Voltando à Direita
Hoje no semanário "O Diabo" li declarações de António Marques Bessa voltando ao caso da inexistência de direita política em Portugal.
Deu-me para também regressar ao tema.
Tenho para mim que a razão maior do fracasso de todos os esforços organizativos da direita em Portugal, desde pelo menos há umas décadas, residiu no reaccionarismo presente em todas as experiências. Espero não ser mal compreendido, pois que também eu concordarei com a afirmação genérica de que reacção é sinal de vida e só não reagem os mortos. Nunca negarei os méritos, nem regatearei os aplausos, a tantas reacções que se impunham, e que foram não poucas vezes heróicas.
O que quis dizer é que a direita portuguesa foi colocada pela História numa posição defensiva, e a partir daí a sua vida política limitou-se em geral a dar ou a tentar dar respostas aos acontecimentos com que foi sucessivamente confrontada.
Não estou a atribuir culpas: é verdade que depois da construção e consolidação do Estado Novo a direita portuguesa viu-se, até por força do que se chamou ventos da História, numa situação em que tinha que se limitar a defender o adquirido, porque só tinha a perder com qualquer mudança das que se perfilavam no horizonte do possível, interna e externamente. Goste-se ou não, era assim e foi assim. Consequentemente, desde há muito, a direita que existiu passou a ser caracterizadamente defensiva, e reactiva. Passou a viver em razão do património político que entendia como a sua razão de ser, dramaticamente ameaçado a nível interno e externo, e a agir condicionada por essas ameaças, a reboque dos acontecimentos, acorrendo aos fogos onde e quando eles se declaravam.
Uma existência, neste sentido, inegavelmente reaccionária, décadas antes do 25 de Abril e a prosseguir com este e após este, então de modo ainda mais aflitivo e urgente.
Foi essa a realidade que inquinou o destino de todas as experiências orgânicas, e que ditou a sua fragilidade e efemeridade, designadamente nestes trinta e tal anos.
Quando algo retira a sua energia de uma fonte exterior, não pode assegurar a sua existência eliminada que seja essa fonte. Assim, o desabar do projecto nacional vigente até 1974 fez desaparecer o que restava da afirmação positiva possível da direita existente, retirando-lhe o cimento interno que a podia sustentar. E posteriormente a isso o sucessivo desaparecimento das ameaças comunistas e a normalização social e política eliminou o que de fora podia cimentar a unidade na acção.
Nunca houve outra unidade, nem outro projecto comum que não fosse enfrentar a hora que passava - nem nos momentos de maior e mais intensa mobilização (pormenor em que então não se atentava, porque não havia tempo nem disponibilidade para isso).
A dependência de conjunturas específicas e de estímulos circunstanciais determinou a falta de sustentabilidade dos projectos, desprovidos de força própria que não fosse a que lhes vinha de fora. Essa existência em função de um inimigo ou de uma ameaça exterior nunca permitiu a edificação de uma força política com um mínimo de solidez interna e raízes que agarrassem mais fundo que a mera espuma dos tempos que os faziam nascer. Essa incapacidade de viver por si para além do momento condenou irremediavelmente as experiências tentadas à falta de continuidade, rápida degenerescência e fatal ocaso.
Também do mesmo quadro resultaram em regra abundantes equívocos. As pessoas que num momento se encontraram juntas frequentemente tinham pouco ou nada em comum. A quem observasse objectivamente não surpreenderia a posterior dispersão de rumos e de trajectos, desaparecidos que foram os factores de agregação momentânea. No entanto, ainda agora se depara por vezes com lamentações sobre mudanças, deserções e traições - como se as evoluções individuais, ultrapassados os acasos que decidiram o ocasional ajuntamento, não fossem afinal o que seria de esperar, um mero resultado do que cada um já era, descontado o artificialismo do encontro passageiro.
Deu-me para também regressar ao tema.
Tenho para mim que a razão maior do fracasso de todos os esforços organizativos da direita em Portugal, desde pelo menos há umas décadas, residiu no reaccionarismo presente em todas as experiências. Espero não ser mal compreendido, pois que também eu concordarei com a afirmação genérica de que reacção é sinal de vida e só não reagem os mortos. Nunca negarei os méritos, nem regatearei os aplausos, a tantas reacções que se impunham, e que foram não poucas vezes heróicas.
O que quis dizer é que a direita portuguesa foi colocada pela História numa posição defensiva, e a partir daí a sua vida política limitou-se em geral a dar ou a tentar dar respostas aos acontecimentos com que foi sucessivamente confrontada.
Não estou a atribuir culpas: é verdade que depois da construção e consolidação do Estado Novo a direita portuguesa viu-se, até por força do que se chamou ventos da História, numa situação em que tinha que se limitar a defender o adquirido, porque só tinha a perder com qualquer mudança das que se perfilavam no horizonte do possível, interna e externamente. Goste-se ou não, era assim e foi assim. Consequentemente, desde há muito, a direita que existiu passou a ser caracterizadamente defensiva, e reactiva. Passou a viver em razão do património político que entendia como a sua razão de ser, dramaticamente ameaçado a nível interno e externo, e a agir condicionada por essas ameaças, a reboque dos acontecimentos, acorrendo aos fogos onde e quando eles se declaravam.
Uma existência, neste sentido, inegavelmente reaccionária, décadas antes do 25 de Abril e a prosseguir com este e após este, então de modo ainda mais aflitivo e urgente.
Foi essa a realidade que inquinou o destino de todas as experiências orgânicas, e que ditou a sua fragilidade e efemeridade, designadamente nestes trinta e tal anos.
Quando algo retira a sua energia de uma fonte exterior, não pode assegurar a sua existência eliminada que seja essa fonte. Assim, o desabar do projecto nacional vigente até 1974 fez desaparecer o que restava da afirmação positiva possível da direita existente, retirando-lhe o cimento interno que a podia sustentar. E posteriormente a isso o sucessivo desaparecimento das ameaças comunistas e a normalização social e política eliminou o que de fora podia cimentar a unidade na acção.
Nunca houve outra unidade, nem outro projecto comum que não fosse enfrentar a hora que passava - nem nos momentos de maior e mais intensa mobilização (pormenor em que então não se atentava, porque não havia tempo nem disponibilidade para isso).
A dependência de conjunturas específicas e de estímulos circunstanciais determinou a falta de sustentabilidade dos projectos, desprovidos de força própria que não fosse a que lhes vinha de fora. Essa existência em função de um inimigo ou de uma ameaça exterior nunca permitiu a edificação de uma força política com um mínimo de solidez interna e raízes que agarrassem mais fundo que a mera espuma dos tempos que os faziam nascer. Essa incapacidade de viver por si para além do momento condenou irremediavelmente as experiências tentadas à falta de continuidade, rápida degenerescência e fatal ocaso.
Também do mesmo quadro resultaram em regra abundantes equívocos. As pessoas que num momento se encontraram juntas frequentemente tinham pouco ou nada em comum. A quem observasse objectivamente não surpreenderia a posterior dispersão de rumos e de trajectos, desaparecidos que foram os factores de agregação momentânea. No entanto, ainda agora se depara por vezes com lamentações sobre mudanças, deserções e traições - como se as evoluções individuais, ultrapassados os acasos que decidiram o ocasional ajuntamento, não fossem afinal o que seria de esperar, um mero resultado do que cada um já era, descontado o artificialismo do encontro passageiro.
2 Comments:
Caro Manuel,
Penso que seria muito interessante que o meu caro amigo pudesse coligir todas estas reflexões sobre a Direita, quanto mais não fosse sob a figura das etiquetas que o Blogger disponibiliza e organiza automaticamente.
Demora algum tempo, por certo, mas o que se ganha em acesso aos "posts" clássicos é inestimável...
O abraço amigo do costume
O Corcunda
A direita, mas qual direita? A direita no nosso país é inexistente. Aliás ela própria, esta espécie de direita, este arremedo, porque uma verdadeira direita ela não é, se envergonha de o ser e só finge que existe para ajudar à farsa (bem) montada e já agora para perpetuar esta vergonhosa encenação teatral (e lucrar, lucrarem, a rodos com ela) que já vai longa por demais, mas cujos farsantes que a encenaram, a representam com esmero e primor e jamais se cansam de o proclamar hipòcritamente no miserável palco por eles próprios montado, de que "vivemos numa democracia plena em que todos os partidos representando todos os portugueses, são nela legítimos participantes"... Estas inomináveis criaturas que há décadas pregam mentiras atrás de mentiras ao povo português numa sequência infernal e em que esta direita fictícia está conluiada com toda a pseudo-esquerda que para aí vegeta e em que todos juntos têm dirigido criminosamente este País, no verdadeiro sentido do termo, há quase tanto tempo quanto aquele que Salazar governou de jure et facto Portugal e a quem tanto difamaram pelo mesmo motivo e afinal chegamos à conclusão, por comparação, que sem razão alguma - agora que de todos os portugueses são sobejamente conhecidos os seus vícios abjectos e perfís mafiosos, estes pseudo dirigentes, sim, é que deveriam ser difamados pelo povo e com toda a propriedade - querem ultrapassá-lo em tempo de governação, pois então, não podem ficar por menos - e para lá caminhamos a passos largos... - eles é que são uns democratas de primeiríssima água e por consequência têm todo o direito e até o dever de governar Portugal, isto apesar dos seus crimes horrendos, das suas escandalosas corrupções, das suas violências sem perdão, das suas pedofilias vergonhosas, a que estão ligados directa ou indirectamente quase todos eles e da sua total incompetência para governar, porque o ódio e inveja que eles têm da absoluta incorruptibilidade, supra competência e honorabilidade sem mácula do antigo governante, não tem limites e, pior (ou melhor), tivesse ele os defeitos que tivesse estas qualidades superiores não lhas podem negar e é isto que os põe possessos - todos eles e cada um há-de de dizer de si para consigo: então ele, que era um ditador, governou o país quarenta anos e nós, que somos uns excelsos "democratas" não haveríamos de o ultrapasar em tempo de governação? Era o que mais faltava! - mas também porque estão convencidíssimos (e até agora com alguma propriedade, diga-se) que o povo português nunca os vai escorraçar do poder, ou do poleiro, para sermos mais exactos, visto que estes merlos são aves de arribação. É certo que eles estão ultra-protegidos pelos mundialistas que os colocaram lá, assim como todos os dirigentes de quase todos os países do mundo, com a evidente excepção dos dirigentes dos regimes comunistas e mesmo estes, supostamete não protegidos (só supostamente) por motivos diversos, convem-lhes imenso que existam embora eles digam o contrário, mais que não seja para os terem como pretensos inimigos e um óptimo pretexto para atacá-los (e despachar de quando em vez material de guerra excedentário que se acumula em demasia, cujo fabrico rende biliões) quando lhes der na veneta, no entanto nem os mundialistas conseguirão travar um povo inteiro em pé de guerra. E agora perguntar-se-á, mas porque é que o Povo português que abomina todos estes politicos viciosos (e só o faz há relativamente poucos anos quando, após 28 anos de mentiras, corrupções, droga e pedofilia em que todos eles, ou quase, andam metidos, tomou conhecimento ao pormenor do efectivo grau e real dimensão da casta que pretensamente o governa) ainda não se revoltou e os desalojou do poder? Aí é que bate o ponto! A maioria do povo saberá (entre si) o motivo, mas exactamente o porquê de AINDA não se ter sublevado já é uma outra questão e aparentemente enigmática, mas só aparentemente. Ou talvez nem o seja assim tanto. Mas tudo tem um limite, até este bando de facínoras super protegidos que malbarata/desgoverna Portugal em circuito fechado como se - em vez da tal coutada gerida por uns poucos, de que Portugal era acusado no anterior regime... porém nessa altura todos os portugueses sabiam quem os governava, o que faziam e como o faziam, agora ninguém sabe quem eles são,quem verdadeiramente puxa os cordelinhos do poder, quantos são, o que fazem e como o fazem - de um clube privado se tratasse, mas que, muito pior, em bom rigor além de privado é de um clube (ou seita) secreto que se trata, vai ter o seu fim, tem que o ter. E porventura mais cedo do que eles próprios sequer imaginam, não obstante a super-protecção (veja-se o caso da criança inglesa que desapareceu) de que gozam, ainda que aquele devesse há muito já ter acontecido para apaziguamento da alma deste bom Povo que, tantos, demasiados horrores tem sofrido. E nele estou a englobar os povos das ex-colónias, não só os que sobreviveram mas especialmente os os milhões assassinados durante e em todos os anos subsequentes à criminosa "descolonização exemplar".
Maria
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