Presença de D. Manuel Mendes da Conceição Santos
(artigo para o semanário regionalista "O Almonda", de Torres Novas)
Muitas vezes em Torres Novas me ocorreu interrogar-me sobre que recordação existiria de D. Manuel Mendes da Conceição Santos na sua própria terra, entre os seus. O meu natural isolamento nunca me permitiu averiguar, e fiquei com a curiosidade insatisfeita.
A haver esquecimento, há que dizer que ele é injusto para o esquecido, e empobrecedor para os que esquecem.
Sobretudo para quem esteja ligado à Arquidiocese de Évora, mas creio que para qualquer que se interesse pela história, é difícil imaginar figura maior na história eclesiástica do século XX em Portugal.
D. Manuel Mendes foi Arcebispo de Évora durante mais de 34 anos, desde o Verão de 1920 até ao seu falecimento em 1955. Em Évora tomou posse de um “vasto e arruinado cemitério de almas”, como lhe chamou Monsenhor Filipe Mendeiros, e custa hoje entender até que ponto se ajusta a caracterização. Eram tempos inimagináveis para o homem comum da nossa época, habituado a ter como assentes e pacíficos direitos com que então a Igreja só podia sonhar. As perseguições, expulsões, confiscos, tinham deixado a Igreja em completa penúria, exausta de gente e de bens materiais. Durante muitos anos da permanência de D. Manuel à frente da arquidiocese eborense mantiveram-se limitações de toda a ordem, só penosamente ultrapassadas. Todavia, foram elas ultrapassadas – e tanto que ao cessar o seu caminho o Venerando Arcebispo podia facilmente mostrar-se como tudo na Igreja eborense era diferente do começo.
Para breve exemplificação, pode dizer-se que ao entrar D. Manuel na Arquidiocese não existia nem uma Congregação Religiosa e que ao terminar a sua missão na terra deixou em toda a extensão do Arcebispado um total de trinta e quatro comunidades religiosas, pertencentes a vinte e três Institutos Religiosos diferentes. Ao chegar não havia padres nem seminário capaz de os formar; reestruturou o seminário e acabou por ser responsável pela ordenação de cento e trinta e seis novos presbíteros (bem bonito número, capaz de fazer corar muitos discursantes que com bem pouco se ufanam).
Sobre os tempos tormentosos desse apostolado, é difícil falar com propriedade sem entrar em largas divagações que não cabem num breve escrito. Nunca consegui explicar a ninguém, nem de maneira vagamente satisfatória, o que significou na época da ocorrência a crise chamada “dos sinos da Sé”: ninguém entende uma conjuntura política, no entanto já adiantada no século XX, em que atrever-se a tocar os sinos era crime tal, e tal motivo de perturbação para os poderes que se digladiavam na praça pública, que quase se lançava o país em convulsão generalizada.
D. Manuel Mendes foi um torrejano ilustre como poucos haverá, uma personalidade cuja grandeza só agora, por acção sobretudo dos entusiastas da causa da sua beatificação, começa a entrever-se em toda a sua dimensão.
E até à sua entrada no Seminário de Santarém, com 13 anos, todo o percurso da vida do jovem Manuel Mendes decorreu na área do concelho de Torres Novas.
Natural de Pé de Cão, onde nasceu a 13 de Dezembro de 1876, foi aí, na freguesia de Olaia, que viveu os primeiros anos da sua infância. Depois a família deixou Pé de Cão para morar em Torres Novas, e mais tarde fixou-se nos Soudos. Entretanto o jovem Manuel viveu também em Carvalhal da Aroeira, em casa do tio padre, com quem estudou. Foi na Igreja de Olaia que recebeu a primeira comunhão, facto que constantemente celebrou ao longo da sua vida. Era na capela de Pé de Cão que sua mãe rezava, como surge amiúde na correspondência de ambos. Foi na Igreja do Carmo, em Torres Novas, que foi ordenado Bispo, então para Portalegre, em 1916.
Como a cada passo se constata nos seus escritos, os lugares da sua pequena pátria carnal, aonde regressava quando podia, ficaram para sempre no coração de D. Manuel.
Manuel Azinhal
manuel.azinhal@gmail.com
Muitas vezes em Torres Novas me ocorreu interrogar-me sobre que recordação existiria de D. Manuel Mendes da Conceição Santos na sua própria terra, entre os seus. O meu natural isolamento nunca me permitiu averiguar, e fiquei com a curiosidade insatisfeita.
A haver esquecimento, há que dizer que ele é injusto para o esquecido, e empobrecedor para os que esquecem.
Sobretudo para quem esteja ligado à Arquidiocese de Évora, mas creio que para qualquer que se interesse pela história, é difícil imaginar figura maior na história eclesiástica do século XX em Portugal.
D. Manuel Mendes foi Arcebispo de Évora durante mais de 34 anos, desde o Verão de 1920 até ao seu falecimento em 1955. Em Évora tomou posse de um “vasto e arruinado cemitério de almas”, como lhe chamou Monsenhor Filipe Mendeiros, e custa hoje entender até que ponto se ajusta a caracterização. Eram tempos inimagináveis para o homem comum da nossa época, habituado a ter como assentes e pacíficos direitos com que então a Igreja só podia sonhar. As perseguições, expulsões, confiscos, tinham deixado a Igreja em completa penúria, exausta de gente e de bens materiais. Durante muitos anos da permanência de D. Manuel à frente da arquidiocese eborense mantiveram-se limitações de toda a ordem, só penosamente ultrapassadas. Todavia, foram elas ultrapassadas – e tanto que ao cessar o seu caminho o Venerando Arcebispo podia facilmente mostrar-se como tudo na Igreja eborense era diferente do começo.
Para breve exemplificação, pode dizer-se que ao entrar D. Manuel na Arquidiocese não existia nem uma Congregação Religiosa e que ao terminar a sua missão na terra deixou em toda a extensão do Arcebispado um total de trinta e quatro comunidades religiosas, pertencentes a vinte e três Institutos Religiosos diferentes. Ao chegar não havia padres nem seminário capaz de os formar; reestruturou o seminário e acabou por ser responsável pela ordenação de cento e trinta e seis novos presbíteros (bem bonito número, capaz de fazer corar muitos discursantes que com bem pouco se ufanam).
Sobre os tempos tormentosos desse apostolado, é difícil falar com propriedade sem entrar em largas divagações que não cabem num breve escrito. Nunca consegui explicar a ninguém, nem de maneira vagamente satisfatória, o que significou na época da ocorrência a crise chamada “dos sinos da Sé”: ninguém entende uma conjuntura política, no entanto já adiantada no século XX, em que atrever-se a tocar os sinos era crime tal, e tal motivo de perturbação para os poderes que se digladiavam na praça pública, que quase se lançava o país em convulsão generalizada.
D. Manuel Mendes foi um torrejano ilustre como poucos haverá, uma personalidade cuja grandeza só agora, por acção sobretudo dos entusiastas da causa da sua beatificação, começa a entrever-se em toda a sua dimensão.
E até à sua entrada no Seminário de Santarém, com 13 anos, todo o percurso da vida do jovem Manuel Mendes decorreu na área do concelho de Torres Novas.
Natural de Pé de Cão, onde nasceu a 13 de Dezembro de 1876, foi aí, na freguesia de Olaia, que viveu os primeiros anos da sua infância. Depois a família deixou Pé de Cão para morar em Torres Novas, e mais tarde fixou-se nos Soudos. Entretanto o jovem Manuel viveu também em Carvalhal da Aroeira, em casa do tio padre, com quem estudou. Foi na Igreja de Olaia que recebeu a primeira comunhão, facto que constantemente celebrou ao longo da sua vida. Era na capela de Pé de Cão que sua mãe rezava, como surge amiúde na correspondência de ambos. Foi na Igreja do Carmo, em Torres Novas, que foi ordenado Bispo, então para Portalegre, em 1916.
Como a cada passo se constata nos seus escritos, os lugares da sua pequena pátria carnal, aonde regressava quando podia, ficaram para sempre no coração de D. Manuel.
Manuel Azinhal
manuel.azinhal@gmail.com
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