domingo, julho 08, 2007

Impasse

Eu gosto de gostar. Como calculam, essa bizarria tem-me feito sofrer terríveis problemas de inserção social. O caso foi-se agravando com o tempo, mas é um fardo que carrego desde que me lembro. Os nossos concidadãos, em geral excelentes pessoas, só gostam verdadeiramente de dizer mal. Nunca sociabilizam sem que isso implique maldizer de alguém ou de alguma coisa. Em qualquer grupo que se junte, tente-se intervir para dizer bem de algo ou alguém e veja-se como logo cai um espesso manto de cepticismo e frustração. Ou mesmo perplexidade e desconfiança, que digo eu. É uma palermice capaz de matar qualquer serão. Ficamos mal vistos, e estraga-se qualquer hipótese de fraternal confraternização.
Só a má língua é realmente capaz de aquecer o ambiente, de unir as vozes em coro solidário, de elevar as almas e os corações, de iluminar os rostos e os espíritos, de irmanar as pessoas num sentimento comum. Como isso me entristece e inibe, desde muito jovem que o convívio social para mim equivale a depressão quase certa. O que, naturalmente, tem arrastado atrás de si a minha imagem de ser macambúzio e acabrunhado. É justo: nem os outros têm culpa da minha particularidade, ou obrigação de a aturar, nem eu consigo superar essa incapacidade.
Como reacção ao sentimento e à imagem, instalou-se uma misantropia degenerativa que se foi acentuando notoriamente com a idade.
Não sei que lhe faça agora.

3 Comments:

At 7:46 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Caro amigo faça como "ele"!...
- Seja fan, fan do vizinho, fan da vizinha...
Um abraço de um fan do seu blogue.

 
At 12:53 da tarde, Blogger o engenheiro said...

Tu és um fingidor que chega a fingir que é dor, a dor que deveras sente....

 
At 6:47 da manhã, Anonymous Anónimo said...

A solução é saír, amavelmente, da dita reunião.
É o que faço, seguindo conselhos dos meus antigos: quando estás mal, muda-te.


Nuno

...

 

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