sexta-feira, dezembro 21, 2007

Nem no Natal

Hoje lembrei-me irresistivelmente de Gustavo Corção, nas suas investidas contra certos "bispos modernistas ou simplesmente modernos que querem fazer da Igreja uma barraca atraente, agradável, divertida" - ao ler esta peça do Semanário.
"O que é que Jesus Cristo hoje denunciaria?" - interroga-se preocupado o hebdomadário. E para encontrar respostas nada melhor que perguntar às sumidades da igreja lusitana: Frei Bento Domingues, D. Carlos Azevedo, padre Carreira das Neves, padre Feytor Pinto, D. Januário Torgal Ferreira, D. Manuel Clemente, padre Peter Stilwell, padre Vaz Pinto. Uma espantosa galeria. E não faço comentários sobre os entrevistados para não pecar mais. Desafio os leitores a ler as respostas. Julgam que tão altas personalidades se insurgiram contra o teor da pergunta, fazendo notar que o Salvador não era um vulgar "denunciante"? Pois desiludam-se, todos se afadigaram a tentar explicar o que faria e diria hoje Jesus Cristo se por aqui andasse como eles andam (e pelos caminhos deles).
Para D. Carlos Azevedo, Jesus "seria ecologista e denunciava a corrupção". Para o Padre Carreira das Neves, "denunciaria a guerra do Iraque e o terrorismo religioso islâmico em nome de Deus". (Uma espécie de Michael Moore, de túnica, mais magro e sem óculos). Ah, e Jesus Cristo também "teria uma "política" diferente da normal católica em relação aos divorciados e aos ministérios ordenados das mulheres."
O Padre Peter Stilwell diz qualquer coisa confusa segundo a qual "entender como irmãos todos os povos colide com os interesses de grandes e pequenos poderes económicos e financeiros"(!!!).
Por seu turno, D. Januário Torgal Ferreira lembrou-se com preocupação que "hoje o catolicismo tem nas suas franjas sectores fundamentalistas contra os quais Jesus Cristo se poderia insurgir".
Frei Bento Domingues observa argutamente que a Igreja são os cristãos - e que "a hierarquia é apenas uma hierarquia de serviços" (!!!) e que "os pronunciamentos, as atitudes, os gestos que nos colocam ao lado dos excluídos pelas religiões, pelas sociedades, pelas economias e pelas políticas, de cada país e de cada continente, têm toda a probabilidade de serem reconhecidos por Cristo".
A sensatez ainda aflorou na boca de Frei Bento Domingues ("é perigoso que alguém se tome por Jesus Cristo para fazer as suas denúncias; (..) importa (...) abolir de vez a tentação de colocar na boca de Deus ou de Cristo o que são interpretações nossas") mas o próprio nem reparou e lá prosseguiu alegremente a fazer o que parecia reprovar.
Nosso Senhor Jesus Cristo é que não teve direito à palavra.
Surge-me ao espírito outra citação de Gustavo Corção: "O espetáculo oferecido ao mundo pela gente de Igreja é apavorante, e, muito mais grave do que uma preferência às coisas temporais e exteriores, os padres e bispos secularizantes foram compelidos a rejeitar a vida interior, a vida espiritual, o Sangue de nossa redenção. A Igreja de Cristo foi rejeitada em benefício de Outra. E é esse adultério espiritual que nos autoriza a repetir aquela sinistra simetria: “Os apóstolos deixaram tudo para seguir Jesus”; os modernos homens dessa Outra Igreja “aceitam tudo para não seguir Jesus”.
"Poor Portugal" !!!!

5 Comments:

At 7:40 da tarde, Blogger Je maintiendrai said...

Triste, triste. Jesus talvez dissesse; 1) versão optismista - bem aventurados os simples porque deles é Reino dos Céus. 2) versão pessismista - é mais fácil um camelo passar por um buraco da agulha, que um hierarca da Igreja Lusitana entrar no Reino dos Céus".

 
At 7:47 da tarde, Blogger Je maintiendrai said...

E Santo Natal! .. porque ao foro da simplicidade dos votos tradicionais ainda não chegou a teologia de S. Vicente de Fora.

 
At 8:40 da tarde, Anonymous Anónimo said...

http://www.alamedadigital.com.pt/n10/nao_ser_do_mundo.php

 
At 3:02 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Sou um apaixonado pelos textos sábios de Gustavo Corção.
Faziam falta mais homens como ele.

 
At 8:54 da manhã, Blogger ASCENDENS said...

Bom texto. Deus lhe pague.

 

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