quinta-feira, junho 25, 2009

Histórias de monárquicos (e não só)

Corre nos círculos mais selectos da internet, animada por elementos da "real associação" de Lisboa, uma petição dirigida aos responsáveis da lista concorrente às próximas eleições municipais de Lisboa que tem à cabeça o Dr. Pedro Santana Lopes.
Apresentam-se os peticionários perante Suas Excelências (vénia...), em estado de comoção extrema e por entre tremeliques de virtuosa indignação, para protestar contra a eventual inclusão do PPM/Câmara Pereira nas listas que têm à frente o Dr. Santana, e onde alinharão naturalmente as gentes do PSD, do CDS e outros companheiros de caminho.
Declaram eles, chorosos e implorantes, que os monárquicos não podem suportar uma tal afronta; Câmara Pereira ofende os monárquicos, é um ultraje aos monárquicos; e que a concretizar-se um semelhante despautério (a renovação do contrato que levou Câmara Pereira ao parlamento, à boleia de Santana) eles monárquicos terão que passar pelo supremo desgosto de não poder votar na lista do Dr. Santana, o que nunca lhes tinha passado pelas excelentíssimas cabeças, nem de certeza passaria, nem sequer como uma remotíssima possibilidade... estão que nem podem, os monárquicos, ainda lhes dá uma coisa, com isso do Câmara Pereira...
Eu confesso que não me afligem nada os desgostos dos monárquicos, nem me interessam as peripécias santaneiras, nem a carreira do artista. Mas esta cena é de arromba: aos monárquicos o que incomoda é o PPM/Câmara Pereira; isso é que não se pode admitir (são os princípios, os princípios!!!). Fora isso, Santana é perfeito. Afaste o fadista infame e a perfeição será completa. Pusesse ele um emblemazinha com uma coroa dourada sobre a lapela azul e todos os monárquicos afixariam o retrato dele em lugar de honra na mais nobre das paredes de seus lares (alguns creio que acrescentariam também a Cinha Jardim, que também é muito distinta, apesar das crónicas sociais há muito terem encerrado esse folhetim).
Seria difícil encontrar melhor demonstração do vazio completo a que chegou a "causa monárquica" em Portugal. Não há ali uma ideia (e há horror a quem as tenha).
(Desconfio que o Rui Albuquerque chegou tarde demais à monarquia...)
Tenho que confessar, a este respeito, que há muitos "direitistas", e especificamente "nacionalistas", que são muito parecidos aos descritos monárquicos: apareça alguém a mexer-se em nome de uma qualquer pretensão direitista, ou "nacional", e surgem eles de todos os lados, interrompendo a sua natural placidez, de dedinho espetado e em fenomenal gritaria, a detectar impurezas, a apontar heresias, a rugir de indignação... reposta a calma, posto um fim à afronta (foram salvos os princípios, senhores!), voltam todos ao remanso de onde saíram e quando chamados lá irão serena e ordeiramente votar no PSD ou no CDS, como a Pátria exige.

5 Comments:

At 1:11 da tarde, Anonymous Anónimo said...

3 mensagens abaixo fala-se no "ocaso do sexo dos anjos". Depois, o Manuel Azinhal brinda-nos com mais um dos certeiros textos a que nos habituou.
É o "ocaso" mais brilhante a que já assisti.

Zé da Lezíria

 
At 2:23 da tarde, Blogger Manuel said...

Talvez seja a sabedoria, que chega ao entardecer.
O pássaro de Minerva levanta voo quando o dia chega ao fim...
Mas não se iluda. Por mais belo que seja o ocaso, é mesmo o Sol a pôr-se.
Seja como for: agradeço, lisongeado.

 
At 1:42 da tarde, Blogger Jose Tomaz Mello Breyner said...

Caro Manuel Azinhal
Sou eu o autor da petição a que refere este seu texto. Apenas gostava de lhe dizer que não me envergonho de a ter lançado, pois fui ensinado de criança a ter “coluna vertebral” e uma só palavra.
Claro está que a minha petição foi lançada na minha qualidade de Monarquico e claro está que a minha petição não é contra o Dr Paulo Portas, nem contra o Dr Santana Lopes, nem contra o Dr Pedro Quartim Graça, mas unicamente contra o facto dos partidos dos quais são lideres, se terem coligado para fins eleitorais com um partido cujo lider não tem o menor respeito pela figura de SAR O Senhor Dom Duarte, que para nós Monarquicos Portugueses é a pessoa em quem depositamos as nossas esperanças, e quem esperamos que um dia, se os Portugueses assim o quiserem, seja o nosso Chefe de Estado.
Se O Senhor Manuel Azinhal não consegue distinguir entre regime e governo, se não consegue compreender que nós Monaqruicos somos também Portugueses e como tal temos cada um de as nossas opções politicas individuais, pois tenho pena, mas nada posso fazer por si a não ser tentar esclarecê-lo.

Cumprimentos

José Tomaz de Mello Breyner

 
At 1:37 da manhã, Blogger Manuel said...

Que comentário tão republicano, José Tomaz...

 
At 6:58 da tarde, Blogger Jose Tomaz Mello Breyner said...

Acha Manuel?

 

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