sexta-feira, março 20, 2009

Um culto verdadeiramente nacional

A crer num livro agora lançado pela Bertrand, o Dr. Salazar afinal era maçon. Eu estou em condições de asseverar que, além disso, o homem era comunista. Disfarçava era tão bem, tão bem que conseguiu enganar-nos a todos durante uma eternidade - até mesmo aos comunistas e aos maçons.
A notícia tem perigos inesperados para os anti-salazaristas mais zelosos: corre-se o risco de se universalizar a veneração dedicada a Salazar. Agora já não será, obviamente, restrita às camadas mais afectadas pelo obscurantismo fascista. O culto pode legitimamente ser partilhado pelos mais iluminados e progressivos sectores da nossa sociedade. Uns continuarão a admirá-lo pelo que ele foi às claras, aberta e declaradamente; e os outros podem passar a admirá-lo pelo que ele, afinal, era às escondidas, no segredo e no escuro das lojas, no silêncio da clandestinidade.
Os que sempre o admiraram pelo que ele publicamente foi continuarão a homenageá-lo, em romagens a Santa Comba Dão, em jantares evocativos ou em petições para dar à Ponte o nome que lhe pertence.
E os que agora ficam obrigados a prestar-lhe homenagem terão que render tributo ao que ele sofridamente foi no fundo do seu coração, com sessões solenes no Grande Oriente Lusitano e palestras e exposições na Festa do Ávante.
Resta-me ainda uma desconfiança: suspeito que ele além de tudo o mais também se dedicava ao espiritismo. Era um fiel seguidor do Alain Kardec! Torna-se urgente esclarecer mais este facto, para que não continue encoberto esse importante aspecto da vida do eminente estadista. A partir daí, a Sociedade Espírita não mais hesitará em patrocinar de igual modo o consenso nacional à volta de tão excelsa personalidade.
Teremos então, generalizadamente por todo o país, Salazar a ser ouvido por atento auditório, rodeando, na obscuridade, velhas mesas de pé de galo; e em Lisboa, no Campo de Santana, não tardará muito a ser erguida estátua apropriada, a rivalizar com a do Dr. Sousa Martins. Contem comigo para a subscrição pública, e não faltarei com uma velinha por semana.

5 Comments:

At 7:25 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Marechal Óscar Fragoso Carmona (Presidente da República)

Ministérios do Interior

Ministérios do Ultramar

...
A ingenuidade é espantosa.

 
At 12:46 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Proposto pelo maçon Bissaya Barreto, Salazar foi iniciado na Loja Revolta n.º 336, em Coimbra, no ano de 1914, adoptando o nome simbólico de Pombal (cf. os registos da referida Loja). Refira-se que esta Loja maçónica nunca «abateu colunas» (ou seja, nunca fechou), tendo continuado a sua actividade ininterruptamente durante o período da Ditadura e do Estado Novo até o dia de hoje.

 
At 8:33 da tarde, Anonymous Anónimo said...

O Estado Novo era uma espécie de governo de unidade nacional da altura. Logo é natural que tivesse republicanos e monárquicos. Se esses republicanos eram maçons ou não, isso não se sabia, porque a pertença à Maçonaria é algo que os maçons mantêm secreto. Acredito que Salazar, tal como Sidónio Pais, possa ter sido abordado pela Maçonaria e tenha até ido a reuniões, mas o seu modus operandi antes e depois disso mostra que era anti-maçon. Depois, é fácil pegar nas muitas centenas de discursos que Salazar proferiu e ver lá "referências veladas" aos ideais maçónicos... como seria fácil ver lá "referências veladas" aos ideais comunistas quando fala da justiça na distribuição da riqueza (esquecendo-nos assim do mais óbvio, que é o facto de estas ideias carácter mais "socializante" lhe terem surgido através da sua crença na Doutrina Social da Igreja). Basta QUERERMOS OBSTINADAMENTE VÊ-LOS e esses sinais todos estão lá. Mas... se Salazar era maçon, porque fechou as lojas maçónicas? Porque promoveu o catolicismo? Para mim, O VERDADEIRO INGÉNUO É O QUE VÊ APENAS AQUILO QUE QUER OBSTINADAMENTE VER.

 
At 9:31 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Relativamente ao Estado Novo, indique-se pelo menos um Presidente da República, um Presidente da Assembleia Nacional, um Presidente da União Nacional, Um comandante de qualquer dos Ramos das Forças Armadas, um governador de qualquer das pronvíncias ultramarinas, um Procurador-Geral da República, um presidente do Supremo Tribunal de Justiça, um Presidente do Supremo Tribunal Administrativos, um Presidentes do Tribunal da Relação, um governador civil, um director-geral de qualquer ministério, um director de qualquer força polícial (incluindo a PIDE/DGS), um director da RTP, um director da Emissora Nacional, um director de qualquer teatro, um apresentador do programa Zip-Zip que não fosse maçon.

 
At 9:07 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Parece que os leitores apreciaram o livro em causa, pois estava na montra da Livraria Bertrand do Centro Comercial Colombo, já em 2.ª edição, o que significa que a 1.ª edição se esgotou em poucos meses.

 

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