Meu país de si inimigo
Recordando a História, a propósito de Angola, escreve Helena Matos:
"Em Fevereiro de 1975, ou seja muito antes da independência de Angola e numa fase em que o governo português nomeava ministros para o governo de transição de Angola, em que o Conselho de Estado, reunido em Portugal, determinava que o Alto-Comissário designado para Angola teria “categoria e honras idênticas às do Primeiro-Ministro do Governo Português”, achou o nosso governo apropriado e honroso que o dia 15 de Março de 1961 integrasse o calendário dos feriados de Angola, na qualidade de data festiva. Confesso que não sei o suficiente de História Universal para garantir que é inédito este gesto dos governantes, militares e civis, dum país, assinarem um decreto que transforma em dia de glória a data em que os seus cidadãos foram massacrados mas tenho a certeza que, em matéria de colonização e descolonização, os grandes crimes dos portugueses não constam apenas dos “relatórios oficiais, nunca tornados públicos” e que começam agora, felizmente, a sair do segredo e da poeira dos arquivos. Os crimes estão também aí diante dos nossos olhos, onde aliás sempre estiveram: na linguagem burocrático-enfatuada dos decretos que enchem diários e boletins oficiais."
"Em Fevereiro de 1975, ou seja muito antes da independência de Angola e numa fase em que o governo português nomeava ministros para o governo de transição de Angola, em que o Conselho de Estado, reunido em Portugal, determinava que o Alto-Comissário designado para Angola teria “categoria e honras idênticas às do Primeiro-Ministro do Governo Português”, achou o nosso governo apropriado e honroso que o dia 15 de Março de 1961 integrasse o calendário dos feriados de Angola, na qualidade de data festiva. Confesso que não sei o suficiente de História Universal para garantir que é inédito este gesto dos governantes, militares e civis, dum país, assinarem um decreto que transforma em dia de glória a data em que os seus cidadãos foram massacrados mas tenho a certeza que, em matéria de colonização e descolonização, os grandes crimes dos portugueses não constam apenas dos “relatórios oficiais, nunca tornados públicos” e que começam agora, felizmente, a sair do segredo e da poeira dos arquivos. Os crimes estão também aí diante dos nossos olhos, onde aliás sempre estiveram: na linguagem burocrático-enfatuada dos decretos que enchem diários e boletins oficiais."
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home