terça-feira, julho 24, 2007

Entrevista com o Corcunda, autor do "Pasquim da Reacção"

E agora uma produção NOVOPRESS:

O autor do blogue Pasquim da Reacção (ver sítio), que se tornou uma referência da defesa das tradições na blogosfera portuguesa, não se encaixa nos estereótipos habituais. Jovem a terminar o doutoramento, o Corcunda pratica surf e diz-se que é adepto de boas jantaradas. Fomos entrevistar esta enigmática personagem para saber mais sobre as suas opiniões e forma de ver o mundo.

1) Como se define politicamente o Corcunda?
Sou um “comunitarista”, no sentido em que acredito que os homens apenas conseguem realizar a sua função neste mundo, inseridos numa comunidade política que visa a prossecução de finalidades colectivas e não de uma qualquer cosmopolis que dita regras abstractas. Uma comunidade política como Portugal, com uma História e com tradições antigas – o que é, de facto, uma Nação – comporta um determinado número de obrigações e possui como elemento essencial uma identidade narrativa que enquadra os que participam dessa existência comum na realização da Justiça, a ordenação da comunidade e da Virtude, a ordenação da alma humana no sentido do Bem. Para tal, e para que esse Bem não seja meramente uma expressão dos interesses da comunidade, há que compreender a estrutura da Realidade, daquilo que é superior ao humano e que dita o seu lugar no Mundo. O Cristianismo é essa compreensão do Mundo, que incorpora, ao contrário do que se apregoa por aí, Filosofia – o sacrifício de Sócrates – e a Religião – o sacrifíco de Deus na Cruz.
Resumindo a coisa a “ismos”, como forma de simplificar, serei “nacionalista”, porque acredito que os homens se realizam e compreendem na comunidade e que tal só pode ser realizado pela compreensão das tradições, que são a verdadeira identidade de uma Nação – daí o meu “tradicionalismo”.
Como acredito que uma comunidade deve estar virada para a realização do Bem, da Justiça e da Virtude, o Cristianismo, não sendo uma ideia política, desempenha também um papel importante na política.
2) De que forma podem os católicos tradicionalistas chegar aos jovens?
O Tradicionalismo Católico chega através da Igreja e de algumas entidades que lhe são associadas e da educação e cultura que esta consegue inculcar na sociedade.
Por seu turno, há um conjunto de valores políticos que o Cristianismo implica e que podem ser partilhados por não-Cristãos, como é o caso da “ética de virtude”, da vivência das tradições, da defesa da concepção orgânica da sociedade, dos valores da Família, dos valores nacionais, da compreensão da “liberdade ordenada”. O “tradicionalismo”, enquanto ideia política não se restringe sectariamente (como o fazem as ideologias) aos Católicos, dirigindo-se a todos os que acham que há valores civilizacionais que devem ordenar as comunidades políticas.
Mostrar aos jovens a forma como as sociedades se degradam na medida exacta em que decidem abandonar o caminho dos valores e da perseguição do Bem Comum, substituindo-os por bens individuais, é o único caminho. Em todas as sociedades os que estão dispostos a fazer esse diagnóstico e a viver segundo esses princípios são sempre poucos. A capacidade destes encontrarem formas inventivas de cativar os “muitos”, sem sacrificar o essencial, determina quase sempre a qualidade da comunidade política. Boa escrita, boas ideias, espírito de serviço, preserverança e alguma coisa importante a dar a uma parte significativa da sociedade, são indispensáveis a todas as concepções políticas…
3) Analisando o actual processo de perda de valores, considera que estamos a chegar a um ponto de não-retorno, ou ainda há solução?
O problema dos nossos dias não se encontra, ainda, na inexistência de caminhos para a recuperação espiritual. Existe ainda o Cristianismo, doutrina, livros, história e algumas tradições… Leo Strauss, que muitos conhecem através de uma corruptela da sua obra a que se chama habitualmente “neoconservadorismo”, diagnosticou bem o problema da Modernidade. O problema do “totalitarismo” não está nas proibições e restrições que os governos impõem, mas num conjunto de ideias que impedem que os homens pensem o certo e o errado. Conseguido isso, o homem torna-se um animal, incapaz de compreender algo superior aos seus desejos, prostrando-se incondicionalmente aos políticos a troco de um prato de comida.
É a história do nosso presente… Hoje apregoa-se muito o pluralismo e, no entanto, as propostas políticas são todas iguais (mais Estado, direitos laborais, Democracia, igualitarização material, regulação…)!
Combater a ideia de que tudo é igual ao seu oposto, é manter a escada da racionalidade. Se o “relativismo” vencer à escala global, resta a Providência. Enquanto houver Fé e Razão, há Esperança. Depois disso…
4) Considera que existe no mundo algum movimento organizado com o objectivo de destruir antigos valores tradicionais?
Há muitos, mas essa é a Natureza do nosso Mundo. O problema não está no Erro, mas na ideia de que o Erro não existe, que o ambiente intelectual contemporâneo quer fazer crer. Há muitas instituições e pessoas bem-intencionadas que o defendem. O inferno está cheio de boas intenções…
Não há uma inteligência humana por detrás dessa ofensiva e se esta é concertada, mas é certamente a expressão de uma tendência que existe no Homem que o afasta da sua realização.
5) Qual a opinião que tem da utilidade dos blogues no combate cultural tradicionalista?
Fundamental. Não vejo outro meio onde se combine a acção doutrinária, a análise da actualidade, a interactividade entre os leitores e os autores, em tão boa medida. Foi através do blogue A Casa de Sarto e dos seus autores JSarto e Rafael Castela Santos, que o meu Catolicismo difuso se tornou mais preocupado com a ortodoxia. Não é coisa pouca…
6) Não pode ser um pouco antagónico ser católico e nacionalista? Recorde-se que Charles Maurras e a Action Française sofreram excomunhão, enquanto os integralistas portugueses nunca foram vistos com bons olhos pela hierarquia católica portuguesa.
Enquanto o “nacionalismo” não for ideológico e a Nação ocupar o seu legítimo lugar na ordem das coisas, a Igreja nunca terá a opor. É parte essencial da Doutrina Cristã a ideia de que a natureza humana só se realiza na comunidade política. Se olharmos para a nossa Nação, geneticamente Cristã, veremos que a sua construção vai de mãos dadas com a Religião. Estranho seria para os construtores da Nação Portuguesa, imaginá-la desligada dos valores da Cristandade! Essa é a Nação e o “nacionalismo” que me interessa. O erro condenado, e bem, pela Igreja em certos “nacionalismos” (ao contrário do que muitas vezes se diz, não há um nacionalismo, mas muitos) é a ideia da sua supremacia ou independência em relação à Moral e à Verdade. A ideia de que um Estado não tem de possuir uma ordenação moral e que são as suas conveniências, dos seus líderes ou membros, que ditam o que é moral ou imoral, o que é justo ou injusto, é uma ideia que conduz aos “totalitarismos” e outras doenças espirituais. É precisamente essa preocupação o que me afasta dos movimentos nacionalistas actuais
7) Obrigado pela entrevista. Alguma consideração final?
Apenas agradecer o vosso interesse nestas “verdades vencidas”, que não dependem de números, apoiantes, que não são apelativas para o Mundo Moderno, por não serem imediatas e de fácil apreensão.

Como é habitual nas entrevistas Novopress, algumas perguntas rápidas às quais o Corcunda deve responder com o mínimo indispensável (se possível algumas palavras apenas):
- Motu Proprio
Um passo importante para o reencontro da Igreja com a sua identidade.
- Teologia da Libertação
A prova de que nem todas as formas de pensamento que mencionam Cristo são Cristãs.
- Monarquia
A melhor das formas de Governo quando verdadeiramente monárquica e não como o sucedâneo “desnatado” que não protege a Nação contra a ditadura das maiorias.
- Bento XVI
A grande esperança na Restauração do Mundo. Talvez a única…
- Neo-paganismo
Como disse Chesterton, “Quando as pessoas deixam de acreditar em Deus, não passam a acreditar em nada – acreditam em qualquer coisa”.

1 Comments:

At 1:24 da manhã, Anonymous Anónimo said...

O meu caro Manuel trata-me bem demais...

Um abraço

O Corcunda

 

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