segunda-feira, fevereiro 09, 2009

A internet pode ganhar eleições?

Uma reflexão necessária, neste ano de todas as eleições, vem, mais uma vez, de Pedro Guedes:

"Volto a confessar o meu desinteresse pelas eleições norte-americanas salvo num aspecto: o da utilização da internet como ferramenta incontornável para a conquista eleitoral. E nesse aspecto, convenhamos, Barack Obama deu cartas desde a primeira hora. Ora atentem: mais de 3 milhões de apoiantes no Facebook a 4 de Novembro (são agora mais de 5 milhões); inúmeras páginas e grupos locais no mesmo espaço, algumas delas com mais de cem mil fãs declarados; mais de 200.000 seguidores no Twitter; os seus apoiantes, devidamente organizados, lançaram 150 mil acções de campanha na net; mais de 35 mil comunidades de interesses comuns criadas em volta da sua candidatura naquilo que foi uma aposta declarada na força das redes sociais; um site oficial onde estavam algumas ideias mas que foi desenhado essencialmente a pensar na recolha de fundos (com um sucesso a ultrapassar as melhores previsões), e também na recolha de voluntários, gente a quem depois se atribuiam cuidadosamente acções de campanha que poderiam ser desenvolvidas a partir de casa, sem necessidade de companhia ou de maior compromisso; utilização do YouTube a atingir números incríveis - estou pessoalmente convencido de que qualquer vídeo aí colocado e minimamente divulgado é muito mais visto do que qualquer tempo de antena televisivo que ainda para mais custa uma pequena fortuna... -, fechando o mini-elenco com uma espécie de marketing viral no envio de correio electrónico. Alguns voluntários chegaram mesmo a desenvolver pequenas aplicações para utilização específica em produtos Apple como o iPhone e o êxito é aquele que se conhece. No fundo, a receita é a mais simples que se pode conceber: concentrar energias no que interessa - e o que interessa é chegar às pessoas de forma simples, directa e eficaz."

2 Comments:

At 12:59 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Que a internet teve um papel decisivo na vitória de Obama, não resta a mais pequena dúvida. Se já não estava tudo pensado com 4 anos de antecedência - em que ela foi sàbiamente aproveitada como seu espectacular e decisivo motor d'arranque - para ser precisamente ele o candidato a chegar onde chegou 4 anos depois, é o que se pergunta. Mas isto já é outra história, que entra no processo (secreto) organizativo das democracias ocidentais e no domínio da psicologia das multidões, de que as eleições norte-americanas são o seu máximo paradigma.

A eleição de Obama como presidente, fez bem aos Estados Unidos e ao mundo, mesmo que só psicològicamente como será o caso, porque a política que ele irá empreender não será de sua exclusiva autoria, nem poderia ser. Mas esta escolha e sobretudo o modo como ela foi lançada (com o sucesso esperado) através da internet imediatamente antes do início da campanha, foi pensada com anterioridade por quem está por detrás da política e dos políticos norte-americanos e que não são outros senão aqueles a quem TODOS os candidatos tiveram que ir prestar vassalagem e concordar d'antemão com o rumo político a seguir - ou não teríam passado da estaca zero. Todo o seu discurso desde o primeiro minuto foi o de um vencedor antecipado. E Obama sabia-o desde há 4 anos e desempenhou lindamente o papel que lhe estava reservado. Tal como ele deu a entender no "60 Minutos", embora referindo-se (aparentemente) a outro assunto... "I'm not stupid, you know?" E de facto não tem nada ar de o ser.
Toda a gente, tanto nos E.U. como no resto do mundo, gostou da sua postura logo que ele começou a aparecer nas televisões e quem o escolheu sabia-o. Eu não fugi à regra, embora não dê grande importância àquelas eleições ou a quaisquer outras, incluíndo as nossas, porque tanto lá como cá os resultados são forjados. Estava ali alguém que apesar de tudo era diferente, prendia a atenção e suscitava alguma curiosidade. Escrevi num comentário, logo no início da campanha, dizendo que ele seria quase de certeza o eleito - não que Hillary não o pudesse ter sido e certamente sê-lo-á mais tarde ou mais cedo, ela também prestou vassalagem, além de que a querem compensar pela "traição" que fizeram ao marido, motivo porque não se terá divorciado com vista ao seu futuro - e as razões pelas quais seria estavam à vista. E foi. 'Naquela' altura da política mundial Obama era (e é) "o" candidato necessário e urgente por todos os motivos e mais algum - com todos os outros escolhidos a dedo para não o ofuscarem, antes fazerem sobressair a sua surpreendente juventude, faro político, brilhantismo oratório e savoir être. E o resto do mundo, não sem alguma surpresa, a acolhê-lo de braços abertos.

Devo dizer que apreciei a postura de Obama durante a campanha, como pessoa e como político. É elegante, tem bom aspecto, é inteligente, foi correcto nas atitudes e nas palavras, tem carisma, pareceu sincero, tem uma maneira de ser (nota-se) humilde e despretenciosa, falou/fala com elevação e em bom inglês a que se junta um tom de voz bonito e uma dicção perfeita - todas estas qualidades indispensáveis num político e que distinguem um vencedor à partida.
Tenha ou não sido escolhido com antecedência (e foi-o) para ocupar aquele dificílimo cargo e parafraseando um amigo nosso, seu compatriota, "que Deus o ajude... eu é que não gostava nada de estar no lugar dele...".
Pra já parece ser a pessoa certa no lugar adequado. Pra já. Mas não é bom colocar demasiadas esperanças em Obama. E mais, caso não venha a preencher sequer 1/3 das espectativas que o mundo depositou nele a culpa não lhe deverá ser assacada. Poderá infectir um pouco a política seguida pelo anterior presidente (como obrigatòriamente terá de o fazer, para isso foi eleito) de modo a agradar àqueles que àvidamente aguardam uma mudança com os olhos postos em si, mas pouco mais poderá fazer porque ele não manda, limita-se a obedecer.

Quanto à internet, mil por cento d'acordo com as suas enormes potencialidades para eleger quem nós
quisermos... dentro das escolhas a que estamos limitados, acentue-se. Quem não a aproveitar deixará escapar uma ferramenta inestimável, de que nunca dispusemos em anteriores eleições e até hoje. Quanto melhor organizada estiver uma campanha política, principalmente e agora socorrendo-se da extraordinária ajuda que advém da internet, tanto maior será a sua hipótese de vitória. Isto se os partidos da direita a souberem aproveitar convenientemente, porque os da esquerda sabê-lo-ão de certeza absoluta. Salvaguardando o facto real - e ainda que não tenhamos alcançado a "perfeição e subtileza" diabólicas das campanhas norte-americanas, ou será que já as igualamos? - de que todos os eleitos, partidos e presidentes, são quem o sistema quer que sejam e não quem o povo desejaria que fossem. Pelo menos é o que temos visto acontecer por cá há mais de três décadas e não obstante continuamos a acreditar nas suas virtualidades... Por alguma razão vivemos em "democracia" e não noutro regime qualquer: precisamente para que 'julguemos' que somos nós, eleitores, quem em "perfeita liberdade e consciência" elege os políticos e a política do país. Na realidade não fomos, não somos nem nunca seremos. Em Portugal ou em qualquer outro país do mundo.

Mas quem sabe se não será de facto a fantástica e por enquanto livre internet - que os donos do mundo ainda não conseguirem subverter nem dominar totalmente, embora o tentem desesperadamente desde que ela apareceu por verem o poder mundial a fugir-lhes por entre os dedos - que, sem interferências de qualquer espécie, irá revolucionar de um modo positivo e irreversível o processo eleitoral nas "democracias"? É bem capaz. Caso isso se venha a verificar poder-se-á finalmente dizer que a maioria do povo de cada um desses países é quem livre e democràticamente escolhe e elege os seus políticos e a sua política. Só e então.
Maria

 
At 7:33 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Ao ler esta mensagem, lembrei-me de uma outra que você aqui inseriu há pouco tempo: http://viriatos.blogspot.com/2009/01/as-eleies-europeias.html
Antes de mais, as pessoas de bem que restam na espelunca em que Portugal se transformou vai fazer 35 anos em Abril têm de acordar e acreditar que é possível remar contra a maré. Isso é o mais difícil. Feito isso, a Net, devidamente utilizada, daria uma belíssima ajuda, sobretudo àqueles que são boicotados pelas televisões e outros instrumentos do regime.
V.

 

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