sexta-feira, setembro 07, 2007

Apocalypto

David Lourenço Mestre, na Atlântico, pág. 30:

Deslocado do “espírito do tempo” de Lisboa a Londres, o filme contraria as piedades multiculturalistas e o delírio com que a correcção política pretende substituir as culturas nativas do continente americano.
Crismada de vítima, a tese multiculturalista concebeu o bom selvagem nos planaltos do Iucatão. Um ser bom e destituído dos defeitos de fabrico do homem europeu. Os factos encarregam-se de desmentir as brigadas do politicamente correcto e deixam o panteão pós-moderno mais vazio. A realidade não se comove com a ideologia.


Manuel Brás, no Aliança Nacional:

Eis um filme que marca a diferença, que sai dos lugares comuns impostos pela ditadura cultural vigente.
A sua singularidade não está, com certeza, nas técnicas, nem sequer na inverosímil resistência, quase sobre-humana, de Pata-Jaguar.
A diferença está na mensagem, na antropologia, no realismo com que Mel Gibson retrata o Homem e a História, em que não há lugar para a fantasia do “bom selvagem” nem para “lendas negras”.
Mas não o faz de uma forma coerciva, primária, amarga ou vingativa. Nada disso. Fá-lo de uma forma inteligente, com elegância, com arte.
Os registos estão lá todos, para quem os quiser ler.
Um filme para pensar... e ver outra vez.
Quem sabe se estamos perante um ponto de viragem cultural?

(A isto chama-se aproveitar a boleia do Mel Gibson para desancar o Rousseau...)