Moralismo e hipocrisia
Não sei se já terão reparado nos curiosos hábitos linguísticos que a esquerda usa, e generalizou, em relação a certas situações da vida doméstica. Por exemplo, estou a pensar no facto notório de os alinhados no lado certo da história nunca terem amantes. Um esquerdista, seja ele anónimo e humilde ou seja o mais destacado líder da humanidade progressista, tem em geral uma companheira. Ou mais. Como o camarada Lenine, ou o camarada Cunhal. Já um reaccionário qualquer, ou os mais tenebrosos vultos da mais tenebrosa reacção, não têm direito a ter companheira, nem uma simples namorada. Têm sempre amantes. E não se pode dizer isto de modo neutro e indiferente, tem que dizer-se sempre amantes com um acento condenatório, um esgar de reprovação na voz. Por exemplo, ao falar de Hitler tem que referir-se que no final se suicidou juntamente com a sua amante, Eva Braun (nem interessa se os dois se casaram, fosse ou não no intuito, pouco conseguido, de calar as más-línguas). E se mencionarmos Mussolini tem que dizer-se que morreu na companhia da sua amante, Clara Petacci. Ao pronunciar a expressão infamante o olhar tem que ser de abominação, como uma velha beata de província, daquelas de muito antigamente.
Já para contar a história de Humberto Delgado, nos panegíricos periódicos que passam nos jornais e nas televisões (também passou à condição de herói da esquerda, devido aos muitos disparates que fez na fase final da sua vida), qualquer locutor enche a voz para nos informar que foi assassinado juntamente com a sua secretária, Arajarir Campos. Nem interessa a posição da viúva.
Já para contar a história de Humberto Delgado, nos panegíricos periódicos que passam nos jornais e nas televisões (também passou à condição de herói da esquerda, devido aos muitos disparates que fez na fase final da sua vida), qualquer locutor enche a voz para nos informar que foi assassinado juntamente com a sua secretária, Arajarir Campos. Nem interessa a posição da viúva.
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