Os professores, as escolas, e as fantasias ideológicas
A actual balbúrdia na educação é uma delícia para os cínicos.
Os professores, quase em uníssono, espumam de indignação contra as políticas do PS. Podem ter razão, mas ninguém ignora, a começar pelos próprios, que foram eles que lá puseram esse governo. São uma fatia eleitoral tão significativa, eles e os respectivos núcleos familiares, e em que se verifica um tão esmagador domínio do voto PS, que se pode dizer sem mentir que se não fossem eles o PS não ganhava eleições. (Esta observação é verdadeira para as eleições anteriores, e vale para as próximas... Aliás, é um fenómeno que não se verifica só em Portugal: em França por exemplo tem sido amplamente documentada a caracterização do PS como um partido do professorado e do funcionalismo. A questão tem raízes muito profundas, e liga-se ao lugar central que os PSs, e a classe docente, ocupam actualmente em relação à ideologia comum nas actuais sociedades ocidentais).
Há, no entanto, bastantes outros motivos de interesse.
Desde logo, a senhora ministra. Esta enfrenta uma situação que se repete frequentemente com as pessoas da sua formação ideológica. Cresceu e formou-se como militante da extrema-esquerda, com toda a carga de fantasias que isso implica. Depois avançou em idade, subiu na vida, e pensou que as suas ideias tinham amadurecido. Viu-se em situação de se confrontar com a realidade, e constata que afinal as ideias não tinham amadurecido nada - eram um conjunto de efabulações, que é preciso esquecer ao contacto com a vida. Como também tem acontecido com frequência, este choque com a natureza das coisas pode despertar pulsões perigosas, que estavam adormecidas mas não destruídas na alma embalada pelas ilusões da doutrina. Em cada ex-esquerdista pode estar latente um temível concentracionário; querem à força corrigir o mundo, que lhes contrariou as crenças. Cuidado com eles.
Todavia, e olhando para o plano meramente pessoal, é bem real o drama interior que os dilacera.
Como pano de fundo, temos as escolas. Estas foram e são, essencialmente, vítimas da mania funesta da igualdade e da democracia. Em qualquer tarefa minimamente complexa a que os homens se dediquem, em qualquer organização humana, a natureza revela as suas leis inexoráveis. Estas apontam inexoravelmente para a diferenciação, a especialização funcional, a hierarquização. Tudo na monomania igualitarista e nas ficções democráticas vai no sentido da violentação das regras da natureza. Se levadas a sério, são falácias que destroem qualquer organização social. A democracia só funciona quando é pouca e não ultrapassa o plano das convenções e das aparências. O que tem importância não pode estar dependente de "gestões democráticas e participadas".
Assim tem acontecido com a escola: a tentativa de institucionalizar na prática ideias que se chocam com o próprio conceito de instituição, de organizar essas realidades com base em dogmas que são incompatíveis com as ideias de organização ou de organismo, não poderiam conduzir a outro resultado que não fosse o desastre que todos constatam (mesmo aqueles que não querem admitir as verdadeiras causas).
É esta a verdade, mas não se pode dizer. Não podem os professores, que a conhecem, nem pode o Ministério, que também não a ignora, e não pode a Ministra, que lhe apetecia gritá-la (sobretudo agora, que é perseguida pelos ovos e pela berraria da turbamulta histérica educada para a liberdade de expressão).
Para todos eles, a situação é dramática: como podem eles dizer agora que a deseducação geral, o falhanço da escola, é o resultado directo dos princípios que apregoam nas aulas, que proclamam nos textos de orientação, que enfatizam nos discursos, que reclamam nas ruas?
Os professores, quase em uníssono, espumam de indignação contra as políticas do PS. Podem ter razão, mas ninguém ignora, a começar pelos próprios, que foram eles que lá puseram esse governo. São uma fatia eleitoral tão significativa, eles e os respectivos núcleos familiares, e em que se verifica um tão esmagador domínio do voto PS, que se pode dizer sem mentir que se não fossem eles o PS não ganhava eleições. (Esta observação é verdadeira para as eleições anteriores, e vale para as próximas... Aliás, é um fenómeno que não se verifica só em Portugal: em França por exemplo tem sido amplamente documentada a caracterização do PS como um partido do professorado e do funcionalismo. A questão tem raízes muito profundas, e liga-se ao lugar central que os PSs, e a classe docente, ocupam actualmente em relação à ideologia comum nas actuais sociedades ocidentais).
Há, no entanto, bastantes outros motivos de interesse.
Desde logo, a senhora ministra. Esta enfrenta uma situação que se repete frequentemente com as pessoas da sua formação ideológica. Cresceu e formou-se como militante da extrema-esquerda, com toda a carga de fantasias que isso implica. Depois avançou em idade, subiu na vida, e pensou que as suas ideias tinham amadurecido. Viu-se em situação de se confrontar com a realidade, e constata que afinal as ideias não tinham amadurecido nada - eram um conjunto de efabulações, que é preciso esquecer ao contacto com a vida. Como também tem acontecido com frequência, este choque com a natureza das coisas pode despertar pulsões perigosas, que estavam adormecidas mas não destruídas na alma embalada pelas ilusões da doutrina. Em cada ex-esquerdista pode estar latente um temível concentracionário; querem à força corrigir o mundo, que lhes contrariou as crenças. Cuidado com eles.
Todavia, e olhando para o plano meramente pessoal, é bem real o drama interior que os dilacera.
Como pano de fundo, temos as escolas. Estas foram e são, essencialmente, vítimas da mania funesta da igualdade e da democracia. Em qualquer tarefa minimamente complexa a que os homens se dediquem, em qualquer organização humana, a natureza revela as suas leis inexoráveis. Estas apontam inexoravelmente para a diferenciação, a especialização funcional, a hierarquização. Tudo na monomania igualitarista e nas ficções democráticas vai no sentido da violentação das regras da natureza. Se levadas a sério, são falácias que destroem qualquer organização social. A democracia só funciona quando é pouca e não ultrapassa o plano das convenções e das aparências. O que tem importância não pode estar dependente de "gestões democráticas e participadas".
Assim tem acontecido com a escola: a tentativa de institucionalizar na prática ideias que se chocam com o próprio conceito de instituição, de organizar essas realidades com base em dogmas que são incompatíveis com as ideias de organização ou de organismo, não poderiam conduzir a outro resultado que não fosse o desastre que todos constatam (mesmo aqueles que não querem admitir as verdadeiras causas).
É esta a verdade, mas não se pode dizer. Não podem os professores, que a conhecem, nem pode o Ministério, que também não a ignora, e não pode a Ministra, que lhe apetecia gritá-la (sobretudo agora, que é perseguida pelos ovos e pela berraria da turbamulta histérica educada para a liberdade de expressão).
Para todos eles, a situação é dramática: como podem eles dizer agora que a deseducação geral, o falhanço da escola, é o resultado directo dos princípios que apregoam nas aulas, que proclamam nos textos de orientação, que enfatizam nos discursos, que reclamam nas ruas?
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