quinta-feira, junho 12, 2008

Partir para outra

Diferentemente da selecção nacional de futebol, Sócrates parece estar a jogar sozinho. Desta forma, enquanto ela pode ser que ganhe, em relação a ele tudo se encaminha para que ganhe - inevitavelmente.
A oposição desertou o campo. Ninguém sabe do PSD, e o outrora famoso Dr. Portas só esbraceja de vez em quando para aparecer nos telejornais, e até isso muito raramente.
Os únicos receios da maioria socretina parecem ir para a agitação à sua esquerda. Se crescerem para além do conveniente, o PCP e o BE podem dar cabo da maioria absoluta. Uma tragédia, governar com essas limitações. É preciso estar atento a tão negra perspectiva. Mas não há crise: o Alegre e a Roseta podem perfeitamente andar por aí durante um ano, à solta, a soprar virtude e indignação. No último momento trazem o rebanho ao redil, quer dizer, os votos ao sítio.
Da esquerda nada mais pode vir além do que temos; é ela a matriz fundacional deste estado de coisas, e esgotou-se. Por mais que pareça mexer-se será sempre como um cão que morde a própria cauda, às voltas sem sair do mesmo sítio.
Mas que fazer com esta direita? A verdade é que com esta não há muito a fazer, nem nada a lamentar. Se por direita entendemos aquela parte da classe política instalada no PSD e no CDS, e que tem protagonizado a alternância com o PS, é preciso dizer que a generalidade dela está satisfeita, e tem razões para isso. Sócrates serve-lhe perfeitamente.
Se por direita quisermos referir outra coisa, então será preciso construí-la, como realidade presente no panorama político português. Quanto a ser isso possível ou não, não sei. Nesta matéria sou decididamente um voluntarista. É uma empresa humana: será possível se houver gente com vontade de a realizar, em número e qualidade bastante. É redundante (será possível se for) mas parece-me a única certeza firme que se pode afirmar. De resto, toda a especulação sobre "condições objectivas" surge-me como meramente académica. É matéria útil a estudar, para orientar a acção - se esta existir. As condições objectivas criam-se, quando as subjectivas existem.
O importante é mesmo acentuar este ponto: transformar a realidade política portuguesa é uma empresa humana, e as empresas humanas dependem dos homens e das vontades.
Obviamente, se a direita está bem assim não há que contar com ela para derrubar o que está.
Se não estiver, não faz sentido que continue a insistir em mais do mesmo.
Vamos para outra, que está tudo por fazer.