quarta-feira, abril 01, 2009

A direita portuguesa sofre de síndrome de Estocolmo

Encontrei a explicação científica para um fenómeno comportamental que me intrigava há muitos anos.
Tenho até esperanças que a descoberta me possa valer o justo reconhecimento que incompreensivelmente me tem faltado entre a multidão dos sociólogos e dos psicólogos behaviouristas que entre nós dominam estas matérias.
Com efeito, e esta é a verdade que faltava para compreender o comportamento da direita em Portugal nas últimas décadas, a direita portuguesa foi afectada pelo síndrome de Estocolmo.
Sabem os leitores que por esta designação ficou conhecido um estado psicológico particular, uma doença, que normalmente surge em situações de sequestro: a vítima vai-se identificando com o seu captor, a princípio emocionalmente, como reacção ou mecanismo de defesa, por medo de retaliação ou de violência, mas pouco a pouco essa identificação vai evoluindo, até se traduzir na preocupação de conquistar a todo o custo a simpatia ou a benevolência dos captores, e mesmo numa identificação afectiva e emocional que leva a encarar qualquer ameaça aos sequestradores como uma ameaça às próprias vítimas, e que se prolonga por vezes até na defesa deles mesmo quando já desapareceu a situação objectiva de sequestro.
Em casos extremos, a identificação vai ao ponto de a vítima se passar, totalmente, para o lado dos captores, passando a partilhar as suas causas, os seus amigos e os seus inimigos.
Em Portugal, a direita foi capturada pela esquerda há já umas décadas. Mantém-se refém desde então, ao menos em espírito - e nunca mais se viu livre do síndrome de Estocolmo.
(O Prof. Freitas do Amaral é uma espécie de Patty Hearst lusitana).
O mal é geral. Os leitores nunca repararam na ansiedade com que qualquer jovem político direitista de elevado potencial se espoja aos pés de qualquer jarreta com estatuto e credenciais de esquerdismo - só para obter dele um gesto de condescendência, um atestadozinho que diga, vá lá, que também ele é um rapaz de ideias modernas e descomplexadas, ainda que com a mácula original de vir da direita? E com que regozijo qualquer escrevinhador, jornaleiro ou blogueiro, dos viveiros da direita, recebe a certificação do esquerdista de serviço - um carimbo que diga que se porta bem, que é culto, inteligente, tem talento!!!
Sempre e sempre o respeitinho, a veneração, ou o temor reverencial.
Sim, que nessas coisas, de cultura, ideias, causas, história ou sociedade, a esquerda é que sabe e só a esquerda é que passa diplomas!
Não há menina da boa sociedade burguesa que não ache as maminhas bem empregadas para exibir a carantonha assassina do Che Guevara. E não há rapaz de boas famílias que não ache avançado, arejado, natural, evidente, que os homossexuais devem ter todos os direitos iguais aos dos "outros" ( - sei lá, cada um leva no que é seu e ninguém tem nada com isso...)
Sim, a direita portuguesa sofre do síndrome de Estocolmo.
Assusta-se com qualquer perspectiva de libertação. Acabou por acomodar-se ao que dizia detestar, e agora ama o que em tempos repudiava. Na verdade, não quer mudar nada. Por vezes ainda verbaliza a rejeição do que está, mas recusa com horror qualquer movimento de insubmissão, qualquer sugestão de combate.
Proclamava valores, e afundou-se no mundanismo fútil ou na rotina cúmplice e envergonhada. No fundo, sente-se bem assim. É a doença.

9 Comments:

At 9:48 da tarde, Anonymous Afonso Miguel said...

Muito bem visto. Grande texto!

Abraço

 
At 10:00 da tarde, Blogger harms said...

Doença e degenerativa, ainda por cima. Já não há futuro para esta gente (ideológico, que do outro já devem ter tratado), de qualquer forma. Isto também, num ambiente pacato e familiar como o nosso, o que é que se há-de fazer? Até o cosmopolitismo da nossa esquerda é a coisa mais provinciana que pode haver. Como não poderia ser ainda mais triste a direitinha que lhe anda associada? Felizmente vão-se entretendo a escrever umas coisas nos órgãos de referência, geralmente com muita erudição e q.b de referências a autores anglo-saxónicos. Porque a direitinha quer-se liberal. Nada de continentalismos de outrora, com cheiro a mofo e suspeições fascizantes. O futuro é o eixo euro-atlântico, e se o PP cair nos braços do PS a coisa vai para a frente e aí sim, tudo será muito moderno e as crónicas do dr. Mexia (reverência) ainda mais deliciosas.

 
At 1:15 da manhã, Anonymous Filipe Batista e Silva said...

Essa "direita" que descreve, tomada pelo síndrome de Estocolmo, já não é direita. E talvez nunca tenha sido. Em Portugal não há direita. Há indivíduos de direita e, quando muito, grupelhos de direita. Infelizmente é assim.

 
At 9:18 da manhã, Anonymous Skedsen said...

Mas o problema não fica por aí,os esquerdistas acham-se os percussores do modernismo,consideram-se os verdadeiros defensores da democracia e dos povos,quando na realidade e em virtude das suas acções e pensamentos são os coveiros dessa mesma democracia e são ao mesmo tempo os destruidores do ideal humano.Mas não vale a pena perder tempo com essa gente,para eles pedra há-de ser madeira e ferro há-de ser plástico,porque a perversão travestida de direitos humanos não permite elevarem-se acima da mediocridade e não conseguem ver para além do veú que lhes tapa as formas!

 
At 11:32 da manhã, Anonymous nacionalista e cidadão exemplar said...

qual foi o segredo da Front National, em conseguir agregar à volta do Le Pen, várias tendências antagonicas de "extrema-direita"?
e o mesmo se está passar (agora) em Itália com a formação de uma Aliança Nacional

uma das respostas será maturidade e civismo dos Nacionalistas, mas haverá mais.....

 
At 4:48 da tarde, Blogger Miguel Vaz said...

Grande postal!
Obrigado pelas referências. Forte abraço!

Filipe, folgo em saber que continuas a rondar por aqui ;)

 
At 7:07 da tarde, Blogger Humberto Nuno de Oliveira said...

Um abraço e parabéns pela excelente abordagem

 
At 9:40 da tarde, Blogger Francisco Múrias said...

Do que a Direita portuguesa sofre é de disfunção erectil.
Falta de tomates como se costuma dizer

 
At 5:48 da manhã, Anonymous Anónimo said...

eu sou um observador externo, mas não percebo como é que pessoas como o Manuel (e outros) acham tão importante defender a 'direita' que os 'lixou' durante todo este tempo. Preferiria pensar que esta gente - BOS, HNO, JPC, MA - pensava em termos de uma política diferente, ora tradicional ora revolucionária. Isso de defender a direita, ó Manuel, já não é moda nem anti-moda: é erro.
Veja lá mas é se abre os olhos (se você não abrir não sei quem há-de fazê-lo) para perceber que há mais mundo para além desse retrocesso bacoco que defende, desse miguelismo vade-retro. Ó homem, a direita - se ainda existe - há-de ser outra coisa.
E nós, todos nós, precisamos dela.


PS - Quanto a mim só existe um homem de direita neste país. Chama-se Bruno de Oliveira Santos. Há uns rapazes com algum futuro, também, como o Duarte Branquinho. Estão à espera de quê para se definirem?

 

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