quarta-feira, setembro 10, 2008

Um escritor esquecido: Francisco Costa

Falei, a propósito de Joaquim Paço d'Arcos, em autores e obras literárias que por circunstâncias várias, a que não são estranhas as modas, as correntes, as políticas, e os compadrios da praça, ficaram relegados para um pesado esquecimento, jazendo agora quase só no pó das bibliotecas.
A esse respeito lembro-me sempre de Francisco Costa, que Miguel Real evocou como o escritor sintrense por excelência.
Costa publicou, vai para mais de 60 anos, o romance "Cárcere Invisível", que me prendeu desde a primeira vez que o li e passei desde então a considerar como a mais conseguida realização literária do que se pode chamar o romance católico, de tese, que teve cultores mais ilustres e conhecidos por outras paragens. Permito-me acrescentar que perante certas controvérsias de hoje essa obra hoje desconhecida me parece ainda mais viva e actual. E o Portugal de 2008 não é certamente o Portugal de 1940 - sintoma de que o livro alcança a intemporalidade que tem que caracterizar a verdadeira obra de arte.
Creio que foi esse rótulo de "romancista católico" que condenou irremediavelmente Francisco Costa, em vida e depois disso. Ele aliás assumiu a sua marginalização, e viveu tranquilamente o seu estatuto de estranho à república das letras. Nem a efémera glória de Manuel Ribeiro (bem conhecido aqui na Planície Heróica), por algum tempo aclamado como o grande romancista católico essencialmente por ser um convertido, tocou ao olvidado Francisco Costa.
(Curiosamente, o referido romance "Cárcere Invisível", pese embora a qualidade de escritor sintrense que quadra bem ao escritor e à globalidade da sua obra, tem uma forte componente alentejana, já que o enredo se localiza numa parte em Lisboa e noutra grande parte em Beja e arredores).
Juntamente com "Cárcere Invisível", a obra com que o romancista Francisco Costa atingiu maior projecção foi "A Garça e a Serpente", que mereceu o Prémio Literário Eça de Queiroz.
O que parece certo é que talvez ainda não tenha chegado a hora para quem escolheu como sua a luta ideológica e literária contra o modernismo, numa época em que o combate pelas regras clássicas não poderia valer senão uma ostracização ostensiva. Pelo menos a quem faz e desfaz as glórias literárias ainda parece cedo para a necessária revisão.

2 Comments:

At 9:02 da manhã, Blogger Joana Torres said...

Caro Bloguista,
Estou neste momento a ler a trilogia "Em busca do Amor perdido" de Francisco Costa e devo dizer que ja me apaixonei pela escrita do autor, que não passa para a grande maioria de um "ilustre desconhecido".
Queria agradecer a informação aqui encontrada, visto que esta é, a respeito deste autor, escassa.
Como tenho um trabalho escolar em desenvolvimento, a publicação deu-me bastante jeito.
Muito Grata,
Joana Torres

 
At 12:09 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Francisco Costa foi incontestavelmente um dos maiores romancista portugueses do século passado. Foi propositadamente esquecido por se tratar de um escritor católico, facto bem presente nas suas obras. Tivesse sido ele um escritor de esquerda e teria sido incensado. Fui amigo do escritor que me honrou com a sua amizade e fui aluno de uma das suas filhas a Maria Leopoldina. Os romances de Francisco Costa sºao extraordinários, já o dizia João Gaspar Simões. A Graça e a Serpente, que foi adaptado ao cinema, A Primavera Cinzenta, O Cárcere Invisível, O Escândalo na Vila e o Promontório Agreste entre outros são livros do melhor que se escrveu em Portugal no século XX.
Parabéns pelelo seu post sobre este grande vulto de Sintra e das letras portuguesas.

 

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