Evolução e continuidade
Uma realidade nunca devidamente estudada nas inúmeras obras que se debruçaram sobre a vida política das últimas décadas em Portugal é a óbvia continuidade do essencial da classe dirigente (política e não só) desde o final dos anos sessenta do século que passou.
A visão do 25 de Abril como ruptura, como marco separador de um antes e um depois mitificados e mistificados, é demasiado conveniente para ser posta em causa.
Mas é evidentemente falsa.
Não foram só Veiga Simão e Silva Pinto, Spínola e Costa Gomes, Rogério Martins e Manuel José Homem de Mello, Adriano Moreira e Pereira de Moura, Jacinto Nunes e Teixeira Ribeiro, que já eram gente grada no regime anterior e continuaram a sê-lo tranquilamente no posterior, sem sobressaltos de maior.
A iniciativa actualmente em curso sob a denominação de ciclo "Tempos de Transição" é por demais elucidativa para que a deixe passar sem este comentário. Leia-se atentamente a notícia do Expresso sobre a recente conferência-colóquio "O Regime e a Ala Liberal".
Até houve lugar para a verve humorística de Nogueira de Brito, que acertou em cheio na caracterização da tal "Ala Liberal": "uma espécie de ala dos namorados do prof. Marcelo Caetano".
De resto, está lá tudo: Nogueira de Brito, João Salgueiro, Elmano Alves, Nogueira de Brito, Mota Amaral, Rui Vilar, Pinto Balsemão, a recordação de José Pedro Pinto Leite, José Manuel de Mello, Maria de Lurdes Pintasilgo, André Gonçalves Pereira e Diogo Freitas do Amaral... Não se fala de Amaro da Costa ou Marcelo Rebelo de Sousa, mas podia falar-se.
A ideia central que ressalta (aos meus olhos, evidentemente) é a que já tinha: as forças que mexiam então na sociedade portuguesa são as mesmas que continuaram depois, e os protagonistas também. No poder que hoje está estão as pessoas que não havendo 25 de Abril mas tendo prosseguido a evolução daquilo que estava muito provavelmente estariam agora nos mesmos lugares onde estão. Guterres, Barroso ou Sócrates teriam começado por secretários ou subsecretários de Estado, Vital Moreira seria procurador à Câmara Corporativa.
A sessão que decorreu quarta-feira no Grémio Literário (ironia suprema, conhecendo-se as peripécias da abrilada) teve a presidência de Elmano Alves, que também presidiu à ANP e que explicou aos circunstantes como fechou a porta da instituição (mas não deixou ninguém lá fechado!).
Sorri com gosto, e lembrei-me de algo que tinha lido recentemente num blogue de Évora: no congresso da ANP realizado em Maio de 1973 em Tomar, e que veio a ser o último (presidiu Elmano Alves, como na sessão de quarta-feira passada), estiveram e falaram como representantes da juventude do distrito de Évora uns estudantes universitários de então, de nomes Capoulas Santos, Henrique Troncho, José Ramalho Ilhéu. Entretanto passou o tempo e são estes quem tem na mão a estrutura distrital de Évora do PS, o partido do poder. Aliás, são militantes históricos, entraram logo em Maio de 1974. Tudo indica que se não fosse o 25 de Abril teriam estado nos últimos trinta anos nos mesmos lugares públicos que têm e já tiveram, só que provavelmente sob a sigla da ANP, ou outra sucedânea.
É assim.
O Moita Flores estaria certamente a palestrar nos cursos de formação da MP, como fazia então, com a mesma dedicação com que agora nos educa na televisão do regime (deste). E o Prof. Marcelo seria ministro dessa área, não sei se só da informação ou se da informação e turismo, como Moreira Baptista (isso dependeria das remodelações governamentais).
Mudanças, houve. Mas nisto, classe dirigente e pessoal político, a nota dominante é a oposta. Continuidade, e evolução. Evolução na continuidade.
A visão do 25 de Abril como ruptura, como marco separador de um antes e um depois mitificados e mistificados, é demasiado conveniente para ser posta em causa.
Mas é evidentemente falsa.
Não foram só Veiga Simão e Silva Pinto, Spínola e Costa Gomes, Rogério Martins e Manuel José Homem de Mello, Adriano Moreira e Pereira de Moura, Jacinto Nunes e Teixeira Ribeiro, que já eram gente grada no regime anterior e continuaram a sê-lo tranquilamente no posterior, sem sobressaltos de maior.
A iniciativa actualmente em curso sob a denominação de ciclo "Tempos de Transição" é por demais elucidativa para que a deixe passar sem este comentário. Leia-se atentamente a notícia do Expresso sobre a recente conferência-colóquio "O Regime e a Ala Liberal".
Até houve lugar para a verve humorística de Nogueira de Brito, que acertou em cheio na caracterização da tal "Ala Liberal": "uma espécie de ala dos namorados do prof. Marcelo Caetano".
De resto, está lá tudo: Nogueira de Brito, João Salgueiro, Elmano Alves, Nogueira de Brito, Mota Amaral, Rui Vilar, Pinto Balsemão, a recordação de José Pedro Pinto Leite, José Manuel de Mello, Maria de Lurdes Pintasilgo, André Gonçalves Pereira e Diogo Freitas do Amaral... Não se fala de Amaro da Costa ou Marcelo Rebelo de Sousa, mas podia falar-se.
A ideia central que ressalta (aos meus olhos, evidentemente) é a que já tinha: as forças que mexiam então na sociedade portuguesa são as mesmas que continuaram depois, e os protagonistas também. No poder que hoje está estão as pessoas que não havendo 25 de Abril mas tendo prosseguido a evolução daquilo que estava muito provavelmente estariam agora nos mesmos lugares onde estão. Guterres, Barroso ou Sócrates teriam começado por secretários ou subsecretários de Estado, Vital Moreira seria procurador à Câmara Corporativa.
A sessão que decorreu quarta-feira no Grémio Literário (ironia suprema, conhecendo-se as peripécias da abrilada) teve a presidência de Elmano Alves, que também presidiu à ANP e que explicou aos circunstantes como fechou a porta da instituição (mas não deixou ninguém lá fechado!).
Sorri com gosto, e lembrei-me de algo que tinha lido recentemente num blogue de Évora: no congresso da ANP realizado em Maio de 1973 em Tomar, e que veio a ser o último (presidiu Elmano Alves, como na sessão de quarta-feira passada), estiveram e falaram como representantes da juventude do distrito de Évora uns estudantes universitários de então, de nomes Capoulas Santos, Henrique Troncho, José Ramalho Ilhéu. Entretanto passou o tempo e são estes quem tem na mão a estrutura distrital de Évora do PS, o partido do poder. Aliás, são militantes históricos, entraram logo em Maio de 1974. Tudo indica que se não fosse o 25 de Abril teriam estado nos últimos trinta anos nos mesmos lugares públicos que têm e já tiveram, só que provavelmente sob a sigla da ANP, ou outra sucedânea.
É assim.
O Moita Flores estaria certamente a palestrar nos cursos de formação da MP, como fazia então, com a mesma dedicação com que agora nos educa na televisão do regime (deste). E o Prof. Marcelo seria ministro dessa área, não sei se só da informação ou se da informação e turismo, como Moreira Baptista (isso dependeria das remodelações governamentais).
Mudanças, houve. Mas nisto, classe dirigente e pessoal político, a nota dominante é a oposta. Continuidade, e evolução. Evolução na continuidade.
1 Comments:
Ruptura? Qual ruptura? Passaram pelo poder, nos últimos 30 e tal anos, precisamente aqueles que lé teriam chegado, mesmo sem o 25A. Que me desculpem os discípulos de Freitas da Costa e de Manuel Maria Múrias, mas o mal nem sequer é do marcelismo (embora hoje o marcelismo predomine): muitos dos que pontificaram nos anos 70 e 80 eram lídimos frutos do salazarismo puro e duro - só não se percebeu bem porque era a segunda vez que viravam a casaca...
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