo da D. Júlia Pinheiro ou da D. Fátima Campos Ferreira, poderá tomar conhecimento mais íntimo do percurso de vida do personagem desde a mais tenra infância, aproximar-se do seu caso humano, descobrir o seu drama pessoal.
Um painel de ilustres comentadores explicará melhor, com devido enquadramento científico, a complexidade da alma, os abismos da sociologia, os desígnios insondáveis e misteriosas da existência, os pobres limites dos nossos juízos de valor ou de condenação.
As entrevistadoras, plenas de zelo pedagógico, lágrima ao canto do olho, farão saber que não se trata de julgar, e muito menos condenar, visto que estamos ali todos para aprender uns com os outros.
Imagine-se porém que o programa se centra em alguém do outro lado, chamado ao pretório por força de algum acontecimento mais mediatizado como alguns que aconteceram nestes últimos dias.
A D. Júlia Pinheiro e a D. Fátima Campos Ferreira, vibrantes, metralham o desgraçado posto no pelourinho com o vigoroso libelo acusatório. O país, asseguram elas, exige explicações. Mas se o convocado tenta dá-las, paciente, logo as ardentes porta-vozes da indignação cívica o interrompem, impacientes com o despautério das justificações. O olhar faísca, as palavras fuzilam.
No lugar dos jurados, o friso dos peritos e especialistas convidados, com ar sisudo e grave, abana a cabeça em tom reprovador.
No final, moralistas e triunfantes, as valentes pasionarias, inconformadas, dirão aos senhores telespectadores que tudo permanece inexplicado e inaceitável.
Ocorreram-me estas comparações ao meditar numa notícia dos últimos dias. Como sabem os leitores de jornais, suicidou-se há dias em Lisboa, numa rua da Ajuda, o jovem oficial de polícia que comandava a divisão de trânsito instalada em Santa Marta. Era um rapaz de 24 anos, no cargo há três meses. Era filho e neto de polícias, bem conhecidos na cidade de Évora onde prestaram serviço toda a vida. Foi ontem a enterrar, nesta cidade. Tratou-se já do sétimo suicídio na PSP durante o ano corrente. Quem pensar que esta estatística em nada se relaciona com as situações que comecei por descrever não percebe nada do que se passa.
Ao serão, em horário nobre, o país inteiro, guiado pelo olhar compreensivo e meigo da D. Júlia Pinheiro ou da D. Fátima Campos Ferreira, poderá tomar conhecimento mais íntimo do percurso de vida do personagem desde a mais tenra infância, aproximar-se do seu caso humano, descobrir o seu drama pessoal.
Um painel de ilustres comentadores explicará melhor, com devido enquadramento científico, a complexidade da alma, os abismos da sociologia, os desígnios insondáveis e misteriosas da existência, os pobres limites dos nossos juízos de valor ou de condenação.
As entrevistadoras, plenas de zelo pedagógico, lágrima ao canto do olho, farão saber que não se trata de julgar, e muito menos condenar, visto que estamos ali todos para aprender uns com os outros.
Imagine-se porém que o programa se centra em alguém do outro lado, chamado ao pretório por força de algum acontecimento mais mediatizado como alguns que aconteceram nestes últimos dias.
A D. Júlia Pinheiro e a D. Fátima Campos Ferreira, vibrantes, metralham o desgraçado posto no pelourinho com o vigoroso libelo acusatório. O país, asseguram elas, exige explicações. Mas se o convocado tenta dá-las, paciente, logo as ardentes porta-vozes da indignação cívica o interrompem, impacientes com o despautério das justificações. O olhar faísca, as palavras fuzilam.
No lugar dos jurados, o friso dos peritos e especialistas convidados, com ar sisudo e grave, abana a cabeça em tom reprovador.
No final, moralistas e triunfantes, as valentes pasionarias, inconformadas, dirão aos senhores telespectadores que tudo permanece inexplicado e inaceitável.
Ocorreram-me estas comparações ao meditar numa notícia dos últimos dias. Como sabem os leitores de jornais, suicidou-se há dias em Lisboa, numa rua da Ajuda, o jovem oficial de polícia que comandava a divisão de trânsito instalada em Santa Marta. Era um rapaz de 24 anos, no cargo há três meses. Era filho e neto de polícias, bem conhecidos na cidade de Évora onde prestaram serviço toda a vida. Foi ontem a enterrar, nesta cidade. Tratou-se já do sétimo suicídio na PSP durante o ano corrente. Quem pensar que esta estatística em nada se relaciona com as situações que comecei por descrever não percebe nada do que se passa.
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