O 25 de Abril e a História
(A 26.01.1979 o Prof. António José Saraiva publicou no Diário de Notícias um artigo hoje mais famoso que conhecido. Vem a propósito recordá-lo).
Se alguém quisesse acusar os portugueses de cobardes, destituídos de dignidade ou de qualquer forma de brio, de inconscientes e de rufias, encontraria um bom argumento nos acontecimentos desencadeados pelo 25 de Abril. Na perspectiva de então havia dois problemas principiais a resolver com urgência. Eram eles a descolonização e a liquidação do antigo regime.
Quanto à descolonização havia trunfos para a realizar em boa ordem e com a vantagem para ambas as partes: o exército português não fora batido em campo de batalha; não havia ódio generalizado das populações nativas contra os colonos; os chefes dos movimentos de guerrilha eram em grande parte homens de cultura portuguesa; havia uma doutrina, a exposta no livro «Portugal e o Futuro» do general Spínola, que tivera a aceitação nacional, e poderia servir de ponto de partida para uma base maleável de negociações. As possibilidades eram ou um acordo entre as duas partes, ou, no caso de este não se concretizar, uma retirada em boa ordem, isto é, escalonada e honrosa. Todavia, o acordo não se realizou, e retirada não houve, mas sim uma debandada em pânico, um salva-se-quem-puder. Os militares portugueses, sem nenhum motivo para isso, fugiram como pardais, largando armas e calçado, abandonando os portugueses e os africanos que confiavam neles. Foi a maior vergonha de que há memória desde Alcácer Quibir.
Pelo que agora se conhece, este comportamento inesquecível e inqualificável deve-se a duas causas.
Uma foi que o PCP, infiltrado no exército, não estava interessado num acordo nem numa retirada em ordem, mas num colapso imediato que fizesse cair esta parte da África na zona soviética. O essencial era não dar tempo de resposta às potências ocidentais.
De facto, o que aconteceu nas antigas colónias portuguesas insere-se na estratégia africana da URSS, como os acontecimentos subsequentes vieram mostrar. Outra causa foi a desintegração da hierarquia militar a que a insurreição dos capitães deu início e que o MFA explorou ao máximo, quer por cálculo partidário, quer por demagogia, para recrutar adeptos no interior das Forças Armadas.
Era natural que os capitães quisessem voltar depressa para casa. Os agentes do MFA exploraram e deram cobertura ideológica a esse instinto das tripas, justificaram honrosamente a cobardia que se lhe seguiu.
Um bando de lebres espantadas recebeu o nome respeitável de "revolucionários". E nisso foram ajudados por homens políticos altamente responsáveis, que lançaram palavras de ordem de capitulação e desmobilização num momento em que era indispensável manter a coesão e o moral do exército para que a retirada em ordem ou o acordo fossem possíveis.
A operação militar mais difícil é a retirada; existe um grau elevadíssimo do moral da tropa. Neste caso a tropa foi atraiçoada pelo seu próprio comando e por um certo número de políticos inconscientes ou fanáticos, e em qualquer caso destituídos de sentimento nacional.
Não é ao soldadinho que se deve imputar esta fuga vergonhosa, mas dos que desorganizaram conscientemente a cadeia de comando, aos que lançaram palavras de ordem que nas circunstâncias do momento era puramente criminosas. Isto quanto à descolonização, que na realidade não houve.
O outro problema era da liquidação do regime deposto. Os políticos aceitaram e aplaudiram a insurreição dos capitães, que vinha derrubar um governo, que segundo eles, era um pântano de corrupção e que se mantinha graças ao terror policial: impunha-se, portanto, fazer o seu julgamento, determinar as responsabilidades, discriminar entre o são e o podre, para que a nação pudesse começar uma vida nova. Julgamento dentro das normas justas, segundo um critério rigoroso e valores definidos.
Quanto aos escândalos da corrupção, de que tanto se falava, o julgamento simplesmente não foi feito. O povo português ficou sem saber se as acusações que se faziam nos comícios e nos jornais correspondiam a factos ou eram simplesmente atoardas. O princípio da corrupção não foi responsavelmente denunciado, nem na consciência pública se instituiu o seu repúdio. Não admira por isso que alguns homens políticos se sentissem encorajados a seguir pelo mesmo caminho, como se a corrupção impune tivesse tido a consagração oficial.
Em qualquer caso já hoje não é possível fazer a condenação dos escândalos do antigo regime, porque outros talvez piores os vieram desculpar.
Quanto ao terror policial, estabeleceu-se uma confusão total. Durante longos meses, esperou-se uma lei que permitisse levar a tribunal a PIDE-DGS. Ela chegou, enfim, quando uma parte dos eventuais acusados tinham desaparecido e estabelecia um número surpreendemente longo de atenuantes, que se aplicavam praticamente a todos os casos.
A maior parte dos julgados saiu em liberdade. O público não chegou a saber, claramente, as responsabilidades que cabiam a cada um.
Nem os acusadores ficaram livres da suspeita de conluio com os acusados, antes e depois do 25 de Abril. Havia, também, uma malefício imputado ao antigo regime, que era o dos crimes de guerra, cometidos nas operações militares do Ultramar. Sobre isto lançou-se um véu de esquecimento. As Forças Armadas Portuguesas foram alvo de suspeitas que ninguém quis esclarecer e que, por isso, se transformaram em pensamentos recalcados.
Em resumo, não se fez a liquidação do antigo regime, como não se fez a descolonização.
Uns homens substituíram outros, quando os homens não substituíram os mesmos; a um regime monopartidário substituiu-se um regime pluripartidário. Mas não se estabeleceu uma fronteira entre o passado e o presente. Os nossos homens públicos contentaram-se com uma figura de retórica: «a longa noite fascista». Com estes começos e fundamentos, falta ao regime que nasceu do 25 de Abril um mínimo de credibilidade moral.
A cobardia, a traição, a irresponsabilidade, a confusão, foram as taras que presidiram ao seu parto e, com esses fundamentos, nada é possível edificar. O actual estado de coisas, em Portugal, nasceu podre nas suas raízes. Herdou todos os podres da anterior; mais a vergonha da deserção.
E com este começo tudo foi possível depois, como num exército em debandada: vieram as passagens administrativas, sob capa de democratização do ensino; vieram «saneamentos» oportunistas e iníquos, a substituir o julgamento das responsabilidades; vieram os bandos militares, resultado da traição do comando, no campo das operações; vieram os contrabandistas e os falsificadores de moeda em lugares de confiança política ou administrativa; veio o compadrio quase declarado, dos partidos e do Governo; veio o controlo da Imprensa e da Radiotelevisão pelo Governo e pelos partidos, depois de se ter declarado a abolição da censura; veio a impossibilidade de se distinguir o interesse geral dos interesses dos grupos de pressão, chamados partidos, a impossibilidade de esclarecer um critério que joeirasse os patriotas e os oportunistas, a verdade e a mentira; veio o considerar-se o endividamento como um meio honesto de viver. Os cravos do 25 de Abril, que muitos, candidamente, tomaram por símbolo de uma primavera, fanaram-se sobre um monte de esterco.
Ao contrário das esperanças de alguns, não se começou vida nova, mas rasgou-se um véu que encobria uma realidade insuportável. Para começar, escreveu-se na nossa história uma página ignominiosa de cobardia e irresponsabilidade, página que, se não for resgatada, anula, por si só todo o heroísmo e altura moral que possa ter havido noutros momentos da nossa História e que nos classifica como um bando de rufias indignos do nome de nação. Está escrita e não pode ser arrancada do livro.
É preciso lê-la com lágrimas de raiva e tirar dela as conclusões, por mais que nos custe. Começa por aí o nosso resgate. Portugal está hipotecado por esse débito moral, enquanto não demonstrar que não é aquilo que o 25 de Abril revelou. As nossas dificuldades presentes, que vão agravar-se no futuro próximo, merecêmo-las, moralmente. Mas elas são uma prova e uma oportunidade.
Se formos capazes do sacrifício necessário para as superar, então poderemos considerar-nos desipotecados e dignos do nome de povo livre e de nação independente.
Se alguém quisesse acusar os portugueses de cobardes, destituídos de dignidade ou de qualquer forma de brio, de inconscientes e de rufias, encontraria um bom argumento nos acontecimentos desencadeados pelo 25 de Abril. Na perspectiva de então havia dois problemas principiais a resolver com urgência. Eram eles a descolonização e a liquidação do antigo regime.
Quanto à descolonização havia trunfos para a realizar em boa ordem e com a vantagem para ambas as partes: o exército português não fora batido em campo de batalha; não havia ódio generalizado das populações nativas contra os colonos; os chefes dos movimentos de guerrilha eram em grande parte homens de cultura portuguesa; havia uma doutrina, a exposta no livro «Portugal e o Futuro» do general Spínola, que tivera a aceitação nacional, e poderia servir de ponto de partida para uma base maleável de negociações. As possibilidades eram ou um acordo entre as duas partes, ou, no caso de este não se concretizar, uma retirada em boa ordem, isto é, escalonada e honrosa. Todavia, o acordo não se realizou, e retirada não houve, mas sim uma debandada em pânico, um salva-se-quem-puder. Os militares portugueses, sem nenhum motivo para isso, fugiram como pardais, largando armas e calçado, abandonando os portugueses e os africanos que confiavam neles. Foi a maior vergonha de que há memória desde Alcácer Quibir.
Pelo que agora se conhece, este comportamento inesquecível e inqualificável deve-se a duas causas.
Uma foi que o PCP, infiltrado no exército, não estava interessado num acordo nem numa retirada em ordem, mas num colapso imediato que fizesse cair esta parte da África na zona soviética. O essencial era não dar tempo de resposta às potências ocidentais.
De facto, o que aconteceu nas antigas colónias portuguesas insere-se na estratégia africana da URSS, como os acontecimentos subsequentes vieram mostrar. Outra causa foi a desintegração da hierarquia militar a que a insurreição dos capitães deu início e que o MFA explorou ao máximo, quer por cálculo partidário, quer por demagogia, para recrutar adeptos no interior das Forças Armadas.
Era natural que os capitães quisessem voltar depressa para casa. Os agentes do MFA exploraram e deram cobertura ideológica a esse instinto das tripas, justificaram honrosamente a cobardia que se lhe seguiu.
Um bando de lebres espantadas recebeu o nome respeitável de "revolucionários". E nisso foram ajudados por homens políticos altamente responsáveis, que lançaram palavras de ordem de capitulação e desmobilização num momento em que era indispensável manter a coesão e o moral do exército para que a retirada em ordem ou o acordo fossem possíveis.
A operação militar mais difícil é a retirada; existe um grau elevadíssimo do moral da tropa. Neste caso a tropa foi atraiçoada pelo seu próprio comando e por um certo número de políticos inconscientes ou fanáticos, e em qualquer caso destituídos de sentimento nacional.
Não é ao soldadinho que se deve imputar esta fuga vergonhosa, mas dos que desorganizaram conscientemente a cadeia de comando, aos que lançaram palavras de ordem que nas circunstâncias do momento era puramente criminosas. Isto quanto à descolonização, que na realidade não houve.
O outro problema era da liquidação do regime deposto. Os políticos aceitaram e aplaudiram a insurreição dos capitães, que vinha derrubar um governo, que segundo eles, era um pântano de corrupção e que se mantinha graças ao terror policial: impunha-se, portanto, fazer o seu julgamento, determinar as responsabilidades, discriminar entre o são e o podre, para que a nação pudesse começar uma vida nova. Julgamento dentro das normas justas, segundo um critério rigoroso e valores definidos.
Quanto aos escândalos da corrupção, de que tanto se falava, o julgamento simplesmente não foi feito. O povo português ficou sem saber se as acusações que se faziam nos comícios e nos jornais correspondiam a factos ou eram simplesmente atoardas. O princípio da corrupção não foi responsavelmente denunciado, nem na consciência pública se instituiu o seu repúdio. Não admira por isso que alguns homens políticos se sentissem encorajados a seguir pelo mesmo caminho, como se a corrupção impune tivesse tido a consagração oficial.
Em qualquer caso já hoje não é possível fazer a condenação dos escândalos do antigo regime, porque outros talvez piores os vieram desculpar.
Quanto ao terror policial, estabeleceu-se uma confusão total. Durante longos meses, esperou-se uma lei que permitisse levar a tribunal a PIDE-DGS. Ela chegou, enfim, quando uma parte dos eventuais acusados tinham desaparecido e estabelecia um número surpreendemente longo de atenuantes, que se aplicavam praticamente a todos os casos.
A maior parte dos julgados saiu em liberdade. O público não chegou a saber, claramente, as responsabilidades que cabiam a cada um.
Nem os acusadores ficaram livres da suspeita de conluio com os acusados, antes e depois do 25 de Abril. Havia, também, uma malefício imputado ao antigo regime, que era o dos crimes de guerra, cometidos nas operações militares do Ultramar. Sobre isto lançou-se um véu de esquecimento. As Forças Armadas Portuguesas foram alvo de suspeitas que ninguém quis esclarecer e que, por isso, se transformaram em pensamentos recalcados.
Em resumo, não se fez a liquidação do antigo regime, como não se fez a descolonização.
Uns homens substituíram outros, quando os homens não substituíram os mesmos; a um regime monopartidário substituiu-se um regime pluripartidário. Mas não se estabeleceu uma fronteira entre o passado e o presente. Os nossos homens públicos contentaram-se com uma figura de retórica: «a longa noite fascista». Com estes começos e fundamentos, falta ao regime que nasceu do 25 de Abril um mínimo de credibilidade moral.
A cobardia, a traição, a irresponsabilidade, a confusão, foram as taras que presidiram ao seu parto e, com esses fundamentos, nada é possível edificar. O actual estado de coisas, em Portugal, nasceu podre nas suas raízes. Herdou todos os podres da anterior; mais a vergonha da deserção.
E com este começo tudo foi possível depois, como num exército em debandada: vieram as passagens administrativas, sob capa de democratização do ensino; vieram «saneamentos» oportunistas e iníquos, a substituir o julgamento das responsabilidades; vieram os bandos militares, resultado da traição do comando, no campo das operações; vieram os contrabandistas e os falsificadores de moeda em lugares de confiança política ou administrativa; veio o compadrio quase declarado, dos partidos e do Governo; veio o controlo da Imprensa e da Radiotelevisão pelo Governo e pelos partidos, depois de se ter declarado a abolição da censura; veio a impossibilidade de se distinguir o interesse geral dos interesses dos grupos de pressão, chamados partidos, a impossibilidade de esclarecer um critério que joeirasse os patriotas e os oportunistas, a verdade e a mentira; veio o considerar-se o endividamento como um meio honesto de viver. Os cravos do 25 de Abril, que muitos, candidamente, tomaram por símbolo de uma primavera, fanaram-se sobre um monte de esterco.
Ao contrário das esperanças de alguns, não se começou vida nova, mas rasgou-se um véu que encobria uma realidade insuportável. Para começar, escreveu-se na nossa história uma página ignominiosa de cobardia e irresponsabilidade, página que, se não for resgatada, anula, por si só todo o heroísmo e altura moral que possa ter havido noutros momentos da nossa História e que nos classifica como um bando de rufias indignos do nome de nação. Está escrita e não pode ser arrancada do livro.
É preciso lê-la com lágrimas de raiva e tirar dela as conclusões, por mais que nos custe. Começa por aí o nosso resgate. Portugal está hipotecado por esse débito moral, enquanto não demonstrar que não é aquilo que o 25 de Abril revelou. As nossas dificuldades presentes, que vão agravar-se no futuro próximo, merecêmo-las, moralmente. Mas elas são uma prova e uma oportunidade.
Se formos capazes do sacrifício necessário para as superar, então poderemos considerar-nos desipotecados e dignos do nome de povo livre e de nação independente.
5 Comments:
O Prof. António José Saraiva teve carradas de razão em tudo quanto escreveu sobre o 25/A. Sobre o perfíl político e moral de todos os implicados, também a teve, não sabendo ele nessa altura o que estava ainda para vir. Tivesse ele vivido mais tempo - e quem nos dera que isso tivesse acontecido - e teríamos o retrato fiel e mais escalpelizado da maior e mais vergonhosa tragédia de que há memória desde Alcácer-Quibir, como ele a definiu e bem.
Assim, segundo as suas lúcidas palavras, era ponto de honra os auto-proclamados revolucionários fazerem a
"...liquidação do regime deposto... que segundo eles era um pântano de corrupção...e terror policial:"
Sim, de facto este regime, contràriamente ao anterior, que era 'um pântano de corrupção', é um mar de virtudes incontestadas. A sua honestidade atingiu os píncaros e a integridade, verticalidade e patriotismo, o ponto mais elevado na mesma escala. Na verdade eles são a perfeição em estado puro, basta observarmos a conduta moral dos principais políticos para ficarmos completamente rendidos. E quanto ao terror policial, se antigamente houve terror da polícia, pelo menos dez milhões de portugueses sentiam-se totalmente seguros na rua ou em casa, em paz e não havia violência no País, salvo casos pontuais, não havia ladrões nem assassinos em cada esquina, nem jovens drogados aos milhares a cair aos poucos até cairem de vez, pelas ruas de todo o Portugal; agora em compensação - e viva a democracia, pois então! - os polícias têm medo dos ladrões e fogem deles a sete pés, a violência e a ladroagem são de tal ordem que uma provoca mortes todos os dias, a outra obriga a população a fechar-se em casa a partir das 9 da noite e durante o dia a correr dum lado para o outro com medo de ser assaltada, quando não de levar com um tiro ou mesmo uma facada.
Segundo os políticos de então, proceder-se-ia a um
"... Julgamento dentro das normas justas... critério rigoroso e valores definidos".
Ora aí está, foi exactamente isso que aconteceu! Juntaram-se todos, justiça incluída, numa comunhão harmoniosa e perfeita segundo a sua ordem de valores - os maiores corruptos e traidores do novo regime com os maiores oportunistas e cínicos do anterior e todos juntos, mais do que uma união de facto, celebraram um casamento para a vida, comemorado em grande com festanças e banquetes, sobretudo privados, tudo pago com os milhões que imediatamente começaram a roubar aos portugueses, antes que se fizesse tarde. Pois pudera, inesperadamente ficaram com um País inteirinho para pilhar e destruir o mais depressa possível e 800 toneladas de barras d'ouro para esbanjar à tripa-forra e tudo isto oferecido de bandeja. Havia que aproveitar e depressa.
"...não se instituiu o seu repúdio... alguns homens políticos se sentissem encorajados a seguir o mesmo caminho, como se a corrupção impune tivesse tido a consagração oficial".
Mas naturalmente que a teve, quem é que ainda duvida? Ela, corrupção, foi e é consentidíssima, aplaudidíssima e encorajadíssima e, tendo sido institucionalizada num repente, teve igualmente a sua consagração oficial rapidissimamente. Veio no pacote em que a democracia vinha embalada e como ponto número um da agenda com prioridade máxima, a sua imediata entrada em vigor. E assim aconteceu. E tudo foi executado com uma rapidez, impecabilidade, brio e denodo absolutamente inexcedíveis.
"... não é possível fazer a condenação dos escândalos do anterior regime porque outros piores os vieram desculpar".
Evidentemente que não. Nem nunca tal teria sido possível porque os escândalos deste regime começaram a processar-se a uma velocidade supersónica - para recuperar o tempo perdido, 40 anos de jejum não são pròpriamente 40 dias - ultrapassando os do anterior em quantidade, qualidade, engenharia, elaboração, sofisticação, premeditação, maquinação, malignidade, crueldade, cinismo, demagogia e hipocrisia, tornando os outros, comparativamente, numa brincadeira de crianças pequeninas.
"... Nem os acusadores ficaram livres de suspeita de conluio com os acusados antes e depois do 25 de Abril:"
Nem poderiam ter ficado. Eles não só eram suspeitos como já estavam e continuam a estar todos conluiados, pelo que são efectivamente culpados de todos os crimes subentendidos no artigo do Professor António J. Saraiva e de múltiplos outros de que o Professor, porque não viveu tempo suficiente para deles se inteirar, não os descreveu. E é muita pena. Que extraordinários e reveladores artigos nos teria legado esta mente brilhante sobre a mais vil classe política que alguma vez existiu em Portugal. Mas felizmente que nos vão chegando importantes revelações de patriotas autênticos, sejam eles militares na reserva, escritores, jornalistas ou intelectuais. E agora, honra lhes seja feita, temos brilhantíssimos Bloggers que nos vão pondo ao corrente do muito que ainda está por saber. Resta-nos ao menos esta pequena consolação para tanta traição e crime cometidos.
Parabéns pela transcrição deste excelente artigo e que outros semelhantes, do Professor ou não, se vão publicando. Nunca serão demais.
Maria
Maria,
Resta-nos a esperança de que as importantes revelações de patriotas autênticos, sejam eles militares na reserva, escritores, jornalistas ou intelectuais se traduzam em resultados práticos.
Com toda a sinceridade, tenho as maiores dúvidas desse conjunto, muito em especial no que respeita os escritores, jornalistas e intelectuais por que vejo o que são há 34 anos e o que, na sua ampla generalidade, procuram.
Nuno
Nuno, acabei de ler o seu comentário.
Mas não estará a pensar que me estava a referir aos militares, escritores, jornalistas e intelectuais "conhecidos", aqueles cujos nomes e rostos toda a gente conhece, pois não? Seguramente que não serão esses que poderão, quererão ou irão mudar algum dia seja o que for no nosso País, todos eles vivem (e bem) de e para o sistema pelo que não pensam nem em sonhos alterá-lo. Refiro-me òbviamente aos desconhecidos do grande público, isto é, àqueles que NÃO escrevem artigos de opinião nos jornais, que NÃO aparecem nas televisões a dar entrevistas por dá cá aquela palha e que NÃO estão sempre a receber prémios, cá e no estrangeiro, comendas, prebendas, honrarias e subsídios para escrever mais livros que ninguém lê e realizar filmes que ninguém vê. Quem diz escritores, diz jornalistas, pintores, escultores, cineastas, engenheiros, arquitectos e quejandos. Todos esses têm o futuro assegurado, o deles e de toda a família. Quanto ao País importam-se peva.
Os OUTROS, na presente situação, é com quem podemos contar. Não julgue o Nuno que não existem Portugueses de Primeiríssima Grandeza nestas profissões, bem como em muitas outras, mesmo nas mais humildes. O maior drama do Povo Português é que eles são demasiadamente poucos para enfrentar um polvo cujas dimensões fazem parecer micro-organismos aqueles gigantescos que efectivamente habitam nas profundezas oceânicas. E porquê tão poucos? Os motivos são variados e, aparentemente, muito complicados. A sua exacta definição é que necessitaria de uma análise aprofundada e urgente.
Maria
Maria,
Volto a concordar consigo: há, com toda a certeza, Portugueses de grande qualidade.
Mas poucos e cada vez menos.
O sistema instalado com o 25A permitiu o desenvolvimento da sanguessuga comunista que, na sua maioria, evoluiu para a socialista e hoje, muito porque os horizontes de fome estão a acercar-se aceleradamente, quase todos se achegam à mesa do orçamento e dos negócios, desde os mais "baixos" aos de maior monta.
Chora-se por trabalho a salário mínimo!
É o salve-se quem puder, senão a debandada etá não se importam de deixar as portas abertas nem de desligar a luz.
Gostaria que houvesse vontade mas, pelo que vejo, estou muito céptico.
Cumprimentos,
Nuno
Nuno, tem toda a razão, mas como a Fé é a última a morrer, aguardemos. Que a situação económica do País está num caos, é por demais evidente. Que os políticos se governam escadalosa e descaradamente em vez de nos governarem, é uma realidade constatável e constatada há 3 décadas. Que os jovens se encontram desesperados à procura d'emprego, é um facto comprovado há anos, forçando-os injustamente, porque não o encontram cá, a abandonar o País em desespero de causa, para suprema vergonha desta inominável politicagem - que teve a suprema lata e hipocrisia de proclamar no tempo da 'outra senhora' e durante anos seguidos, que os jovens emigravam porque o País não tinha emprego para lhes dar!!! - se ela ainda tivesse alguma na cara, o que òbviamente não tem. A saída para este inferno realmente não se vislumbra. Por enquanto. Tenhamos porém em mente que o nosso País já atravessou crises muito complicadas e venceu guerras terríveis, embora se deva acentuar que os tempos eram outros e os inimigos, porque visíveis, também. Esta é só mais uma crise, ainda que a mais grave de todas pelos contornos gravíssimos de que se reveste. Daí a táctica para a vencer ter que ser totalmente diferente das anteriores. É em alturas críticas como a que atravessamos que nos Países os Bravos se agigantam e se tornam Heróis. Por poucos que sejam. Sempre assim aconteceu na História dos Países e sempre assim acontecerá. Repetindo-me, tenhamos Fé. Havemos mais uma vez de sair desta.
E obrigada pelo seu comentário.
Maria
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