Tudo como dantes
Na sequência da hecatombe que atingiu os dois principais partidos da anterior maioria governamental nas recentes eleições intercalares em Lisboa, e quando se ouviam as vozes dos seus principais dirigentes a satisfazer o dever protocolar de declarar que assumiam as respectivas responsabilidades, logo deixei aqui a pergunta irónica (pretendia ser) sobre se não seria espantoso que a seguir tudo continuasse na mesma.
As evoluções posteriores parecem esclarecer as razões da minha desconfiança (do meu prognóstico).
Com efeito, os tais responsáveis estavam a ser sinceros quando disseram que assumiam as suas responsabilidades e que iriam tirar dos acontecimentos as devidas lições.
Só que as lições que eles, Marques Mendes e Paulo Portas em primeiro lugar, tiram destes factos resumem-se num sumário muito simples: concluíram que importa esmagar quanto antes as oposições internas e segurarem-se o mais firmemente possível nos lugares. Feito isso, manter o rumo e aguardar.
Alguns ficarão certamente surpreendidos com este resultado do falado assumir de responsabilidades, mas eu confesso que correpondem exactamente ao que eu esperava.
Tanto Mendes como Portas, e mais o seu pessoal político, encaram estas derrotas como a expressão normal de um ciclo político. Explicando melhor, eles vêem a política portuguesa como algo que de uma forma natural obedece a ciclos, que implicam alternâncias regulares. Agora estamos num ciclo Sócrates, e enquanto este perdurar é natural que as vitórias sorriam a este, e aos seus. As derrotas para o PSD e para o CDS podem ser maiores ou menores, e compete aos seus dirigentes (concedem eles generosamente) fazer o possível para que elas tenham a menor expressão, mas em si mesmas são apenas episódios menores do ciclo em curso.
Quando o ciclo por si mesmo se esgotar, Sócrates começará a amargar na boca o sabor da derrota, primeiro no lento deslizar que antecede a queda, depois no rápido desabar do seu império efémero. É a marcha infalível do sistema instalado.
Tem sido assim, e a nossa nomenklatura pensa que há-de continuar a ser assim.
Desta lógica, nasce a conclusão inevitável: o que é preciso é aguentar. Esperar. E na hora certa estar nos sítios certos. O resto virá por acréscimo.
Como decorre destas convicções, bem podem esperar sentados os que associavam alguma esperança de mudança ao proclamado assumir das responsabilidades e ao pomposo extrair de lições por parte dos hierarcas que agora morderam o pó. Do ponto de vista destes tudo se explica por uma espécie de roda da fortuna, que distribui à vez a boa e a má sorte. Agora estão em baixo, mas basta aguardar que a roda dê a volta.
O que é preciso portanto é só agarrar com firmeza as posições para onde ciclicamente a roda desanda.
E mais nada.
As evoluções posteriores parecem esclarecer as razões da minha desconfiança (do meu prognóstico).
Com efeito, os tais responsáveis estavam a ser sinceros quando disseram que assumiam as suas responsabilidades e que iriam tirar dos acontecimentos as devidas lições.
Só que as lições que eles, Marques Mendes e Paulo Portas em primeiro lugar, tiram destes factos resumem-se num sumário muito simples: concluíram que importa esmagar quanto antes as oposições internas e segurarem-se o mais firmemente possível nos lugares. Feito isso, manter o rumo e aguardar.
Alguns ficarão certamente surpreendidos com este resultado do falado assumir de responsabilidades, mas eu confesso que correpondem exactamente ao que eu esperava.
Tanto Mendes como Portas, e mais o seu pessoal político, encaram estas derrotas como a expressão normal de um ciclo político. Explicando melhor, eles vêem a política portuguesa como algo que de uma forma natural obedece a ciclos, que implicam alternâncias regulares. Agora estamos num ciclo Sócrates, e enquanto este perdurar é natural que as vitórias sorriam a este, e aos seus. As derrotas para o PSD e para o CDS podem ser maiores ou menores, e compete aos seus dirigentes (concedem eles generosamente) fazer o possível para que elas tenham a menor expressão, mas em si mesmas são apenas episódios menores do ciclo em curso.
Quando o ciclo por si mesmo se esgotar, Sócrates começará a amargar na boca o sabor da derrota, primeiro no lento deslizar que antecede a queda, depois no rápido desabar do seu império efémero. É a marcha infalível do sistema instalado.
Tem sido assim, e a nossa nomenklatura pensa que há-de continuar a ser assim.
Desta lógica, nasce a conclusão inevitável: o que é preciso é aguentar. Esperar. E na hora certa estar nos sítios certos. O resto virá por acréscimo.
Como decorre destas convicções, bem podem esperar sentados os que associavam alguma esperança de mudança ao proclamado assumir das responsabilidades e ao pomposo extrair de lições por parte dos hierarcas que agora morderam o pó. Do ponto de vista destes tudo se explica por uma espécie de roda da fortuna, que distribui à vez a boa e a má sorte. Agora estão em baixo, mas basta aguardar que a roda dê a volta.
O que é preciso portanto é só agarrar com firmeza as posições para onde ciclicamente a roda desanda.
E mais nada.
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