sexta-feira, setembro 05, 2008

O regresso

O líder da bancada socialista na Assembleia da República, Alberto Martins, informou em comunicado que Paulo Pedroso vai regressar ao seu lugar de deputado, sem mais tardança.
Explica, muito oficialmente, que "cessaram as razões, por este em tempo invocadas, de impossibilidade temporária para o exercício do mandato de deputado".
O interessado confirmou.
Ontem já eu tinha sublinhado aqui a estranheza que me causava o frenesim que notoriamente se apoderou de um grupo claramente identificável e que logo surgiu a cavalgar a onda, de sentença na mão, feita bandeira. Estranhei o frenesim, e a pressa.
Algo se passa, mas sem explicador que me ajude a suprir as insuficiências próprias confesso que não atino com explicações que me satisfaçam.
Hoje, com este anúncio do regresso triunfal logo 24 horas depois, mais se agudizou a minha perplexidade com as motivações desta pressa toda.
Ontem ainda alvitrei que podia haver óbvio interesse em aproveitar para fazer força sobre o próprio processo Casa Pia e sobre processos conexos ... mas, sendo realista, parece pouco (e não justifica a necessidade de protagonismo parlamentar).
Talvez a outra pista, as urgências que são políticas...
Realmente, há aqui qualquer coisa que não está nas explicações. Estas não batem certo.
Se o impedimento estava na situação de arguido em processo penal, já tinha cessado há muito.
Se estava na pendência do chamado processo Casa Pia, ela continua e não se sabe até quando.
Se o impedimento residia nesta acção cível em que PP é autor, o que dificilmente se percebe, então é preciso dizer que o impedimento se mantém, uma vez que o processo prossegue os seus trâmites.
Poderá entender-se que a sentença favorável na primeira instância criou as condições políticas para o regresso ao parlamento? Pode ser, mas nesse caso parece muito elevado o preço político que resultará de uma eventual revogação da sentença. O risco é grande.
Tem que haver outras razões de peso para a pressa que parece ter tomado conta de PP e do seu grupo.
Até pode ser que a questão seja simples, e tenha que ver com os jogos de poder dentro do PS. Com efeito, está a começar a última legislatura antes das eleições que se seguem. E nestas coisas quem fica de fora, esquece. Não é provável que o grupo que foi apeado para dar lugar à direcção Sócrates queira passar definitivamente à condição de reforma política. Todos se acham demasiado novos, e demasiado merecedores dos lugares que ainda não tiveram.
Sócrates que se cuide.

4 Comments:

At 3:22 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Talvez a explicação para a "pressa" esteja bem mais perto do que se imagina. Na minha opinião, e vendo a coisa apenas pela inversa, isto é, o que sucederia se PP não fosse imediatamente reintegrado em tudo e mais alguma coisa, trata-se de não dar azo a qualquer dúvida ou engulho na opinião pública. Se assim não fosse, as pessoas poderiam talvez pensar que o próprio Partido do agora remontado ainda mantinha reservas quanto ao seu comportamento...

 
At 3:53 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Eu também não creio em bruxas, mas lá que as há....
Só um pormenor que não tem sido sublinhado: para Pedroso voltar à AR era necessário que alguém saísse.
Teria que ser algum dos deputados por Setúbal, dado o mecanismo das substituições (Pedroso foi décimo na lista por Setúbal, logo havia nove à sua frente).
Mas não há problema: aqui há pouco tempo o deputado Vítor Ramalho foi nomeado presidente do INATEL, pelo que já não voltará à Assembleia na reabertura desta.
Vítor Ramalho é deputado por Setúbal, o tal que era necessário sair para Pedroso entrar.
E quem fez a nomeação? O Ministro Vieira da Silva, claro.
Parece que bem antes da sentença ser oficialmente conhecida já estavam a ser criadas as "condições políticas" para o regresso de Pedroso...

 
At 8:36 da tarde, Anonymous Anónimo said...

"... parece muito elevado o preço político... O risco é grande".

Qual quê, nem pense nisso! O preço a pagar é nenhum e o risco é zero. Simplesmente porque está protegido pelos poderosos e porque não tem um pingo de vergonha na cara.
Aqueles que adoram e protegem esta criatura, com cara de quem não parte um prato nem faz mal a uma mosca, sabem como levantar calúnias e difamações contra as pessoas de bem que denunciam a pedofilia e que são a maioria da população, mas a quem eles, que são uma minoria que vive dela e para ela, por processos vergonhosos se conseguem sobrepor anulando-lhes a voz. Não esqueçamos que as que o defendem a limite, são as mesmíssimas personagens que estão por detrás de tudo o que de mais abjecto, em todos os seus aspectos mais degradantes, tem acontecido em Portugal.
Ele/eles têm lata para dar e vender. Bem diz o povo que quem não tem vergonha todo o mundo é seu. E pelo que se viu e continua a ver, o país continua a ser deles relativamente à mentira descomunal com que o têm governado e à inversão de valores que vêm impondo há décadas em todas as áreas da sociedade, designadamente a repugnante mentira que querem à força que prevaleça como verdade insofismável no vergonhoso Processo Casa Pia. O penúltimo acto desta farsa em quatro actos vem sendo subreptìciamente preparado nas ante-câmaras do poder desde que essa criatura foi detida em consequência dos crimes cometidos. Criatura esta que foi perfeitamente identificada pelas crianças e jovens como pedófilo compulsivo e seu abusador sexual, mas não obstante vai ter o desplante de regressar à "casa da democracia" (eu chamar-lhe-ia outra coisa)- como eufemìsticamente os traidores a apelidam, mas onde têm sido cozinhadas à revelia do povo as maiores e mais vís traições à Pátria e onde escandalosamente protegidos se sentam (e já se sentaram) despudoradamente alguns dos mais nojentos seres humanos que o nosso país já viu nascer - para em triunfo voltar a ocupar o seu anterior lugar de "deputado da nação"... Esperemos, sem nos espantarmos, pelo último acto desta revoltante tragicomédia.
Maria

 
At 8:00 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Maria, é um excelente texto que, infelizmente, reproduz a verdade nua e crua dos tempos que estamos a viver.
Ontem, escrevi o que penso numas linhas que, por qualquer motivo, se perderam. No fundo, corroborava a sua exposição: é impensável que a nossa Nação se tenha degradado tanto que o Povo tenha perdido toda a qualificação - e força - que lhe permita exigir aos seus representantes, os tais deputados, um comportamento decente. Presentemente, o Zé Pagode não sabe em quem votar nem para quê.
Astutos e sinistros, os socialistas conseguiram exactamente o que pretendem: "governar" um Povo transformado muma massa humana inerte, incapaz de reagir.
Ponto é que, curiosa e simultaneamente, todos têm a noção de que é preciso "fazer qualquer coisa!.
Ora bem, será de ficar á espera que salte a rolha da garrafa?

Nuno

 

Enviar um comentário

<< Home