Vauban, património universal
Segundo li na imprensa francesa, o comité do Património Mundial da UNESCO, composto por representantes de 21 países, anunciou no passado dia 7 de Julho, além do mais, a inclusão na sua lista de doze fortificações construídas no século XVII pelo arquitecto militar francês Vauban (1633-1707).
O comité de especialistas reúne-se uma vez por ano para analisar e escolher as candidaturas que lhe são presentes, em função do seu "excepcional valor universal" e do seu plano de protecção.
Todas as construções reconhecidas como património mundial ficam situadas em território francês; todo o trabalho da promoção da candidatura foi da responsabilidade dos interessados franceses. Compreende-se.
Todavia, para um eborense, mesmo adoptivo, não é possível deixar de recordar que se há um sítio no mundo em que o perfil urbano de uma cidade foi decisivamente marcado por Vauban esse é notoriamente Évora. Todavia, nem os franceses parecem querer conhecer a presença de Vauban em Évora nem os responsáveis eborenses parecem conhecê-la efectivamente.
Pelo contrário, tendo em conta as orientações consagradas no novo e extraordinário estudo/projecto/plano da ParqueExpo, apresentadas a público em recentes reuniões muito participadas, é razoável recear que as fortificações de Vauban, juntamente com a muralha fernandina, sejam o principal inimigo a considerar no formidável desígnio de apagar a distinção entre cidade intra-muros e extra-muros... É ver o verdadeiro frenesim de apagamento do tal traço distintivo que enforma o aluvião de propostas trazidas aos perplexos eborenses (e que já é bem patente nalgumas empreitadas recentes, e noutras em curso, todas dispostas em anel, pelo interior e pelo exterior do recinto amuralhado, esforçando-se por amesquinhar, esmagar, ocultar, sobrepor-se a tão horrenda herança).
Por entre as novas rodovias e ciclovias, e a ânsia de ocupação dos espaços não edificados, não me espantaria que ainda surgissem uns projectos vanguardistas de construção de imóveis para habitação em cima dos baluartes. São lugares com muito boas vistas, e, com uns traços futuristas, umas torres coloridas e muito envidraçadas em cada baluarte, à roda da cidade, conseguia-se indiscutivelmente deixar uma marca original a assinalar para a posteridade estes nossos desvairados tempos.
"Planos de protecção", imagine-se, diz a UNESCO... O que é preciso é enquadrar e engolir tudo na malha urbana, fazer desaparecer essa ignóbil diferença entre a cidade intra-muros e extra-muros... (Ai de mim, parece-me que a especificidade eborense reside precisamente nesse carácter único que lhe confere a permanência de uma cidade intra-muros, preservada e claramente delimitada e personalizada, num conjunto único e harmonioso, cuja fronteira visível, que cumpria sublinhar e valorizar, está exactamente na cerca medieval, com os acrescentos que lhe foram justapostos pelos conflitos de épocas posteriores, como a de Vauban). Ainda por cima o trabalho de Vauban traz em si a recordação de um período obscurantista, em que os portugueses se batiam pela continuidade e independência da Pátria, preocupação nada condizente com esta era avançada e cosmopolita.
Não tenho esperanças de ver seguida a perspectiva da minha preferência (durante algumas décadas foi, através de um trabalho coerente e sistemático, que deu à cidade aquilo que ela ainda tem).
A propósito de Vauban, tenho a impressão que a única lembrança dele que se encontra na urbe eborense é um restaurante, mantido pela EPRAL para aprendizagem dos seus alunos. Os mais curiosos, que reparam no nome, devem pensar que se trata de algum cozinheiro famoso.
O comité de especialistas reúne-se uma vez por ano para analisar e escolher as candidaturas que lhe são presentes, em função do seu "excepcional valor universal" e do seu plano de protecção.
Todas as construções reconhecidas como património mundial ficam situadas em território francês; todo o trabalho da promoção da candidatura foi da responsabilidade dos interessados franceses. Compreende-se.
Todavia, para um eborense, mesmo adoptivo, não é possível deixar de recordar que se há um sítio no mundo em que o perfil urbano de uma cidade foi decisivamente marcado por Vauban esse é notoriamente Évora. Todavia, nem os franceses parecem querer conhecer a presença de Vauban em Évora nem os responsáveis eborenses parecem conhecê-la efectivamente.
Pelo contrário, tendo em conta as orientações consagradas no novo e extraordinário estudo/projecto/plano da ParqueExpo, apresentadas a público em recentes reuniões muito participadas, é razoável recear que as fortificações de Vauban, juntamente com a muralha fernandina, sejam o principal inimigo a considerar no formidável desígnio de apagar a distinção entre cidade intra-muros e extra-muros... É ver o verdadeiro frenesim de apagamento do tal traço distintivo que enforma o aluvião de propostas trazidas aos perplexos eborenses (e que já é bem patente nalgumas empreitadas recentes, e noutras em curso, todas dispostas em anel, pelo interior e pelo exterior do recinto amuralhado, esforçando-se por amesquinhar, esmagar, ocultar, sobrepor-se a tão horrenda herança).
Por entre as novas rodovias e ciclovias, e a ânsia de ocupação dos espaços não edificados, não me espantaria que ainda surgissem uns projectos vanguardistas de construção de imóveis para habitação em cima dos baluartes. São lugares com muito boas vistas, e, com uns traços futuristas, umas torres coloridas e muito envidraçadas em cada baluarte, à roda da cidade, conseguia-se indiscutivelmente deixar uma marca original a assinalar para a posteridade estes nossos desvairados tempos.
"Planos de protecção", imagine-se, diz a UNESCO... O que é preciso é enquadrar e engolir tudo na malha urbana, fazer desaparecer essa ignóbil diferença entre a cidade intra-muros e extra-muros... (Ai de mim, parece-me que a especificidade eborense reside precisamente nesse carácter único que lhe confere a permanência de uma cidade intra-muros, preservada e claramente delimitada e personalizada, num conjunto único e harmonioso, cuja fronteira visível, que cumpria sublinhar e valorizar, está exactamente na cerca medieval, com os acrescentos que lhe foram justapostos pelos conflitos de épocas posteriores, como a de Vauban). Ainda por cima o trabalho de Vauban traz em si a recordação de um período obscurantista, em que os portugueses se batiam pela continuidade e independência da Pátria, preocupação nada condizente com esta era avançada e cosmopolita.
Não tenho esperanças de ver seguida a perspectiva da minha preferência (durante algumas décadas foi, através de um trabalho coerente e sistemático, que deu à cidade aquilo que ela ainda tem).
A propósito de Vauban, tenho a impressão que a única lembrança dele que se encontra na urbe eborense é um restaurante, mantido pela EPRAL para aprendizagem dos seus alunos. Os mais curiosos, que reparam no nome, devem pensar que se trata de algum cozinheiro famoso.
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