sexta-feira, agosto 22, 2008

Heróis e vilões: um retrato português

(Pela sua pertinência e acerto, reproduzo um artigo de Pedro Correia sobre o famigerado "caso Esmeralda")

1. Um casal que anda há cinco anos a desrespeitar sucessivas ordens de sucessivos tribunais sequestrando uma criança que ficou irregularmente à sua guarda é levado em ombros pela opinião “esclarecida” e transformado em modelo de cidadania. Inventa-se até um novo conceito, inexistente na lei – o de “pais afectivos” –, para enaltecer ainda mais este edificante modelo de fuga permanente à justiça.
2. Um jovem que anda há cinco anos a procurar obter por todas as vias legais a tutela sobre uma filha que ninguém nega ser sua, e que viu todas as instâncias jurisdicionais confirmarem esta pretensão, é transformado em vilão pela mesma opinião “esclarecida” e vaiado na praça pública como se estivesse a cometer um acto ilícito. Na mesma sociedade, recorde-se, onde o conceito de paternidade responsável tantas vezes – demasiadas vezes – é mera letra morta perante a sistemática indiferença de gregos e troianos.
3. A advogada do casal – que chegou a ser transformada também em heroína de uma causa justa – abandona subitamente este patrocínio. E, num país onde tudo se sabe, de repente parece que ninguém quer indagar quais foram os motivos de tão surpreendente decisão.
É tempo de pararmos para tentar reflectir um pouco no meio desta gritaria “comunicacional” que demoniza uns e notabiliza outros. É tempo de percebermos quem transforma quem em herói e em vilão. E como. E porquê.
E para quê.

1 Comments:

At 12:45 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Muito bem. Mas haver respostas para essas perguntas é que vai ser mais difícil, senão mesmo impossível. A menos que haja alguém suficientemente corajoso para dar um passo em frente. Apesar das ameaças dos poderosos.
Para se perceber o modo como este caso está a ser tratado, ou melhor dito, para que lado ele está a ser levado, basta fixarmo-nos nas personagens de opereta que estão por detrás dele desde o primeiro minuto, ou até antes deste, escondidas mas paradoxalmente bem à vista. E porque assim é e coincidentemente sendo estas algumas das que também estão por detrás do silenciamento do Caso Casa Pia, estará tudo dito. Não conheço o perfil psicológico do pai biológico da criança, portanto dele não me pronuncio; os dos pais 'afectivos' também não, mas em compensação conheço de cor, eu e todos os portugueses, os perfís morais e políticos dos que os apoiam e que deles não se despegam - ùltimamente mais resguardados como convém - enaltecendo abertamente os ilícitos por eles cometidos, como o fizeram pùblicamente, pelo que não será necessário saber muito mais sobre o caso, como de resto se deduz perfeitamente o que motiva o seu emperramento.
Casa Pia sobre a qual, nem de propósito, passou hoje na SIC um documentário bastante razoável e que vi por absoluto acaso, já que é raro abrir a televisão. Como sempre, esse outro Herói deste processo, Mestre Américo, esteve à altura do que lhe foi perguntado. E mais não disse. Aquele não era porventura o momento adequado para ele ter sido mais explícito ou conclusivo nas respostas. Foi pena mas compreende-se. Esperemos que um dia não muito longo no tempo, a SIC, ou outra qualquer televisão, lhe dedique um espaço alargado de antena, o mesmo que gastou neste documentário, por exemplo, para que ele possa contar aos portugueses, do muito que sabe e em parte já revelou, o que ainda ficou por dizer. O povo português exige a verdade absoluta sobre este caso e o Mestre Américo tem autoridade moral, integridade e total legitimidade para o fazer.
Maria

 

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