segunda-feira, novembro 19, 2007

Na corrente

Bem vi no Horizonte o repto.
E logo tentei, ainda que atarantado, corresponder sem mentira nem batota. Sabendo embora que não resultava, comigo não resultava, há muito que as tentativas de inserção social para mim estão votadas a fracasso certo. De imediato, o livro mais próximo era um só, o único, não podia haver engano voluntário ou involuntário. Pouco lancei a mão, que estava quase na mão. Era o Código de Processo Civil anotado, o popularissimo calhamaço que tem feito a fortuna do Dr. Abílio Neto. Acabrunhado folheei à procura da página 161, e lá estava: a quinta frase completa respeitava ao vínculo dos jogadores de futebol, era uma citação de um Acórdão da Relação de Lisboa a explicar que esses profissionais fornecem a sua prestação laboral de forma subordinada, sob a autoridade, a direcção e a fiscalização da entidade que os contratou, pelo que estamos realmente perante contratos de trabalho...
Bati em retirada, e desisti da correnteza. Estes jogos blogosféricos só funcionam com o seu q. b. de mentira (benevolente, pois claro).
Roía-me a consciência, e já em casa, horas mais tarde, lembrei-me outra vez do Horizonte. E não resisti, em sobressalto olhei para a prateleira mais perto, ao alcance do braço... e qual era o livro, qual era, o que se ofereceu logo ali, mais pertinho que os outros todos? Era uma edição da Bíblia Sagrada, que estava insofismavelmente colocada à ponta da fila e a oferecer-se à mão estendida, e que tinha inequivocamente bem mais do que as páginas precisas. Abri a página 161. Calhou no Levítico, e a quinta frase era uma em que o Senhor Deus de Israel estatuía que para o seu serviço não queria ninguém com aleijão ou deformidade, para que os filhos de Levi estivessem atentos aos coxos e zarolhos e demais impuros que pudessem existir entre eles...
Desisti. Fechei o Livro.
Passo. Agora queria ver a experiência contada pelo Bernardo, pelo Rui e pelo António Maria.

1 Comments:

At 10:21 da tarde, Blogger Flávio Santos said...

Por estas e por outras é que este é um dos melhores blogues portugueses, com uma irona fina ao alcance de muito poucos.
Obrigado!

 

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