Esquerda e Direita: duas atitudes
Observando os grupos políticos da esquerda revolucionária e paralelamente os grupos que nos seus antípodas evoluem, a que podemos chamar de direita revolucionária (usando aqui os termos por mero comodismo taxonómico, sem qualquer preocupação de rigor), com frequência detectamos duas atitudes mentais bem distintas no que se refere ao seu relacionamento com o meio exterior envolvente. Os da esquerda vivem numa permanente necessidade expansiva. Os grupos e militantes típicos, mesmo que internamente assumam características de seita, estão sempre virados para o exterior, procuram incessantemente conquistar, conquistar espaços, gentes e território, e para isso tentam doutrinar, argumentar, convencer, seduzir, atrair – ocupar a sociedade para além das suas fronteiras. Como são habitados por uma visão total do mundo e da vida, nada lhes é estranho, e nenhum terreno lhes é alheio. Estão sempre presentes, a todo o momento e em toda a parte. A bem dizer, a esquerda sente-se incomodada pela sensação de que há vida fora dos seus domínios. Todos os que estão de fora lhe fazem falta. Todos são potenciais aderentes, a converter pela missionação ou quiçá por métodos mais impressivos. O proselitismo é a sua natureza. Sendo as sociedades modernas dependentes da opinião pública e mediatizadas até ao paroxismo, essa sua atitude faz com que a esquerda parta sempre em vantagem no combate político. Em tempos normais, a tendência será para que esses grupos e ideias cresçam em adesões e simpatias. Só não acontece assim quando a realidade se encarrega de lhes ensombrar a narrativa, e descredibilizar o discurso. Inversamente, os grupos que acima foram designados como direita revolucionária vivem em geral virados para dentro, para si próprios. Vivem intensamente as suas certezas, e confortam-se com a realidade que as confirma, como geralmente acontece, tarde demais. Basta-lhes ter razão, e pouco lhes importa que ela tenha o reconhecimento geral. Desprezam o exterior, o meio envolvente, e não se cansam de manifestar esse desprezo. Os que estão de fora são culpados de viver no erro, e mais não merecem. Como se ouve dizer muitas vezes nesses agrupamentos, só faz falta quem está. Ou, por outras palavras, poucos mas bons. O seu relacionamento com o exterior, mesmo com os mais próximos, é com frequência marcado pelo antagonismo, pela crispação, pela hostilização. Quem está de fora não conta. Há um acentuado tribalismo: nas leituras, nos convívios, nas actividades, vive-se centrado nos nossos, nos fiéis, nos que já são. Não é difícil compreender assim que em regra esses grupos não possuam qualquer virtualidade de expansão, nem consigam criar empatias no vulgo. Embora frequentemente habitados por militantes generosos e sacrificados, por vezes em dimensão heróica, a verdade é que se limitam a permanecer, enquanto não se vão desfazendo por cansaço de uns e desilusão de outros, ou pela sensação de inutilidade de muitos. Crescer é que não crescem, a não ser quando o momento histórico de excepção lhes traz vento favorável. Mas por si mesmos falta-lhes o ímpeto, a vontade, o gosto da conquista de outros públicos e outros terrenos. Pelo contrário, o que se encontra não poucas vezes é o horror instintivo a tudo o que se situa fora do círculo de conforto rigidamente demarcado – nada de misturas, como também se chega a ouvir. Dito isto, não surpreende a conclusão. Quanto mais não fosse pelas duas atitudes psicológicas opostas sumariamente descritas, é indubitável a superioridade metodológica da esquerda no confronto que se trava pela captação da opinião e das multidões, primacialmente localizado no campo mediático, o que diminui seriamente a direita nos combates políticos que vão surgindo (sempre determinados pela agenda adversária).
3 Comments:
Será que ainda lê os comentários? Não tenho vindo aqui lê-lo há já bastante tempo por pensar que já não abordava a política, filosofia e outros assuntos importantes sobretudo no que ao nosso país dizem repeito e pelo contrário sòmente promovia debates, conferências, manifestações, etc. Pelo visto enganei-me. Gostei muito desta sua última reflexão sobre a esquerda e a direita revolucionárias e os valores que motivam cada uma delas. Não podia estar mais correcto.
Parabéns. Tenho que vir aqui mais vezes:)
Maria
O seu post é antigo. Li-o agora. Como a anterior comentadora, já não sou tão assíduo, não por culpa sua mas porque os anos e o tempo não dão tréguas.
A verdade é que a esquerda tem as costas aquecidas pela elite globalista que a sustenta; a esquerda é paga. A direita é a resistência e a sua frente de combate é imensa. Portanto, não há simetria. Os combatentes da direita são sempre os mesmos, os da esquerda renovam-se e são bem alimentados. Milagre é não terem ganho a batalha, ainda. Os resistentes, os de direira, mesmo assim, vão encontrando eco. Só que os paisanos que com eles simpatizam, honestos, têm de trabalhar e sobra-lhes pouco tempo e energia para participar na luta de modo continuado. Pelo contrário, os de esquerda estão arregimentados, usufruem de uma situação cómoda (propiciada pelos camaradas).
E claro, o simplismo da esquerda, baseado na inveja e no ódio, é mais atractivo das almas primárias que o ideário da direita. A esquerda promete o saque, a direita nada promete senão a liberdade do esforço e o prémio da responsabilidade.
Como ironiza o ditado: "para baixo todos os santos ajudam."
Um grande abraço do
http://libertario-e-nacionalista.blogspot.pt/
O blogue pode não se movimentado quando se trata de comentários,mas seu acervo é sem dúvida,de grande valor.
Igor-Piauí,Brasil
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