sexta-feira, maio 15, 2009

Desertai do sono que vos prende

Como escrevia um querido Amigo, há muitos anos, com um acerto que hoje fere, "o conservador lembra comida de conserva, enlatada; e intoxica."
Que quereis vós conservar? Que temos nós para conservar? Da conservação do que está, sabemos bem o que se pode esperar; a mudança, ao menos, abre uma porta à esperança - da alteração das coisas é que nasce todo o porvir.
Evidentemente que "não se trata de defender uma atitude de pura destruição, nem de anarquismo, nem de futurismo desgarrado, nem de progressismo utópico"... mas é certamente, firmemente, uma atitude de frontal rejeição, de radical inconformismo.
Longe, decididamente longe, do conservadorismo resignado, que em nome do realismo aceita hoje o que recusava ontem, e irá aceitar amanhã o que rejeita hoje, caminhando de mal menor em mal menor até aos mais fundos abismos do mal.
Agora como sempre, "a direita conservadora quer a tranquilidade e a segurança — e para isso venderá a alma ao diabo e acabará enterrando na adega quantos ideais houver. Não admite é sobressaltos, violências, extremismos." Arrepia-se e protesta se blasfemam contra Deus, se nos desfazem a Pátria, se atacam a Família, se destroem todos os equilíbrios sociais num lodaçal de corrupção, de desordem, de imoralidade? Sim, "mas se a coisa vier docemente, empantufada, com flores e por aliciantes arroios — com boas maneiras, sim! —, já o caso muda de figura. A direita conservadora fica a escutar violinos, ao canto da lareira, a ver televisão ou ronronando, tolera, fecha os olhos, abranda, deglute o bolo às migalhas e acaba por ser habituar. Sobressaltos, violências, extremismos é que não!"
Assim vivemos as últimas décadas em Portugal; desfeito que foi o sobressalto do PREC, passados uns fugazes sustos com os acessos esquizofrénicos da esquerda vasconça, veio a esquerda burguesa e cordata - e a direita sossegou, permitindo tudo o que nos quiseram fazer.
Alguém quis reagir? Oh, sim, claro, mas... "o espírito e o ideal são precisos e bons; mas não exageremos, nem vamos perder o sossego e o bem estar, em aventuras, perigos e aflições, por causa das ideias, de espiritualismos e quejandos enxoframentos de adolescente cabeça ardorosa"...
Neste caminho, sempre a descer, chegámos onde estamos.
E a direita conservadora, como está? Como sempre esteve: centrista, sempre centrista, irremediavelmente centrista, vogando beatamente ao sabor dos ventos da História, sem se importar de deslizar para qualquer banda, desde que seja sem sobressaltos, sem prejuízos materiais e sem violências...
Ah, querido Amigo, como tu tinhas razão!

3 Comments:

At 1:47 da manhã, Blogger Francisco Múrias said...

Meu caro Manuel Azinhal
Conservar e defender têm, na minha opinião, o mesmo significado em política. Se queremos defender é porque queremos conservar.
Só se conserva o que está e só se defende o que se tem.Defender aquilo que se não tem faz tanto sentido como conservar o que se não tem.

Conservar o que há defendendo o que temos parece-me uma atitude ajuizada.

Defender o que não temos é querer conservar o que não está.

 
At 2:43 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Os meus parabéns. Brilhante escrito e não menos brilhantes citações.

"... esquerda burguesa e cordata", permita-me que acrescente "cìnicamente burguesa e cordata", aguardando pacientemente o momento óptimo para avançar e finalmente impor o regime que lhe está na génese. Só e então mostraria/mostrará aos portugueses a sua verdadeira face: uma ditadura comunista na sua cruel realidade. Até lá vai-se mascarando de burguesa e cordata... (mas não totalmente, há sempre umas pontas denunciadoras do ódio, da intolerância e do absoluto desprezo pelo outro, nela sempre latentes) tal como lhe foi ensinado na cartilha. Praxis que lhe foi inoculada.
Maria

 
At 11:59 da tarde, Blogger Francisco Múrias said...

Não sei porquê mas parecer-me do meu Pai este texto.
Um texto de desanimo com as forças, inertes e moribundas, que nos rodeiam que vão de capitualação em capitulação em direcção à derrota final. E depois ficam muito admirados!!!
Não conservam nem defendem o que têm.

Veja-se a distribuição de preservativos nas escolas .

O que é que interessa?
O que interessa é pegar no que o povo gosta. Pegar nas primeiras paginas do Correio da Manhã, nos desacatos de dez pretinhos do bairro da boavista,bandidos sem categoria, miseráveis sem eira nem beira, ( que se revoltaram contra isto,revoltaram-se porque um policia matou um ladrão, mas revoltaram-se, com ou sem razão, revoltaram-se, fizeram aquilo que a nossa juventude burguesa e bem comportada não faz, têm aquilo que a nossa juventude burguesa e bem comportada não tem: TOMATES) e explicar ao bom povo que estamos na Bósnia.
O que interessa são votos, alcançar o poder,este poder que dá ao politico a ideia de que é igual a Deus,de que é Deus que pode fazer o que quer porque tem o poder para isso.

Vamos acabar com o mal : mudar o clima,acabar com as doenças, com a imigração e com a emigração, com as trovoadas e os tremores de terra, com os asteroides e com as casas de banho sujas, havemos de acabar com o mal por decreto
Por decreto havemos de proibir a morte.

Podemos tudo somos Deus.Basta-nos um papel e uma caneta BIC . E temos decreto Uma catrapazia de funcionários publicos obedientes e diligentes e havemos de vencer.

 

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