terça-feira, dezembro 18, 2007

Delírios liberais

"O que as pessoas fazem com a sua vida, rendimento e propriedade é com elas"?
Confesso que ouvir estes e outros mimos do estilo me causa uma sensação de desconforto. Arrepia-me. As pessoas somos nós e são os outros, e não consigo senti-los como algo vago ou abstracto. O pensamento expresso na frase citada, com mais ou menos elaboração, não ultrapassa o nível do egoísmo mais brutal e primário: cada um que trate de si, e ninguém tem nada com isso. De um golpe afasta-se qualquer noção de responsabilidade social, ou simplesmente de responsabilidade individual.
O que as pessoas fazem com a sua vida pode ser destruí-la, ou destruir a alheia; e muitas vezes basta um gesto nosso para mudar o destino de alguém. O nosso gesto desprezou a liberdade do que estava à beira do precipício? Certamente, e ele nos agradecerá por o termos respeitado mais a ele do que à sua liberdade. O que cada um faz com o seu rendimento e propriedade é assunto exclusivamente seu? Só seu? Não falando nos que não têm nem rendimento nem propriedade para ser considerados em tal filosofia, não será certo que o que cada um dos que os têm faz desses bens conta decisivamente na vida de todos?
O que vejo em letra de forma, como se pensamento fundamentado fosse, é apenas uma atitude. A cruel indiferença que corrói o que resta da nossa humanidade, erigida em máxima pretensiosa. O conformismo autista dos instalados a insurgir-se contra o que ameace o sossego das digestões. É, aliás, o espírito do tempo, por vezes pintado com cores de falsa irreverência.
Matem-se, droguem-se, embebedem-se, prostituam-se, vendam-se por aí em mercado livre.... Ninguém tem nada com isso...!!!!
Qual é o mundo que nos oferecem os delírios liberais?
Os católicos que também abundam na blogosfera, e sobretudo aqueles que dizem acumular uma e outra condição, não terão nada que dizer a semelhante liberalismo?

1 Comments:

At 3:40 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Ter têm, mas por medo, cobardia, desinteresse, apatia, oportunismo, ou por tudo isto e mais qualquer coisa aparentemnete incompreensível, não o fazem. Salvo as honrosíssimas excepções que confirmam a regra. Estas são infelizmente insuficientes para alterar o estado deplorável em que se encontra a sociedade. E que nos deveria preocupar sobremaneira de molde a agir antes que seja tarde demais.

Maria

 

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