segunda-feira, dezembro 18, 2006

Violência

Nas escolas secundárias por onde passo estão a decorrer obras, aliás lentas e arrastadas como costumam ser as obras públicas.
Ao princípio pensei que poderia tratar-se de qualquer melhoria útil à finalidade que é suposto ser a de uma escola, mas a minha instintiva boa fé logo se viu desmentida por mais atenta observação.
Os tais trabalhos traduzem-se em melhorar as condições de segurança, preocupação que modernamente aflige toda a gente com ligação às escolas. Trata-se de construir nas entradas instalações para os guardas, como dantes no imaginário do cidadão comum só se viam nas prisões, trata-se de erguer obstáculos que isolem do exterior e vedem os estabelecimentos escolares, levantando muros e gradeamentos.
As nossas escolas estão a ficar parecidas com quartéis ou prisões, tornando regra uma espécie de estado de sítio.
Compreendo assim que quem lá esteja dentro sinta sérios problemas de claustrofobia, tenha complexos próprios de quem se sente cercado e assediado.
Este fenómeno não é muito antigo, e todavia parece ser encarado com resignação, ou aceite como normal, pela generalidade da sociedade.
Gozará de boa saúde uma sociedade em que ir para a escola seja tido comummente como um risco de assaltos e agressões? Será aceitável uma situação em que os responsáveis pelas escolas têm que preocupar-se antes do mais com questões elementares de segurança, em vez de poder centrar-se nas questões básicas do ensinar e do aprender?
Creio que uma cegueira colectiva nos impede de ver o evidente, ou então há um impulso que nos desvia o olhar.
Também é verdade que no futebol, que é um jogo, se generalizou e vulgarizou uma situação em que é impensável organizar um encontro sem planear a segurança como se de um confronto militar se tratasse.
E ninguém parece revoltar-se contra essas anomalias. Um jogo rodeado de milhares de polícias, armas, bastões, canhões, escudos e viseiras, ou escolas amuralhadas, guardadas por seguranças, isoladas por detectores de metais e vigiadas por câmaras digitais.
O mundo está a enlouquecer, e não dá por isso.

1 Comments:

At 4:12 da tarde, Blogger Nuno Adão said...

O deus Thoth já deu por isso á muito tempo...Só é pena, que o país apenas funcione por corporações, cada uma chamando a si mais direitos...enfim...

Cumprimentos

 

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